Quanto mais caro, pior! Por que batidas com carrões terminam em perda total

Diversos acidentes envolvendo carros de luxo têm chamado atenção no noticiário, pelas mortes brutais no trânsito ou pelo preço astronômico dos modelos envolvidos. Em casos assim, é comum que veículos estejam sem seguro e acabem com perda total devido ao ocorrido.

Superesportivos de marcas como Ferrari, Lamborghini e Porsche com frequência custam mais de R$ 1 milhão, a depender do modelo. Por isso mesmo, estão ao alcance de uma minúscula parcela de pessoas - especialmente em países como o Brasil. Caros para comprar, podem exigir ainda mais dinheiro na conta bancária se forem danificados em uma colisão.

Existe seguro para essas supermáquinas, é claro. Porém, de tão alto o valor, são poucos os proprietários que investem nessa proteção - ainda que sejam milionários. E, quando um exemplar dessa categoria bate e tem seguro, a chance de a seguradora determinar perda total, ou seja, pagar a indenização integral em vez de autorizar o conserto, é maior na comparação com automóveis comuns. Mesmo em casos nos quais o carro pode ser recuperado perfeitamente.

"Veículos importados, nos quais as peças para substituição e o custo de reparo são mais elevados, podem ser classificados com maior facilidade como indenização integral", confirma Leonardo Ianegitz, diretor de operações da Dekra Brasil - multinacional especializada em inspeção técnica e testes veiculares.

De acordo com o responsável pela oficina de algumas marcas famosas de esportivos, que pediu para não ser identificado, o alto custo para reparar veículos do tipo é explicado por fatores como baixa disponibilidade de peças, mão de obra altamente especializada e a própria fragilidade de componentes de automóveis do tipo.

"Tem muita fibra de carbono e outros materiais caros. Se mais de 30% de uma peça foram danificados, como um para-choque, frequentemente ela é condenada na vistoria do seguro", conta.

A oficina independente Frison, estabelecida na capital paulista, trabalha com carros de luxo e/ou de alta performance e destaca os desafios para consertar automóveis dessa categoria. "Geralmente, o serviço de funilaria e pintura é mais caro sempre que a batida acontece no lado onde fica o compartimento do motor", esclarece Lilian Viana, sócia da oficina.

"No fim do ano passado, reparamos um modelo italiano que bateu a dianteira. O reparo completo saiu por R$ 350 mil, dos quais R$ 40 mil foram só de mão de obra. Se a colisão fosse traseira, onde fica o motor do veículo em questão, a conta ficaria consideravelmente mais alta", conta Viana. "Além disso, poucos se dão conta que o mercado de autopeças não acompanha a depreciação do veículo. O carro pode ser usado, mas a peça tem preço proporcional ao do modelo zero-quilômetro".

Tem, ainda, casos em que o reparo se torna inviável. "Recebemos outro carro que teve uma barra metálica amassada na parte dianteira. Descobrimos que ela faz parte do chassi, que teria de ser inteiramente trocado, juntamente com a carroceria, ao custo de R$ 450 mil. Não foi possível consertar", conta a proprietária.

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"Poucos fazem seguro"

Lilian Viana explica, ainda, por que poucos proprietários de máquinas do tipo fazem o seguro. "Menos de 10% dos meus clientes têm seguro porque não vale a pena. Eles usam o esportivo poucas vezes ao ano e têm carros mais tradicionais para o dia a dia. A relação custo x risco não compensa. Além disso, alguns levam o carro para acelerar em autódromos e o seguro não cobre esse tipo de uso", conta.

Ela dá uma ideia de quanto o seguro pode custar: "Meu sócio tem um Mercedes-Benz Classe G 2015 com kit da Brabus. Há cerca de um ano, pagou R$ 160 mil de seguro, enquanto apenas a franquia ficou em outros R$ 110 mil. Ou seja, se precisasse acionar, gastaria quase R$ 300 mil".

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*Com informações de matéria publicada em 03/09/2019

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