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Como item que você põe na comida promete derrubar preço de carros elétricos

Bateria de sal de sódio é desenvolvida no Brasil há muitos anos e agora começa a ser adotada por grandes montadoras Imagem: Alessandro Reis/UOL

Wandick Donett

Colaboração para o UOL

26/06/2024 08h00Atualizada em 26/06/2024 11h01

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A busca por baterias mais baratas, duráveis e com maior autonomia é um dos principais focos da indústria automotiva para os carros híbridos e elétricos.

Atualmente, as baterias de íon de lítio dominam o mercado, conhecidas por sua alta densidade energética e eficiência. Além dessa tecnologia, também há as baterias de LFP (fosfato de ferro-lítio), tipo mais barato por dispensar o uso de níquel e cobalto (metais raros). No entanto, o lítio, sendo um recurso limitado e caro, impulsiona a pesquisa por alternativas mais sustentáveis e econômicas.

Uma dessas alternativas promissoras são as baterias de sódio - composto orgânico presente no sal de cozinha, o cloreto de sódio, que colocamos nos alimentos.

O sódio é abundante, significativamente mais barato do que o lítio e possui propriedades eletroquímicas favoráveis para uso em baterias. Nessas aplicações, não é tipicamente obtido pela evaporação da água do mar, mas sim por meio de processos eletroquímicos que separam o sódio de outros elementos. Estes processos estão sendo estudados e aprimorados para tornar essas baterias uma alternativa viável e mais sustentável às baterias de íons de lítio.

Estudos desenvolvidos recentemente pelo PTI (Parque Tecnológico de Itaipu) revelam que, com o impulsionamento das vendas de carros elétricos no Brasil, a escassez do lítio é um problema que o país irá enfrentar em breve.

Além disso, há os efeitos ambientais negativos que podem ser gerados pelos metais hoje presentes na maioria das baterias, que vão desde a poluição da água, do ar e do solo, a intensificação da emissão de gases de efeito estufa, os impactos em ecossistemas locais e na saúde humana. Daí, surge a importância de buscar matérias-primas mais amigáveis ao meio ambiente e formas de reciclar as baterias fabricadas com esses metais.

Bateria com tecnologia brasileira

No Brasil, o PTI, instalado na Usina Hidrelétrica de Itaipu, não só produz energia renovável, mas também investe em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

Há alguns anos, o Parque Tecnológico tem se dedicado ao estudo de baterias de sódio. A pesquisa avança para a fase de validação, e a expectativa é de que, em breve, essas baterias possam ser produzidas em escala comercial.

Os estudos já indicam que as baterias de sódio podem ser cerca de 50% mais baratas que as de lítio, o que poderia reduzir significativamente o custo dos veículos elétricos.

Um acordo de cooperação foi assinado entre o PTI e a Petrogal Brasil S.A (uma joint venture entre as empresas Galp Energia e Sinopec) para desenvolvimento do projeto de um sistema híbrido com essa tecnologia de baterias para fornecimento ininterrupto de energia.

Para o diretor técnico do PTI, Rafael Deitos, este projeto é um marco na história do PTI no desafiador processo da transição energética, descarbonização e economia circular.

"O PTI atua no tema de transição energética há muito tempo, mais de dez anos, executando projetos de eficiência e segurança energética, sistemas recicláveis de armazenamento de energia com as baterias de sódio Zebra, economia circular, geração de hidrogênio verde, geração distribuída a partir de fontes renováveis e indústria 4.0".

Venda de carros elétricos dispara

Para se ter ideia da importância, em 2024 a venda de carros elétricos no Brasil subiu 143%, se analisado em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

Esse crescimento pode ser justificado tanto pelo surgimento de carros elétricos mais baratos no mercado, como também pelo investimento nas infraestruturas de recarga.

A transição para veículos elétricos é uma parte crucial da mudança global para uma economia de baixo carbono. Com o desenvolvimento contínuo de baterias mais baratas e eficientes, como as de sódio, essa transição pode se acelerar, tornando os veículos elétricos mais acessíveis para o público em geral e reduzindo nossa dependência de combustíveis fósseis.

A AIE (Agência Internacional de Energia) estima que a mobilidade sustentável crescerá mais de 14 vezes até 2030, atingindo 145 milhões de veículos elétricos nas ruas. É impossível imaginar, na visão de especialistas dessa agência, que apenas uma tecnologia emergente possa alimentar todos os veículos na estrada por si só, abrindo portas para adoção de outros componentes mais baratos.

Baterias de sódio já equipam carros elétricos

JAC Motors E10X Imagem: Divulgação

A ideia de se livrar do lítio ainda é remota e por isso se encaminha para outras alternativas, como o sódio.

O primeiro carro com emissão zero que teve essas baterias testadas é o chinês E10 X, da JAC Motors, equivalente ao importado e-JS1, produzido pela JAC com parceria da engenharia Volkswagen. Mas há muitos fabricantes e montadoras que começarão a oferecê-los, como Volvo, Tesla e Toyota.

E, acima de todas elas, está a BYD, que é uma das maiores produtoras de baterias do mundo, empresa "green tech", que se originou desta forma para só depois produzir carros. Já há testes na empresa quanto às baterias de sódio, mas seu uso no futuro ainda não tem previsão.

Há a expectativa de que a bateria Blade, baseada na tecnologia de LFP (fosfato de ferro-lítio), comece a ser produzida na fábrica da BYD em Manaus ainda neste ano e, futuramente, as de sódio também.

No local, atualmente já são produzidas as baterias de fosfato de ferro-lítio (LiFePO4), responsáveis por abastecer a linha de produção de ônibus elétricos em Campinas (SP).

O Grupo Stellantis, por sua vez, recentemente assinou um acordo com a empresa francesa Tiamat para desenvolver baterias desse tipo para seus futuros carros elétricos..

Vinicius Garritano, gerente de produto e preços da Volvo para a América Latina, informa que trabalham com as baterias LFP (que usam química de lítio, ferro e fosfato), como a utilizada no EX30 e com as NMC (que apresenta química de lítio, níquel, manganês e cobalto).

"Os estudos indicam que as baterias de sódio podem complementar a gama de baterias que temos hoje que são baseadas em lítio. Porém, não temos informações sobre estudos das baterias de sódio ou outra tecnologia como grafeno ou nióbio por parte da Volvo. As baterias de sódio atualmente enfrentam o problema de terem sua densidade energética menor do que as de lítio".

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