Carros 'quase zero': quando compra com baixa quilometragem é uma furada

A baixa quilometragem é um item muito desejado em carros usados, e exemplares pouco rodados geralmente têm maior valorização no mercado.

Não é por acaso que até hoje vendedores mal-intencionados adulteram o hodômetro para cobrar mais por determinado carro.

Contudo, assumindo que a quilometragem informada é verdadeira, vale destacar que veículos com essa característica não são garantia de bom negócio - especialmente se o exemplar já tiver alguns bons anos de fabricação.

Dependendo da forma como o automóvel já rodou, ele pode apresentar desgaste acentuado de componentes.

Além disso, vale a pena conferir se o plano de manutenções recomendado no manual do proprietário foi obedecido - fluidos e itens de desgaste natural têm troca programada não apenas de acordo com a distância percorrida, mas também seguindo um prazo: vale o que vencer primeiro.

As dicas abaixo foram elaboradas com o auxílio do engenheiro Erwin Franieck, da SAE Brasil.

1 - Evite carros que rodam sempre com motor frio

Motor precisa atingir temperatura de funcionamento ideal para receber lubrificação adequada
Motor precisa atingir temperatura de funcionamento ideal para receber lubrificação adequada Imagem: Divulgação

Se você está considerando comprar um carro diretamente do proprietário, vale a pena perguntar a ele como utiliza ou utilizou o automóvel.

Continua após a publicidade

Caso o vendedor diga que mora perto do trabalho e usa o carro para percorrer poucos quilômetros por dia, ligue o sinal de alerta - recomenda Franieck.

O engenheiro pontua que o motor precisa atingir determinada temperatura para o calor expandir os componentes internos e, assim, proporcionar condições ideais de funcionamento e lubrificação.

Usar o carro continuamente em deslocamentos muito curtos, insuficientes para se atingir a temperatura correta, acelera o desgaste e eleva o consumo de combustível.

"Dirigir durante menos de 15 minutos nem esquenta o óleo do motor, impossibilitando a lubrificação adequada. Tem carro com baixa quilometragem que apresenta até o triplo do desgaste na comparação com um exemplar mais rodado, que no entanto funciona a maior parte do tempo na temperatura ideal".

Erwin Franieck informa que veículos abastecidos com etanol tendem a apresentar mais problemas na "fase fria", especialmente em localidades com temperaturas mais baixas.

"Em dias frios, a partida de motor abastecido com etanol tende a ser mais difícil em carros antigos, sem sistema de pré-aquecimento. Injeta-se mais combustível no arranque e a parte não queimada do etanol gera água como resíduo. Se o motor não esquentar adequadamente, a água não evapora e acaba contaminando o óleo, comprometendo sua performance".

Continua após a publicidade

2 - Fuja de carros usados em condições extremas

Veículos que rodam predominantemente em entradas de terra exigem mais manutenção
Veículos que rodam predominantemente em entradas de terra exigem mais manutenção Imagem: Murilo Góes/UOL

Outro aspecto que relativiza e muito a baixa quilometragem é a utilização em condições que exigem demais do veículo.

O próprio manual do proprietário destaca: carros que rodam predominantemente no anda e para de congestionamentos e/ou em estradas não pavimentadas são consideravelmente mais castigados - a ponto de as montadoras orientarem a encurtar os prazos das revisões programadas, incluindo a substituição do óleo, do respectivo filtro e de outros fluidos.

"Um automóvel utilizado a maior parte do tempo em rodovias tende a estar em melhores condições que outro com quilometragem muito mais baixa, que no entanto rodou apenas na cidade ou em vias de terra", destaca o especialista.

Novamente, Franieck orienta a questionar o vendedor a respeito da utilização.

Continua após a publicidade

3 - Veículo parado por muito tempo exige gastos

Carro parado por muito tempo sofre com efeitos da corrosão e apresenta outros problemas
Carro parado por muito tempo sofre com efeitos da corrosão e apresenta outros problemas Imagem: Arquivo pesoal

Quando um carro mais antigo rodou muito pouco, ele provavelmente permaneceu parado por longo período.

