Novata BYD incomoda rivais e já fala em assumir liderança no Brasil

Líder no mercado chinês de veículos eletrificados, a BYD tem planos ambiciosos para o Brasil. Com uma estratégia que combina investimentos significativos, um portfólio diversificado de veículos, expansão industrial e preços atrativos, a montadora já almeja brigar pela liderança do mercado automotivo nacional em pouco tempo.

A meta foi admitida por Alexandre Baldy, ex-ministro das Cidades no governo Temer e que atualmente assumiu o cargo de vice-presidente sênior da BYD no Brasil.

"Com todo o respeito às outras montadoras, os planos são, sim, de assumir a liderança do mercado brasileiro. A combinação de fatores como preço competitivo, design que renova o segmento, tecnologia embarcada de ponta, tornam a BYD a melhor opção", disse Baldy.

Crescimento em vendas

Os números atuais alimentam as metas ambiciosas da BYD. Segundo dados da Fenabrave, a marca chinesa ultrapassou diversas montadoras tradicionais e aparece como na 10ª posição no ranking de vendas em 2024, com 38.540 automóveis vendidos até julho de 2024 (3,75% do mercado). Atualmente alíder entre automóveis e comerciais leves é a Fiat, com 20,79% de participação e 271 mil veículos vendidos este ano.

Entre os elétricos, a BYD ocupa a liderança absoluta com 25.692 unidades vendidas em 2024 - 72,41% de participação de mercado. Entre os sedãs, o King chegou para incomodar a liderança do Toyota Corolla em sua versão híbrida. Já o Song Plus liderou no último mês as vendas dos veículos híbridos plug-in, com 2.139 unidades emplacadas.

Fábricas pelo Brasil e navio gigante contra impostos

Com um investimento anunciado de R$ 5,5 bilhões, a empresa adquiriu o complexo industrial em Camaçari (BA) que pertencia à Ford e se prepara para iniciar sua produção nacional no começo de 2025. Por lá, serão feitos alguns de seus veículos mais vendidos, como Dolphin Mini, Dolphin e Song Plus. O local ainda terá fábrica de chassis para produção de caminhões elétricos.

Atualmente a BYD já possui fábricas de células fotovoltaicas e chassis de ônibus em Campinas (SP) e tem uma unidade dedicada à produção de baterias de fosfato de ferro-lítio em Manaus (AM). Recentemente a montadora revelou planos para incluir uma nova fábrica de peças, baterias, chassis de ônibus e caminhões no Rio Grande do Sul.

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Outro trunfo da montadora chegou ao Brasil faz pouco tempo: um navio cargueiro próprio com capacidade para aproximadamente 7 mil veículos. A embarcação aparece como uma vantagem logística importante para estocar produtos antes de potenciais aumentos de impostos, em busca de preços competitivos e disponibilidade de mercado.

Atualmente a marca chinesa comercializa 10 modelos no Brasil, sendo sete elétricos e três híbridos. Para efeito de comparação, Chevrolet tem 13 veículos em seu portfólio, a Fiat conta com 12 e a Volkswagen oferece oito carros à venda.

A rede de concessionários também passa por uma expansão. De acordo com a marca, o objetivo é chegar a 250 lojas até o fim do ano. Para combater desconfianças sobre a desvalorização de veículos elétricos, a marca anunciou recentemente um programa de recompra garantida

Liderança é possível?

Cassio Pagliarini, consultor da Brigth Consulting, aponta a vantagem competitiva e capacidade de produção como trunfos da marca chinesa. Ele ressalta que, em mercados internacionais, apenas o Brasil tem baixa participação de veículos elétricos ou chineses mesmo apresentando grande volume de vendas de veículos, o que seria uma oportunidade de crescimento para as montadoras asiáticas por aqui.

"Sem dúvida, eles fazem um preço promocional mais baixo no Brasil para ganhar participação de mercado. Agora é difícil saber se isso é benefício de um subsídio do governo chinês. A Europa está com essa batata quente na mão, porque os europeus querem aumentar os impostos alegando subsídios ou dumping, mas têm dificuldades de comprovar que tal prática exista", opina Pagliarini.

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Milad Kalume, consultor automotivo, acredita que a capacidade da China em lidar com altos volumes e menor margem de lucro é insuperável e tem assustado outras montadoras por aqui.

"Ela contratou os melhores profissionais disponíveis para produzir os seus carros, modernizou seus portos e desenvolveu uma cadeia logística eficaz e altamente propícia a atender aquele mercado e os demais (exportação). Ressalta-se também que atualmente mais de 70% das baterias de veículos eletrificados do mundo são chinesas e este mercado já produziu mais de 20 milhões de veículos deste tipo nos dois últimos anos. A BYD faz parte desse processo", disse Kalume.

Já o consultor Ricardo Bacellar avalia que "os chineses estão tirando proveito agora do que fizeram nos últimos 10 anos para ter menores custos de produção, eficiência no chão de fábrica e na logística de distribuição, cadeia de fornecedores bem dimensionada e mão de obra de valor baixo".

"Sem contar que o veículo elétrico é mais barato de produzir porque tem 60% menos peças do que um veículo a combustão, isso colabora com um preço de venda menor, como também reduz sensivelmente os custos de manutenção, o que agrada o consumidor final", concluiu Bacellar.

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