A morte do piloto argentino Lorenzo Somaschini, de 9 anos, após sofrer acidente durante um treino livre do campeonato SuperBike Brasil, no Autódromo de Interlagos, levantou a questão: é permitido que crianças e adolescentes pilotarem motos, ainda mais modelos que chegam a até 150 km por hora?
Vale ressaltar que as leis presentes no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) são válidas para vias públicas e não permitem que menores de 18 anos possam dirigir no Brasil. Neste caso, porém, por se tratar de uma competição e circuito fechado, crianças e adolescentes podem participar das provas e eventos, desde que haja autorização dos pais.
Criada em 2013, a Honda Junior Cup, competição a qual Lorenzo fazia parte, é uma categoria-escola da motovelocidade nacional voltada exclusivamente para crianças com idades entre oito e 12 anos. E segundo a organização, para participar, é necessário seguir diversas regras que incluem testes de pilotagem e autorização dos pais.
"As principais exigências para a participação na Honda Junior Cup são: estatura mínima, experiência prévia em pilotagem, superar testes práticos e psicológicos, avaliação dos pais e status familiar, completo conjunto de equipamentos de segurança", explicou a organização, em nota.
As motos usadas são Honda CG 160 Titan, que atingem até 130 km/h e, com as modificações feitas para a corrida, pode atingir a marca dos 150 km/h. Os veículos são adaptados ao tamanho de cada criança, sendo a preparação das motos e todas as manutenções necessárias feitas pela organização.
"A criança necessariamente deve ter tamanho suficiente para alcançar os comandos e maturidade motora para coordenar os comandos da moto. O conjunto de equipamentos se equivale aos dos pilotos adultos. Macacão de couro com proteções de impacto, protetor de coluna, capacete homologado, bota e luva", acrescentou a organização.
Já os adolescentes com idades entre 12 e 16 anos disputam a categoria Teen Cup e correm com a Honda CB300F Twister, que tem velocidade máxima de 140 km/h, podendo ser superada com as modificações feitas para a competição. As mesmas exigências feitas na categoria Junior são feitas para os adolescentes.
Responsabilidades
O advogado Cleidrer Rodrigues Fernandes explica que todas as atividades envolvendo crianças e adolescentes realizadas no Brasil são respaldadas pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente).
"Precisa das autorizações legais para que crianças e adolescentes possam fazer a prática de moto e velocidade, ou seja, uma autorização específica para isso. Além disso, quando se trata de organização de evento, os nossos tribunais têm observado diversas realidades. Se ficar verificado que o organizador do evento não adotou as medidas necessárias, como medidas de segurança, autorizações legais, concessões e licenças do Estado e do município, para que aquele evento possa ocorrer, ainda que seja em um autódromo fechado, ele poderá ser responsabilizado", explica o advogado.
"Nesse caso do Lorenzo, não tem como você vai imputar responsabilidade a um pai que sofreu uma perda dessa, de forma trágica, e não tem que se responsabilizar, foi um acidente", explica o advogado Marco Fabrício Vieira, membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
O que aconteceu
Lorenzo sofreu uma queda na saída da Curva do Pinheirinho, no Autódromo de Interlagos, na sexta-feira (14) durante um treinamento da Honda Júnior Cup, uma das categorias do SuperBike Brasil — que é um dos maiores campeonatos de motociclismo das Américas.
Ele foi levado ao Hospital Geral da Pedreira em estado grave e acabou transferido para o Albert Einstein, também na capital paulista, no fim de semana. O estado de saúde do piloto piorou, e ele não resistiu já na noite de segunda (17).
Segundo a SuperBike Brasil as causas do acidente envolvendo o piloto argentino estão sendo investigadas.
Newsletter
CARROS DO FUTURO
Energia, preço, tecnologia: tudo o que a indústria está planejando para os novos carros. Toda quarta
Quero receber"O SBK conta com uma comissão de segurança composta por profissionais de diversas áreas. Todas as ocorrências sempre geram investigações com o intuito de se apurar causas e possíveis prevenções. Essas investigações existem para qualquer tipo de ocorrência. Por exemplo, o que se investiga: falha na limpeza da pista, eventual falha de procedimento de um sinalizador, falha na fraseologia padrão a ser utilizada nos rádios e até mesmo erros de pilotagem dos pilotos que sequer gerem quedas. Apenas depois dessa investigação, que poderemos apontar possíveis causas contribuintes e possíveis medidas mitigadoras", disse em nota.
Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.