Carro ecológico da Toyota vira inimigo de cientistas nos Jogos de Paris
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A Toyota, patrocinadora oficial das Olimpíadas de Paris 2024, exibirá durante os Jogos o veículo Mirai, movido a célula de combustível de hidrogênio, como símbolo de inovação e sustentabilidade. No entanto, a escolha da montadora japonesa tem enfrentado resistência na França, onde políticas de mobilidade recentemente implementadas têm gerado discussões acaloradas.
O Mirai, segundo a montadora, representa um marco no compromisso da Toyota com a mobilidade limpa. Com zero emissões de gases poluentes, combina autonomia de até 650 km com reabastecimento rápido, em 5 minutos, características que desafiam os veículos elétricos a bateria tradicionais.
A empresa informou que, durante os Jogos, a Toyota fornecerá 500 de seus carros movidos a hidrogênio para permitir movimentos com emissão zero de escape para atletas, organizadores e voluntários. Após a competição, os 500 veículos se juntarão à frota de táxis a hidrogênio existente em Paris, aumentando, assim, o número destes veículos para 1.500.
Mas a infraestrutura de abastecimento de hidrogênio ainda é um desafio na França, onde a rede está em desenvolvimento. Isso tem levado a críticas por parte de alguns setores da sociedade, que questionam a viabilidade deste transporte nas condições atuais do país.
Mais de 120 cientistas, acadêmicos e engenheiros elaboraram uma carta de protesto pedindo a mudança para veículos elétricos a bateria, argumentando que os carros movidos a células de combustível não são uma solução viável de emissões zero.
"As Olimpíadas de Paris estão sendo usadas pela Toyota para promover carros, ônibus e outros veículos movidos a hidrogênio como uma solução para a mudança climática. Isso está cientificamente desalinhado com o conceito de emissão zero", explica David Cebon, diretor do Centro de Transporte Rodoviário Sustentável da Universidade de Cambridge.
"Acreditamos que a promoção de veículos movidos a hidrogênio pela Toyota dessa forma é altamente prejudicial aos esforços internacionais para descarbonizar o transporte, porque bilhões de pessoas ao redor do mundo que assistem às Olimpíadas serão expostas a informações falsas e enganosas", afirma.
A carta continua explicando várias razões pelas quais os carros movidos a hidrogênio são uma má ideia, incluindo:
- Os riscos de que eles distraiam e adiem a "verdadeira solução disponível hoje", ou seja, os BEV (veículo elétrico a bateria). O carro BEV é o único elétrico puro do segmento, ou seja, que não precisa contar com a ajuda de combustíveis de origem fóssil para alimentar o motor
- Os veículos movidos a hidrogénio verde requerem três vezes mais eletricidade renovável e são pelo menos três vezes mais caros de operar do que os BEV
- As energias renováveis seriam melhor utilizadas para descarbonizar as redes elétricas
- Quase todo o hidrogênio hoje é feito de combustíveis fósseis não degradados, e os veículos movidos a células de combustível que funcionam com esse hidrogênio cinza "acabariam gerando de 30 a 50% mais emissões do que simplesmente usar combustíveis fósseis em primeiro lugar, dependendo da aplicação"
- Promover carros movidos a hidrogênio nas Olimpíadas "irá inevitavelmente atrasar o lançamento dos BEVs, prejudicando o progresso da transição energética".
- A Toyota, por sua vez, informou que tem trabalhado para superar esses obstáculos, colaborando com parceiros locais para expandir a rede de abastecimento de hidrogênio.
Na França, os defensores dos carros a hidrogênio argumentam que eles podem viajar mais com um único tanque do que os BEVs com uma única carga e que são mais rápidos de reabastecer. Sendo assim, podem ser úteis para pessoas que precisam viajar longas distâncias rapidamente, apesar do maior custo inicial de compra e dos maiores custos operacionais.
Além dos veículos com emissões zero de escapamento, a Toyota também traz para as Olimpíadas cerca de 1.000 veículos híbridos (HEV) e híbridos plug-in (PHEV) - os modelos RAV4, Corolla TS, Yaris Cross e Highlander.
A frota oficial ainda será complementada por veículos adicionais conectados através do serviço de compartilhamento de carros da Toyota, o Kinto. A montadora afirma pretender reduzir as emissões de carbono dos veículos nos Jogos de Paris 2024 em 50% em comparação com Olimpíadas anteriores.
Preço e disponibilidade
O Toyota Mirai, um dos pioneiros no mercado de veículos movidos a célula de combustível de hidrogênio, tem seu preço variando conforme o mercado e incentivos fiscais aplicáveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, o valor pode ser reduzido significativamente devido a incentivos, chegando a custar cerca de US$ 37 mil após aplicação desses descontos.
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Quero receberDurante eventos promocionais, esse valor já chegou a ser ainda mais baixo, aproximadamente US$ 18 mil. Em Portugal, o preço do Mirai começa em 67.856 euros.
Já no mercado brasileiro, o Mirai ainda não está disponível para venda ao público em geral, sendo utilizado principalmente em projetos de teste e demonstração de tecnologia de hidrogênio. A Toyota tem oferecido incentivos e parcerias para tornar o Mirai uma opção mais atraente para consumidores e frotas corporativas.
Como é o carro?
Com seus quase cinco metros de comprimento, está construído sobre a plataforma GA-L, compartilhada com o Lexus LS. O design permite integrar uma bateria elétrica de 1,2 kW junto a um conjunto de 330 células de hidrogênio, que têm a função de produzir energia para o motor elétrico. O resultado é uma entrega de aproximadamente 184 cv de potência e um torque de 30,6 kgfm.
A versão mais recente do Toyota Mirai Limited trouxe melhorias tecnológicas e de segurança, além de novas funcionalidades de conveniência e conectividade. A autonomia permite viagens de até 650 km com um único tanque de hidrogênio, um avanço significativo em relação aos 402 km do seu antecessor.
O processo começa quando o hidrogênio armazenado em tanques de alta pressão é direcionado para a célula de combustível. Lá, ele é combinado com oxigênio do ar. Esta reação química produz eletricidade, água e calor. A eletricidade gerada é usada para alimentar o motor elétrico do veículo. O único subproduto dessa reação é o vapor de água, que é liberado na atmosfera, tornando o veículo limpo e ecológico, na visão da montadora.
O abastecimento do Mirai é semelhante ao processo de abastecimento de um veículo convencional com gasolina ou diesel. Em postos de hidrogênio, o processo de reabastecimento pode ser concluído em aproximadamente cinco minutos, o que é comparável ao tempo gasto para abastecer um carro com combustíveis fósseis.
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