Dubai brasileira: por que Balneário Camboriú é a meca nacional dos carrões
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é famosa no mundo todo por sua riqueza, que inclui uma quantidade impressionante de carros exóticos caríssimos
No Brasil, a cidade que mais se aproxima de Dubai é Balneário Camboriú, no litoral norte catarinense: lá, automóveis de luxo raros e milionários flagrados diariamente nas ruas abastecem uma enxurrada de publicações nas redes sociais.
Balneário Camboriú é o município catarinense que mais chama a atenção nesse aspecto, mas outras cidades do estado também se destacam pelo alto padrão de renda, que é espelhado em vários segmentos, do imobiliário ao automotivo.
Um exemplo de tamanha ostentação de Balneário, que tem dado o que falar nas últimas semanas, é a primeira Tesla Cybertruck de que se tem notícia no Brasil - proveniente dos Estados Unidos via importação independente, a picape elétrica da montadora de Elon Musk desembarcou na "Dubai brasileira" e hoje está rodando em São Paulo com o funkeiro Danielzinho Grau.
A concentração de carrões tem várias explicações. Conversamos com Luis Valério, gestor de marketing da Miami Imports, empresa que importou a Cybertruck e tem sede em Balneário Camboriú, para sabermos mais sobre as peculiaridades do mercado catarinense.
De acordo com o executivo, o movimento de pessoas que tinham o estado como segunda residência entrou em uma fase, em que elas mudaram para a própria região, passando a consumir esses tipos de veículos.
"Aqui você vê cada vez mais Ferraris passeando nas ruas Corvette, Hummer. Porsche, então, viraram carros normais aqui. Em qual outro lugar do Brasil você poderia ver isso?", afirma Luis.
A questão da segurança é algo vital. Os índices de criminalidade de Santa Catarina são relativamente baixos e, para melhorar, eles estão em queda, segundo a Secretaria estadual de Segurança Pública - de acordo com o governo catarinense, o número de roubos e furtos de veículos diminuiu em 11,5% em 2023 no estado.
"Eu me sinto mais tranquilo de rodar por aqui do que na minha cidade, o Rio de Janeiro. Eu nem levo mais o carro para fora do estado, ele fica lá. É mais seguro de rodar mesmo, não preciso andar em carro blindado, com medo a todo momento", afirma um empresário, que não quer ser identificado.
Seu carro é um Porsche 911 Carrera, esportivo que parte de R$ 835 mil. Se incluirmos opcionais, o preço pode passar facilmente de R$ 1 milhão.
Falando em Porsche, a marca tem uma concessionária em Santa Catarina que chega a 12% de participação entre marcas premium, logo abaixo dos 14% da média nacional. Só que nem todos os modelos da marca presentes no estado foram comprados no local. Por serem cidades menores, com grande concentração de riqueza, parece que há mais carros do fabricante nas ruas do que em qualquer outro lugar do país.
"Até hoje, a Miami Imports já tem um portfólio de mais de 300 carros entregues tanto em Balneário Camboriú quanto no Brasil todo. Não me lembro de cabeça algum carro que tenhamos blindado aqui em Balneário. Para você ter ideia, vendemos agora duas unidades do Chevrolet Suburban para um cliente do Rio, mas eles vão direto daqui para a blindadora", conta Luis. O Suburban é um SUV de luxo que chama atenção pelo porte agigantado, sendo muito utilizado até pelas forças de segurança dos EUA.
"Um outro exemplo é que importamos um Corvette. Por incrível que pareça, o cliente de São Paulo pediu para blindar antes da entrega".
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Quero receberNem todos os modelos de luxo que circulam pelas cidades são de moradores fixos - muitas vezes, são veículos que vieram de outros estados. Embora o número de milionários que fixaram residência seja cada vez maior, muitos endinheirados têm Balneário, Itajaí, Itapema, Joinville e outras cidades como segunda residência.
Carrões que fazem muito sucesso
O clássico princípio de "ver e ser visto" não é só ligado à segurança automotiva, ele surgiu como uma questão social. Chamar atenção com algo diferente é sempre interessante e não apenas para o público milionário. É fugir da mesmice mesmo quando a normalidade são carrões conhecidos. Importar um carro independente garante uma dose extra de exclusividade.
Entre os modelos trazidos pela importadora, o Cybertruck é um dos fenômenos mais recentes. "Temos mais encomendas. Para você ter uma ideia, temos três a caminho, uma delas já está vendida, mas as outras estamos segurando as outras duas. Já temos propostas, mas estamos segurando, porque, para pronta entrega, teremos um maior retorno de investimento do que com as picapes a caminho. Dia 30, deverão estar aqui".
A versão da Cybetruck que a Miami Imports está trazendo é a AWD, que, diferentemente da básica, tem tração integral permanente, como indica a sigla. São 600 cv de potência e 102 kgfm de torque, força bruta que a leva de zero a 100 km/h em 4,3 segundos. O alcance é de 547 km.
Também há a configuração topo de linha Cyberbeast, que tem três motores elétricos (um a mais do que a intermediária), gerando 816 cv. A arrancada da imobilidade aos 100 km/h é vencida em 3 segundos, enquanto a autonomia sobe aos 750 km - números no padrão americano EPA. Os primeiros exemplares dessa versão chegam em breve, diz Valério.
"A top Cyberbeast está mais complicada de adquirir. Quem tem lá não quer liberar, porque é um carro raro no mercado norte-americano. Eles querem segurar porque vai render mais depois que regularizar. Até daqui a um mês, um mês e meio, vamos adquirir uma também", revela Luis.
As rivais do Cybertruck também são buscadas, exemplos de Hummer e Rivian RT1, mas essa segunda não "pegou" no nosso mercado. Três delas foram trazidas.
Dentre os muscle cars, o Dodge Challenger é um dos mais queridos. Os últimos estão chegando. É para quem deseja chamar mais atenção do que com um Ford Mustang ou Chevrolet Camaro. Nem por isso não há espaço para eles, em particular para versões ainda mais preparadas, como os Ford Shelby que, inclusive, são trazidos como picape - no caso, a F-150.
Além do Suburban, há Cadillac Escalade, mais luxuoso. O Corvette também é outro esportivo procurado, é o campeão de vendas da empresa. Há Ferraris também, dentre outras marcas mais cotadas do país, sendo que a 296 GTB é a mais buscada, a despeito de ter representação oficial.
Nem de superesportivo e SUV de luxo vive o mercado, as minivans também fazem sucesso - especialmente, Toyota Sienna e Chrysler Pacifica. É um nicho quase extinto no Brasil. Como ambas são híbridas, a alíquota de importação ainda é menor.
Um outro belo exemplo é o VW Golf GTI de oitava geração. Teve uma entrega recente, mas o preço de R$ 550 mil é para poucos. O Golf R sobe para R$ 650 mil. Sem ser trazido ou fabricado no país desde a sétima geração, o esportivo assusta um pouco em preço, gerando mais consultas do que vendas.
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