Enchente no RS faz explodir o preço do seguro dos carros em todo o Brasil
As recentes enchentes no Sul do Brasil trouxeram uma onda de prejuízos que ultrapassam os danos imediatos e as fronteiras estaduais. Proprietários de veículos em todo o país estão enfrentando aumentos significativos nos contratos de seguro de automóveis. Relatos de clientes junto às corretoras indicam o acréscimo de 15% em renovações e até 40% em novas contratações, uma realidade que contamina o bolso do consumidor brasileiro.
A Porto Seguro, detentora de 30% da carteira de seguros auto no Sul, e a Bradesco Seguros, líder em arrecadação de prêmios, representam juntas mais de dois terços dos clientes afetados pelos alagamentos.
Dados coletados pela CnSeg, entidade que representa as seguradoras privadas no Brasil, do início das chuvas no Sul no fim de abril até ontem, já ocorreram 48.870 pedidos de indenização por danos recorrentes das enchentes. Só no ramo de automóveis já somam R$ 1,27 bilhão de reais, com 19.077 pedidos de sinistros já avisados.
Em resposta aos sinistros concentrados no Sul, as seguradoras optaram por uma estratégia de diluição dos custos em nível nacional. Essa medida busca distribuir o peso dos aumentos, evitando sobrecarregar uma região já economicamente fragilizada.
Sidney Gomes, especialista com três décadas de experiência em corretagem de seguros, expressa sua surpresa diante da magnitude dos sinistros no Sul.
"Foi avassalador para o mercado de seguros, nunca ocorreu uma catástrofe de tantos sinistros ao mesmo tempo. As seguradoras, segundo ele, estão reestruturando suas políticas de contratação e renovação para mitigar as perdas".
Um dos problemas apontados por Gomes é a negligência dos consumidores em ler os pequenos parágrafos das apólices, especialmente aqueles referentes a catástrofes naturais, que agora se mostram cruciais. A CnSeg diz que não tem dados de quantas indenizações já foram negadas.
Há também, segundo Gomes, um crescente número de casos em que seguradoras recusam a renovação de seguros em áreas propensas a alagamentos, uma tendência que se estende para outros segmentos, como seguros residenciais em zonas litorâneas.
Diante de aumentos considerados abusivos, a recomendação é buscar seguradoras menos impactadas pelas enchentes, uma estratégia que pode oferecer condições mais vantajosas.
Mas afinal, seria alguma determinação sobre como as seguradoras devem proceder na análise do prêmio, da cobertura, do risco para cotação do valor?
"Em hipótese alguma decidimos isso", nega veemente Dyogo Oliveira, presidente da Cnseg. "Houve até redução no ano passado, a Cnseg não decide, não negocia e não acompanha e não discute valores de seguros, cada uma decide a precificação. Apenas acredito que vá ocorrer um aumento de resseguros internacionais para diversificar o risco, para não aumentarem a exposição aos danos, isso é muito saudável para o funcionamento do mercado".
Ele afirma que, no caso do mercado de seguros de automóveis, mais de 95% das apólices são de seguro total, que já incluem coberturas de enchentes e alagamentos, algo que virou pratica de mercado nos últimos anos.
A entidade informa que as seguradoras brasileiras contam com reservas técnicas e valores perfeitamente cabíveis para fazer frente aos valores de indenização. E, segundo ele, estão agilizando o pagamento das indenizações de seguros autos em até 48 horas, após o pedido eletrônico e inserção dos documentos.
A Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão fiscalizador das seguradoras, informou em nota ao UOL Carros:
"A dimensão exata e os desdobramentos do impacto das enchentes no Rio Grande do Sul no mercado segurador ainda não podem ser plenamente determinados, considerando que parte dos sinistros geralmente demoram certo tempo para serem avisados pelos segurados, regulados e contabilizados pelas seguradoras, informados à Susep e tratados internamente".
"No entanto, desde o início da emergência estão sendo feitos estudos para análise das possíveis consequências do evento sobre os mercados supervisionados pela Susep. A autoridade vem monitorando de perto a situação, em relação aos sinistros avisados, à qualidade do atendimento aos segurados e em relação aos aspectos financeiros e prudenciais das seguradoras. É possível, até o presente momento, afirmar que não foram identificadas situações que possam comprometer a estabilidade financeira do setor", completou a entidade.
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