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Tanque cheio proibido e uso obrigatório: segredos para manter carro antigo

Dream Car Museum conta com exposição de mas de 140 carros antigos em São Roque, no interior de SP Imagem: Divulgação

Wandick Donett

Colaboração para o UOL

30/09/2024 05h30

A paixão por carros antigos não se explica, mas a manutenção dessas relíquias automotivas é uma arte que requer dedicação e conhecimento.

Com o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso à informação, cuidar de um veículo de coleção se tornou uma tarefa mais acessível, mas, ainda assim, desafiadora. A manutenção preventiva é a chave para preservar a originalidade dos carros clássicos, garantindo que eles possam continuar a rodar pelas ruas e estradas e encantar os entusiastas por muitos anos.

O primeiro passo para a manutenção adequada de um carro antigo é compreender sua história e suas especificidades.

Cada modelo possui características únicas que devem ser consideradas, desde o tipo de motor até os materiais utilizados em seu acabamento. É essencial buscar informações técnicas detalhadas e, se possível, trocar experiências com outros colecionadores e restauradores experientes. A comunidade de antigomobilismo é vasta e sempre disposta a compartilhar conhecimentos e dicas valiosas.

Guardião do museu

Allex Lourenço é curador do Dream Car Museum, inaugurado em São Roque (SP) como um dos maiores acervos do Brasil no segmento de veículos antigos.

Ele gerencia com cuidado em uma planilha, todos os dias, nada menos que 105 automóveis, 20 motos e 40 bicicletas, totalizando 165 unidades. Quem é apaixonado por carros antigos pode ver de perto modelos de várias décadas que ficaram famosos em todo o mundo, como Ferraris, Mercedes, Cadillacs conversíveis, Buicks, Rolls-Royces, Austin, Chevrolet Corvette e Camaro, Ford Fairlane e Shelby.

Há, inclusive, alguns modelos, como Ferrari, Porsche e Camaro que o público pode reservar e alugar por meia hora. O carro mais antigo que Lourenço cuida é um Cadillac 1906 Victoria Model K. Todos esses carros estão em pleno funcionamento, 100%. Mas como é possível?

"Leva mais ou menos três semanas para ligar e cuidar de todos os carros, para a manutenção adequada. Museu aqui é só no nome, porque usamos bastante os carros, tiramos, damos uma volta na região e participamos de eventos de carros antigos. Temos, por exemplo, um Plymouth Super Bird, rarísssimo, que está no Rio de Janeiro para um evento".

Nada de tanque cheio

Mecânico faz manutenção de motor em oficina Imagem: Getty Images/iStock Photo

Ele afirma que o principal cuidado é revisar bateria e óleo com prazos definidos e ficar de olho no combustível, não pode ficar com tanque cheio.

"Fazemos limpezas diárias, porque nesses carros mais antigos, com menos tecnologia, há maior possibilidade de corrosão e deterioração de materiais, então sigo uma planilha para checar tudo, desde ressecamento de pneus a vazamento de água e combustível. Não há carro velho que não vaza óleo", afirma.

Um aspecto importante na manutenção de carros antigos é a escolha de peças e componentes. A autenticidade é um fator importante para manter o valor histórico do veículo, portanto, sempre que possível, deve-se optar por peças originais ou reproduções de alta qualidade. O mercado de peças para carros clássicos tem crescido. Hoje é possível encontrar fornecedores especializados que oferecem desde peças mecânicas até itens de acabamento que respeitam as especificações originais dos veículos.

De olho nesse mercado, nasceu a oficina MAC Aerografia. Marco Aurélio Cruz, um dos restauradores do extinto programa Lata Velha, do apresentador Luciano Huck, especializou-se em funilaria artesanal e hoje fabrica as peças que não existem mais no mercado. Há dez anos, cuidava apenas de restauração de Kombis, Fuscas e Brasílias, por exemplo, mas já restaurou completamente um Ford 1929, garimpando peças e produzindo as que não encontrava.

