Por que é melhor você acelerar seu carro antes de passar por certos buracos
É melhor acelerar do que frear antes de passar por um buraco? Quando se trata de enfrentar as imperfeições das estradas brasileiras e as crateras asfálticas do dia a dia nas cidades, a física do movimento entra em jogo com uma perspectiva diferente.
Acelerar ou soltar o carro, em vez de frear, pode ser a chave para uma passagem mais suave e menos prejudicial para o veículo. As rodas precisam passar rodando, não travadas em frenagem. A velocidade ajuda a manter o carro 'flutuando' sobre o buraco, ao invés de cair bruscamente nele.
O princípio físico em questão é a inércia, a tendência de um objeto em movimento de permanecer em movimento. Quando um carro acelera antes de um buraco, ela ajuda a 'voar' sobre esse abismo, que pode ser raso ou profundo, e manter a estrutura do carro mais estável e menos suscetível a danos.
"Frear bruscamente antes de um buraco pode causar uma transferência de peso para a frente do veículo, aumentando o risco de danos, pois a suspensão dianteira é comprimida e as peças ficam mais próximas do solo. Por outro lado, manter a velocidade pode ajudar a manter a distribuição de peso mais uniforme, reduzindo o impacto na suspensão e possíveis danos com maior severidade", avalia Cleber Willian Gomes, professor de engenharia mecânica da FEI.
No entanto, é importante notar que essa abordagem não significa que os motoristas devem sempre acelerar sem cautela. A velocidade deve ser ajustada de acordo com as condições da estrada, visibilidade e tráfego. A segurança é sempre a prioridade, e a aceleração deve ser feita dentro dos limites seguros e legais.
Montanha russa
A comparação com as montanhas-russas não é mera coincidência. Assim como um carrinho que utiliza a velocidade para manter os passageiros seguros e confortáveis durante os loopings, um carro que passa rapidamente por um buraco ou uma irregularidade constante na estrada, como as conhecidas 'costelas de vaca', pode evitar vibrações excessivas e danos ao veículo.
Além disso, quando um motorista freia abruptamente antes de um obstáculo, o veículo sofre uma transferência de peso para a frente, forçando a suspensão dianteira e aumentando o risco de danos. Isso é especialmente verdadeiro em estradas de terra, onde as irregularidades são mais frequentes e imprevisíveis.
A técnica de leve aceleração permite que a suspensão trabalhe de forma mais eficiente, distribuindo o impacto de maneira mais uniforme e preservando a integridade do veículo.
"Quanto maior for a velocidade do veículo, menor a aderência dos pneus com a pista. A aderência é a força de atrito que mantém os pneus em contato com o pavimento e por consequência a estabilidade do veículo que possibilita a condição segura de condução", afirma Gomes.
Já Fabio Maggion, gerente de planejamento estratégico da Mitsubishi, avalia que o melhor mesmo é tirar o pé do acelerador para o carro ir reduzindo de forma progressiva.
"Aliviar a carga em cima do pneu tira responsabilidade em cima dele, vai ter só uma pequena força frenagem em função do freio motor, com mais capacidade de absorção de impacto a deformação".
Ele afirma que carros da Mitsubishi possuem sistema de amortecimento que identificam de forma mecânica uma queda muito brusca de roda e dá uma segurada das válvulas para evitar cair no buraco.
Com esse tipo de tecnologia, mesmo em ralis off-road, a possibilidade é bem remota de queda de roda dentro de um buraco a não ser que seja muito extenso. Já na 'costela de vaca', quando você passa muito rápido o carro começa a flutuar e aí precisa de mais habilidade do condutor, porque pode o efeito de sair de traseira.
Os itens que mais sofrem quando o veículo passa em um buraco são os pneus, a suspensão e principalmente os amortecedores. De acordo com Ivan Furuya, diretor de marketing da Volda, empresa que atua com componentes de suspensão, "a melhor opção é manter a velocidade e as rodas soltas, pois ao frear, além de aumentar o peso do veículo e o impacto no buraco, você aumenta os riscos de danificar os pneus, que podem provocar um acidente grave e um impacto no sistema de suspensão".
Newsletter
CARROS DO FUTURO
Energia, preço, tecnologia: tudo o que a indústria está planejando para os novos carros. Toda quarta
Quero receberJuliano Caretta, supervisor de treinamento técnico da Monroe Amortecedores, afirma que nem sempre conseguimos visualizar antes o buraco, com ruas escuras e mal iluminadas ou até por distração, mas o ideal é tentar diminuir a velocidade até chegar ao buraco e aí soltar o pé do freio, para ter uma rodagem livre ao passar pelo obstáculo.
Ele afirma que nunca se deve tentar passar o carro em diagonal, mas em linha reta para não prejudicar outros componentes. Segundo ele, quando a roda está freada e cai no buraco aquele tranco pode danificar uma peça do freio da suspensão.
Motocicletas
No caso de duas rodas, quais atitudes tomar ao pilotar motos e um buraco eminente aparecer? Há alguns cuidados maiores do que na direção de um carro.
De acordo com orientações do time de treinamento da YRA (Yamaha Racing Academy), ao perceber que existe algum imprevisto, o motociclista pode levar até 0.8 segundos para enviar a reação até a ação de acionar os freios para frenagem eficiente de emergência. O ideal é elevar o quadril do assento levemente para que não sinta o impacto no corpo e manter os joelhos semiflexionados e presos a moto para que funcionem como extensão das molas, gerando menor atrito em vias e ou estradas.
No off-road, eleve a posição do corpo de pés nas pedaleiras, tronco levemente inclinado para trás, braços semiflexionados para fora e acelerar para que a roda transpasse com maior facilidade (manter a trajetória retilínea); já em vias asfaltadas, pode-se frear antes do buraco e manter a aceleração constante para transpor o obstáculo, considerando em conjunto com o ótimo estado da motocicleta: pneus, calibragem, óleos de suspensão, pastilha ou sapata de freios.
Em ambos os casos, tentar passar sobre o buraco com a motocicleta totalmente na vertical, ou seja, se perceber em curva, é recomendado inclinar mais para que no momento de transpor o obstáculo esteja com a moto de pé. Assim será mais eficiente a aplicação da técnica de postura e maior estabilidade do piloto x motocicleta.
Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.