SUVs de shopping? Você pode ficar a pé até no asfalto e ainda levar culpa
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
23/06/2024 04h00
Originalmente concebidos como veículos robustos para passageiros, os SUVs ficaram mais urbanos na medida em que cresceram na preferência do consumidor. Atualmente, a maior parte dos modelos da categoria tem tração dianteira e suspensões relativamente baixas, na comparação com legítimos veículos fora de estrada.
Devido a essas características, o habitat natural da vasta maioria dos utilitários esportivos à venda é o asfalto. Mesmo em vias pavimentadas, esses veículos podem sofrer sérios danos mecânicos e elétricos em situações extremas, como alagamentos. Daí a expressão "SUV de shopping", cunhada por praticantes de off-road.
Muitos proprietários de SUVs ignoram essa realidade e exageram na confiança ao transpor áreas alagadas, comuns nas cidades nesta época do ano.
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Esse desconhecimento, além de trazer risco à integridade física dos ocupantes, eleva a possibilidade de problemas como calço hidráulico - quando o motor aspira água em vez de ar, danificando componentes como bielas e pistões. Itens eletrônicos também podem ser afetados.
Leia o manual
Para evitar uso incompatível com as características do carro, o que não costuma ser coberto pela garantia, a saída é conhecer suas capacidades e limitações. Isso pode ser consultado no manual do proprietário.
Especificamente no que se refere à travessia de trechos alagados, o manual dos três SUVs mais vendidos, considerando modelos de marcas diferentes, faz alertas relacionados a essa situação - incluindo o nível máximo de água recomendado.
O livreto que acompanha Volkswagen T-Cross e Chevrolet Tracker, por exemplo, orienta a evitar a transposição de alagamentos. Caso isso seja inevitável, a VW destaca que a água "pode alcançar, no máximo, a borda inferior da carroceria (abaixo das portas)", em relação ao T-Cross.
Para o Tracker, a informação é a seguinte: "certifique-se de que o limite de água não exceda a altura do centro da roda".
Já o manual do Jeep Renegade traz orientações mais específicas, válidas inclusive para as configurações diesel 4x4.
O documento informa que o SUV é capaz de transpor alagamentos "não muito profundos" desde que o nível não exceda 48 cm com água parada. Se ela for corrente, a altura cai para 22 cm. Já a carga máxima não pode passar de 240 kg nessa circunstância e a velocidade máxima indicada é de 8 km/h.
"Via de regra, carros de passeio não são feitos para alagamentos. Além disso, não basta dirigir SUV para você entrar na água com tudo. É preciso conhecer o modelo e a respectiva localização da tomada de ar. O nível máximo mais seguro da água é na altura dos eixos, mas o movimento do veículo pode causar ondas, e isso deve ser considerado", destaca o consultor técnico Gerson Burin.
A orientação geral, caso seja necessário encarar uma enchente, é não passar do nível indicado no manual, se for possível. Outra dica é manter velocidade baixa e constante, com marcha reduzida, para não deixar o motor apagar.
Caso o veículo desligue durante a travessia, ainda parcialmente submerso, não tente acioná-lo novamente e peça socorro.
Snorkel para rodar na cidade?
Fã da marca Jeep, a empresária Ana Hirschle, de 51 anos, é proprietária de um Renegade flex, cuja tração é dianteira, adquirido em maio de 2015.
Em 2016, ao tentar atravessar um alagamento em Recife (PE), onde morava na época, ela teve o motor danificado.
"Peguei um trecho alagado e o sistema elétrico parou o carro. A água entrou no motor e deu calço hidráulico. Até então, eu não sabia que o Renegade tinha a admissão de ar tão baixa, abaixo do farol do passageiro. Após reclamar com a seguradora e a Jeep, o propulsor foi trocado por um novo", conta.
Após a substituição do motor, Ana instalou um snorkel, acessório popular entre jipeiros que eleva a altura da admissão de ar para o nível do teto - embora o uso do veículo, segundo ela, seja 100% urbano.
"Foi quando coloquei o snorkel da empresa OGZ, assim que saí da concessionária, já com o motor novo. Nunca pensei que fosse precisar de um snorkel, considerando que não coloco meu Renegade em trilhas", explica.
Apesar de tudo, a empresária não pensa em deixar a Jeep e diz que irá trocar seu Renegade por um zero da versão Trailhawk, com motor diesel, tração nas quatro rodas e suspensões elevadas.
"Este também receberá snorkel".
*Com informações de matéria publicada em 15/03/2021