Com gasolina cara, aproveitar oferta e encher tanque até a boca é má ideia
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
20/08/2024 05h30Atualizada em 20/08/2024 12h03
Com o preço do litro da gasolina passando de R$ 7 na capital paulista e até batendo esse valor em outras regiões do Brasil, é natural aproveitar alguma oferta para encher o tanque até quase transbordar.
Também há motoristas que, na busca por melhores preços, adiam o reabastecimento e chegam a rodar bastante tempo com o nível do combustível na reserva.
Saiba que esses extremos fazem mal à saúde do seu carro e, ainda por cima, elevam o consumo.
Com a ajuda de um especialista, explicamos as razões disso, a começar pelo mau hábito de "encher o tanque até a boca".
"Abastecer em excesso o veículo danifica o cânister, que é filtro com carvão ativado responsável por reter os gases provenientes da evaporação do combustível. Esse filtro, geralmente localizado próximo ao tanque, é encharcado, perdendo toda sua eficiência", alerta Everton Lopes, mentor de tecnologia da SAE Brasil.
De acordo com o engenheiro, os vapores que emanam do tanque são altamente tóxicos e poluentes - daí a importância de manter o cânister em bom estado.
A orientação do especialista é parar o abastecimento assim que gatilho for desarmado - o que proporciona nível adequado e seguro.
Tanque cheio, bolso vazio
Mesmo sem encher até a boca, rodar com o tanque na capacidade máxima reduz a eficiência do veículo.
A explicação é simples: quanto mais peso houver a bordo, maior será a quantidade de combustível necessária para percorrer determinada distância.
"A cada 100 kg, o consumo sobe 6%", informa Lopes.
Parece algo inexpressivo, mas é bom não esquecer que esse desperdício vai se acumulando com o passar do tempo. E o prejuízo também.
Portanto, se você dá valor ao seu dinheiro suado, não vale a pena encher o tanque no circuito urbano - prefira fazê-lo somente em caso de necessidade, como em uma viagem mais longa. E sem pedir "chorinho" ao frentista.
Não é só pane seca
Outro extremo não recomendado por Everton Lopes é deixar o tanque constantemente na reserva - o manual do proprietário de qualquer automóvel também condena a prática.
Além do risco de pane seca, que pode causar danos mecânicos e, inclusive, rende multa de trânsito, o consumo também sobe nessa situação.
"O tanque quase vazio significa mais espaço para vaporização do combustível. A taxa de perda por evaporação, portanto, sobe".
A influência no consumo dificilmente será perceptível no momento, mas cobrará seu preço a médio e longo prazo.
Conforme mencionado acima, o vapor proveniente do tanque traz sérios riscos à saúde.
Tanto que, a partir deste ano, começa a implementação gradual da válvula ORVR em todos os veículos flex e a gasolina vendidos no País. O equipamento bloqueia o retorno desses gases durante o abastecimento e os aproveita na combustão do motor.
Bomba queimada
Não bastassem o desperdício e a questão ambiental, abusar da reserva pode pesar muito mais no bolso.
"Mesmo filtrado, o combustível fornecido pelo posto traz partículas que vão parar no tanque do veículo e depois ficam depositadas no fundo do reservatório. Com nível muito baixo, essas partículas acabam no filtro de combustível", explica Lopes.
A sujeira acaba entupindo o filtro, causando perda no desempenho e forçando a bomba de combustível, que encontra maior resistência para enviar o líquido ao motor.
"Essa situação crítica sobrecarrega a bomba e causa sua queima. Mesmo se não houver entupimento do filtro, ela é projetada para estar submersa no combustível, integrada ao corpo da boia. Caso fique exposta, acaba superaquecendo e a chance de queima é elevada".
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