Por que Brasil tem menos opções de carros que Argentina e isso é bom sinal
O mercado automotivo brasileiro apresenta historicamente um portfólio de veículos novos menos diversificado em comparação com a Argentina. Modelos como a robusta picape Ford F150 Raptor e o aventureiro Bronco são exemplos de veículos disponíveis para os consumidores do país vizinho, mas que ainda não cruzaram as fronteiras para o nosso mercado.
Além desses exemplos citados acima, também é possível verificar que no Brasil não existe ainda modelos como Citroen C5 Aircross ou Nissan X-Trail, nem há planos de trazê-los. Esta diferença no catálogo de ofertas entre os dois países sul-americanos levanta a uma questão: por que a Argentina possui uma gama mais ampla de carros novos em seu portfólio de vendas do que o nosso país?
A resposta para essa pergunta reside nos processos de homologação veicular, que no Brasil são notoriamente mais rigorosos e onerosos. Para que um carro seja vendido em território nacional, ele deve passar por uma série de avaliações que incluem testes de combustíveis, de segurança e de emissão de poluentes.
Essas exigências, embora garantam veículos mais seguros e menos poluentes nas estradas brasileiras, também elevam significativamente os custos para as montadoras, desencorajando a introdução de alguns modelos.
O consultor automotivo Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, explica por que o Brasil é mais rígido na homologação dos carros que entram aqui.
"A diferença principal de outros países para homologar um carro no Brasil é o combustível. Todo carro precisa ser testado com o combustível encontrado no Brasil. Argentina, por exemplo, não tem gasolina com proporção de etanol, então os testes de homologação feitos no exterior valem para lá, mas aqui precisa das análises do motor devido ao diferente combustível brasileiro", explica.
"Os testes de segurança produzidos lá fora são aceitos aqui, mas tudo que é relativo ao combustível precisa ser testado aqui no Brasil. Tanto que os elétricos, por exemplo, não utilizam combustível brasileiro e os testes de segurança feitos na Europa nos padrões mundiais são aceitos", completou Pagliarini.
O caso do Ford Bronco ilustra bem essa situação. Enquanto o modelo já é comercializado na Argentina, a Ford não tem planos imediatos de lançá-lo no Brasil, com exceção da versão Bronco Sport, lançada por aqui já há alguns anos. A marca respondeu em nota que, "oferecemos o que há de melhor em nosso portfólio, com foco na competitividade de nossos produtos. Mas estamos sempre monitorando o mercado, atentos aos desejos dos nossos consumidores".
Situação semelhante ocorre com o Volkswagen Golf GTI, recentemente apresentado um único modelo no Rock in Rio 2024. A empresa informou que ainda está sob estudos para um possível lançamento no mercado brasileiro.
Milad Kalume, especialista em varejo automotivo, avalia que "o Brasil é mais exigente nas políticas de segurança e ambientais para autorizar a venda de veículos automotivos. O que vende aqui não necessariamente vende na mesma proporção em outro país e vice-versa. As marcas levam em consideração o mercado e posicionamento de produto para ter competitividade".
"Não adianta fazer todo o processo de homologação de um veículo novo se no fim as vendas serão traduzidas em poucas unidades; o retorno será muito baixo e não compensaria o investimento e o esforço. O mercado brasileiro é maior e tem potencial para absorver qualquer destes veículos citados, mas estudos das respectivas marcas devem mostrar que a participação de mercado, por determinadas razões, não compensaria, neste momento, trazer o veículo", concluiu.
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