Atualmente, sua equipe está cuidando da manutenção dos carros antigos restaurados de 20 clientes.

A preservação da carroceria e da pintura é outro ponto de atenção. Ele conta que carros antigos requerem cuidados especiais para evitar a corrosão e manter o brilho da pintura. Recomenda-se a utilização de ceras protetoras e a realização de polimentos periódicos. Além disso, é importante proteger o veículo das intempéries, armazenando-o em locais cobertos e secos. A exposição prolongada ao sol e à umidade pode acelerar o processo de deterioração dos materiais.

A manutenção mecânica também não deve ser negligenciada. Materiais de borracha como pneus e mangueiras requerem tanta atenção quanto freios, suspensão e transmissão, que precisam de revisões regulares para garantir o funcionamento seguro e eficiente do carro.

No caso de carros antigos, pode ser um desafio encontrar o óleo exato especificado, pois os produtos modernos frequentemente substituem as versões mais antigas. Nessa situação, é importante buscar um óleo que atenda às mesmas especificações de viscosidade e categoria API.

A viscosidade, medida pelo grau SAE, indica a resistência do óleo ao fluxo em determinadas temperaturas. Carros mais antigos podem requerer óleos com viscosidades diferentes dos veículos modernos devido às tolerâncias de construção do motor e aos materiais utilizados na época.

Além disso, deve-se considerar o estado atual do motor. Se o motor foi reconstruído ou está em condições excepcionais, pode ser possível utilizar óleos modernos com aditivos melhorados. No entanto, se o motor mantém muitas de suas peças originais e mostra sinais de desgaste, pode ser mais prudente optar por óleos formulados especificamente para carros antigos. Estes óleos podem conter aditivos que ajudam a proteger componentes mais antigos e a compensar o desgaste natural.

Carros são feitos para rodar

Carro antigo do colecionador Robson Galiano Imagem: Arquivo pessoal

A lubrificação adequada dos componentes é fundamental para evitar desgastes prematuros e falhas mecânicas. Além disso, é recomendável rodar com o veículo periodicamente para manter os sistemas em movimento e evitar problemas decorrentes da inatividade prolongada.

"Carro antigo parado se estraga mais do que rodando", afirma Cruz.

O engenheiro Robson Galiano é um dos seus clientes. Do primeiro carro restaurado em 2012, um Suzuki Swift ano 1996, por uma necessidade de melhorar a aparência do carro para visitar clientes, a brincadeira foi tomando gosto e hoje ele é proprietário de 41 veículos, sendo 20 restaurados e 21 comprados, mas ainda a restaurar.

No portfólio, há desde Fusca, Santana e Brasília, até relíquias como um Ford T-Bucket 1929, limusine Lincoln, ônibus escolar norte-americano e Ford Fairlane 1964.

Poucos desses carros são vendidos, somente quando algum interessado insiste na negociação.

"Paguei R$ 9 mil em um Jeep Willis 1962, gastei R$ 10 mil para restaurar e vendi por R$ 42 mil. Foi assim que descobri que dá para ganhar dinheiro com carros antigos", afirma.

Galiano afirma que a manutenção de carros antigos é uma jornada que exige paciência, pesquisa garimpo e paixão.

"Carro quer andar, nasceu para andar, tem obrigação para manter a manutenção, mas também andando. São tesouros históricos que conectam pessoas. É preciso estudar sobre os carros, conhecer para não ser enrolado. Minha rotina de todo domingo é juntar amigos e parentes e rodar com os carros. Com os cuidados corretos e a atenção aos detalhes, é possível manter essas máquinas do tempo em plena forma, prontas para contar suas histórias e despertar admiração por onde passam".

A dica dele como proprietário é consultar especialistas e clubes de antigomobilismo, pois eles podem oferecer conselhos valiosos baseados em experiências práticas com veículos similares.

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