Isso é algo até desejável para quem busca um veículo de coleção e está disposto a pagar bastante por um exemplar totalmente original. Contudo, colecionadores em geral sabem que, após a compra, terão de abrir ainda mais o bolso para colocar o automóvel em boas condições de rodagem.

Franieck alerta: carros foram feitos para rodar e, se permanecerem muito tempo desligados, uma série de componentes se deteriora.

Dependendo do tempo de inatividade, os efeitos mais óbvios são a descarga da bateria e o esvaziamento e a deformação dos pneus.

Continua após a publicidade

Porém, problemas ainda mais graves podem surgir.

"Água e outros fluidos parados durante muito tempo no mesmo lugar aceleram processos corrosivos e contribuem para o ressecamento de borrachas, mangueiras e dutos em geral. É comum a corrosão formada dentro do tanque soltar resíduos que vão parar na bomba de combustível, danificando-a", ensina o engenheiro da SAE Brasil.

Além disso, o próprio combustível sofre degradação, tornando-se inadequado - a gasolina, por exemplo, dentro de cerca de seis meses já não é mais apropriada para uso.

"Se o veículo ficar sem utilização durante período prolongado, o ideal é ter alguém para rodar com ele ao menos uma vez por semana, inclusive para lubrificar rolamentos e componentes da suspensão que precisam se movimentar com regularidade", alerta Erwin Franieck.

4 - Automóvel limpo é um bom termômetro

Carro limpo é indício de que proprietário cuida bem do automóvel que pretende passar adiante
Carro limpo é indício de que proprietário cuida bem do automóvel que pretende passar adiante Imagem: Getty Images
Continua após a publicidade

Carro limpo não é garantia de que vale a pena comprá-lo, mas denota que o proprietário possivelmente cuidou bem dele.

Não feche negócio antes de fazer uma inspeção cuidadosa, incluindo o compartimento do motor. A orientação também está relacionada ao item 2 desta reportagem: encontrar poeira incrustada pode indicar possível uso severo do veículo.

Dê uma olhada no estado das borrachas de vedação das portas:

"Puxe suavemente a borracha da porta, especialmente na parte inferior, junto à soleira. Se houver acúmulo de poeira, é indício de que aquele veículo pode ter rodado mais do que o recomendável em estradas de terra".

Se for possível, coloque o automóvel em um elevador para checar como ele está por baixo e observe também se há terra acumulada na coifa das juntas homocinéticas.

5 - Test-drive e inspeção geral não devem ser ignorados

Rode com o carro antes para identificar eventuais ruídos e leve um mecânico para inspecionar o veículo
Rode com o carro antes para identificar eventuais ruídos e leve um mecânico para inspecionar o veículo Imagem: Getty Images
Continua após a publicidade

Dirigir o carro pretendido é uma ferramenta fundamental para avaliar se vale a pena adquiri-lo. Outra medida importante, se você não for especialista, é levar um mecânico de confiança para inspecionar o veículo - sem contar a verificação prévia de eventuais débitos pendentes e/ou restrições administrativas.

Afinal, como já alertamos nos itens anteriores, baixa quilometragem pode vir acompanhada de manutenção deficiente, uso inadequado/severo e até de alguma batida.

"Fique atento a vibrações e ruídos ao rodar com o automóvel", pontua Franieck.

Esses barulhos, alerta o engenheiro, podem estar relacionados à suspensão, por conta de borrachas ressecadas, incluindo os pneus, e eventuais danos a outros componentes.

Além disso, não deixe de prestar atenção no ruído do motor: oscilações na rotação e falhas podem indicar lubrificação insuficiente, até por conta de óleo vencido, ou uso de combustível adulterado.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.

Deixe seu comentário

Só para assinantes