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Por que Brasil já teve Mercedes com preço de Corolla e isso acabou

Imagem: Divulgação

Wandick Donett

Colaboração para o UOL

05/10/2024 05h30

O mercado automotivo brasileiro já vivenciou uma peculiaridade que não é mais possível: carros de luxo com preços comparáveis aos modelos populares. Esta tendência, que marcou a década passada, viu marcas premium como a Mercedes-Benz oferecerem veículos que competiam em preço por exemplo com um Toyota Corolla, um dos sedãs mais vendidos do país.

Mas essa realidade se transformou, e hoje os "modelos de entrada" das marcas de luxo são uma memória distante. Mas qual a razão dessa mudança estratégica das montadoras?

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Na década passada, houve uma tentativa das montadoras de luxo de 'democratizar' seus produtos e atrair um novo cliente. Versões mais acessíveis de modelos consagrados foram introduzidas no mercado, buscando atrair um público mais amplo.

Exemplos notáveis incluíam a Mercedes Classe C, que chegou a ter uma versão com preço inicial de R$ 119.900 - um valor surpreendentemente próximo ao de veículos considerados mais 'populares'.

Essa abordagem permitiu que uma parcela maior da população de classe média alta experimentasse o prestígio e o conforto associados a marcas premium. A redução de preços foi possível graças a uma série de fatores, incluindo incentivos fiscais, economias de escala e uma estratégia agressiva de marketing para capturar uma fatia maior do mercado automotivo brasileiro.

No entanto, essa tendência não se sustentou. Especialista automotivo, Ricardo Bacellar aponta dois grandes motivos para a mudança: o aumento das regulamentações de emissão de CO2 e a crescente incorporação de tecnologia avançada nos veículos. Ambos os fatores contribuíram para o aumento dos custos de produção, tornando insustentável a manutenção dos preços baixos.

Bacellar afirma que as regulamentações ambientais tornaram-se mais rigorosas, exigindo das montadoras investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento para criar carros que atendessem aos novos padrões. Isso significou uma engenharia mais sofisticada e, consequentemente, mais cara.

"A eletrificação dos veículos também desempenha um papel nesse cenário, representando outro vetor de custo para as montadoras. Paralelamente, a demanda dos consumidores por mais tecnologia embarcada nos veículos aumentou. Itens como sistemas de assistência ao motorista, conectividade avançada e materiais de alta qualidade se tornaram expectativas comuns, mesmo em modelos considerados de entrada. Essa pressão por diferenciação e exclusividade elevou ainda mais os custos de produção", diz Bacellar.

Diante desses desafios, segundo ele, as montadoras optaram por reajustar suas estratégias, focando em produtos de maior valor agregado. "Isso resultou no 'sumiço' dos modelos de entrada, que já não eram mais viáveis economicamente. A estratégia agora é clara: em vez de volume, busca-se margem de lucro, posicionando os veículos de luxo em um patamar ainda mais exclusivo".

Gabriel Valadão, Head de Vendas de Automóveis da Mercedes-Benz Cars & Vans Brasil afirma que "nos últimos anos, desde os automóveis de entrada no portfólio da marca Mercedes-Benz passaram a oferecer um nível de conforto, segurança e exclusividade muito superior ao de uma década atrás, sendo tecnologicamente mais avançados e ambientalmente mais eficientes".

Valadão diz também que o mercado foi "fortemente afetado pela grande variação cambial, pela inflação (que juntos superaram 300%) e pelas diversas revisões tributárias no período, impactando diretamente toda a cadeia de custos de um produto importado. As novas regras de emissões exigiram altos investimentos em motores mais eficientes para atender às novas demandas ambientais. Essa combinação de fatores moldou o cenário atual", explica.

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