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Por que carros com placas iniciadas por I e J viraram pesadelo nas lojas

Imagem: Luiz Carlos Murauskas

Wandick Donett

Colaboração para o UOL

20/06/2024 04h00

No rescaldo das enchentes devastadoras que assolaram o Rio Grande do Sul, uma preocupação crescente permeia o mercado de veículos. Proprietários de carros registrados com as placas iniciadas pelas letras I e J vivem a sombra da suspeita de terem sofridos danos por alagamento.

O Sindipeças reporta que a frota veicular do estado, que soma 2,8 milhões de unidades, sofreu uma perda estimada em 200 mil veículos submersos, o que representaria 7,1% dos veículos no estado. Consultorias como a Bright Consulting estimam prejuízos somando a cifra de R$ 8 bilhões.

Mesmo sendo pequena a porcentagem de carros atingidos, o temor sobre a procedência dos carros existe - e passa pelas placas veiculares. Isso porque cada estado tem um conjunto de sequências de três letras atribuídas pelo Renavam para identificação. No Rio Grande do Sul, as sequências variam de IAQ a JDO - o que tem causado dúvidas sobre a situação de automóveis com essa identificação.

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Este fenômeno não é inédito: ecoa o estigma que se seguiu ao furacão avassalador Katrina em Nova Orleans, em 2005, onde meses depois veículos com placas locais eram evitados por compradores temerosos de danos ocultos.

A história se repete no sul do Brasil, onde a confiança no mercado de veículos usados balança na corda bamba. A desconfiança se instala e proprietários de veículos do RS podem encontrar dificuldades adicionais ao vender seus automóveis, enfrentando desvalorização e um mercado reticente.

A situação é agravada pela cobertura de seguros, ou a falta dela. Apenas uma fração, cerca de 15% dos veículos afetados possuía seguro contra enchentes, um luxo que encarece as apólices e é frequentemente negligenciado para economia dos custos. Assim, muitos proprietários se veem em um impasse, com veículos danificados e sem a devida compensação.

A resposta do mercado a essa crise é multifacetada. Por um lado, há um aumento na demanda por serviços de reparo e recuperação de veículos, com oficinas expandindo horários e equipes para atender ao volume crescente de carros necessitados de cuidados. Por outro, a cautela dos compradores pode levar a uma preferência por veículos de outras regiões, menos propensos a terem sido afetados pelas enchentes.

É prudente levar o veículo para uma vistoria em uma rede de vistorias automotivas. Profissionais especializados podem identificar sinais de danos por alagamento que podem não ser evidentes para a maioria das pessoas.

Eles têm a experiência e as ferramentas necessárias para realizar uma avaliação completa e fornecer um laudo detalhado sobre a condição do veículo.

Segundo Yago Almeida, CEO da Olho no Carro, "antes de efetuar a compra de um veículo usado ou seminovo, é fundamental consultar seu histórico para acessar informações que vão promover mais segurança e transparência durante a negociação. Dessa forma o possível comprador ganha mais autonomia e saberá onde está investindo seu dinheiro".

Turbulências

No mercado gaúcho, a comercialização de carros sofreu uma queda expressiva de 64%. José Maurício Andreta Jr., presidente da Fenabrave, mantém uma postura otimista, decidindo não alterar as projeções futuras da federação, confiante na recuperação do mercado. Ele destaca que, apesar dos desafios no Rio Grande do Sul, o cenário nacional de crédito favorável tem sustentado a demanda por veículos no restante do país.

Segundo dados da Anfavea, na comparação com maio de 2023, a redução na produção de carros nacionalmente chegou a 26,8%. Após as chuvas intensas que atingiram o Rio Grande do Sul, houve uma queda significativa no número de emplacamentos de veículos no estado.

Normalização

A expectativa era de que os volumes de vendas mensais chegassem a 200 mil, mas não passou de 160 mil até o final do mês de maio, o que representou cerca de 7,5 mil veículos emplacados por dia. Mas, segundo o Detran, os emplacamentos já foram resetados ao volume de cerca de 10 mil carros licenciados por dia.

A situação é confirmada por Joaquim Fonseca, da Veloz Despachantes, que trabalha no ramo há 15 anos em Porto Alegre, tudo já voltou ao normal, mesmo número de emplacamentos diários de abril. Ele afirma que mesmo se tiver estigma e preconceito, não é possível escolher as letras das placas ou alterar para letras de outro estado, por exemplo.

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