Monza venezuelano: como GM driblou proibição e trouxe ao Brasil carro raro
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
19/10/2024 05h30
Atualmente, a Venezuela praticamente não fabrica veículos, mas o mercado automotivo do país vizinho já viveu dias melhores.
Em 1989, os venezuelanos tinham à disposição um Chevrolet Monza montado localmente, melhor do que o brasileiro em alguns aspectos, mas que encalhou nas concessionárias após a chegada do Vectra - projeto muito mais moderno, que seria lançado aqui apenas no fim de 1993.
Para vender o lote encalhado, naquele ano a General Motors enviou ao Brasil aproximadamente 570 unidades zero-quilômetro do Monza venezuelano - que, em tese, não poderia ser vendido aqui. As importações de veículos seriam liberadas em nosso país apenas em 1990.
Na época, a General Motors alegou que se tratava de uma devolução de veículos que tinham sido exportados daqui em peças separadas para posterior montagem na Venezuela, no sistema conhecido como CKD (completely knocked down ou totalmente desmontado).
Não sabemos se o argumento contribuiu para o governo brasileiro abrir a exceção que viabilizou a venda do "Monza Venezuela" em nosso mercado. Contudo, o colecionador de carros antigos Alexandre Badolato sustenta que o veículo foi efetivamente fabricado no país vizinho.
Ele é dono de alguns exemplares do carro venezuelano, incluindo a versão esportiva S/R azul que ilustra esta reportagem.
"A GM do Brasil produzia e enviava para a Venezuela a carroceria desmontada, além do motor e do câmbio. Porém, toda a parte de acabamento, incluindo a forração interna, além de vidros, rodas e bancos, eram fabricados para atender o mercado local. Vários componentes e os próprios carros trazem a inscrição 'hecho en Venezuela' ou feito na Venezuela".
Independentemente do país de origem, o Monza produzido para os venezuelanos tem muitas diferenças em relação ao nosso.
As rodas de liga leve, por exemplo, exibem desenho exclusivo. As mudanças se estendem ao acabamento interno: a configuração S/R troca os bancos Recaro de tecido por confortáveis poltronas de couro, enquanto o Monza Classic traz cabine com detalhes na cor marrom. As opções de cores também diferem de um país para ou outro.
Além disso, o motor 2.0 para aquele mercado é sempre abastecido com gasolina, enquanto aqui o Monza na época era comercializado com propulsor a etanol.
"Nenhum tem desembaçador do vidro traseiro, pois todos são equipados com ar-condicionado e o clima na Venezuela é quente. Para completar, o Monza S/R venezuelano podia ser equipado com transmissão automática e injeção eletrônica de combustível, opcionais então indisponíveis para os brasileiros nessa versão", destaca Badolato.
Além das variantes já citadas, existia a configuração de entrada SL, que já era bem equipada.
No Brasil, o Monza seria ofertado com injeção eletrônica apenas em 1990, quando foi lançada a série especial 500 EF em homenagem à vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis no ano anterior - a edição foi limitada a 5.000 exemplares.
Monza Venezuela teve problema nos Detrans
Outra diferença em relação ao Monza brasileiro é a marcação do chassi - que na Venezuela, ao menos naquele tempo, não era realizada e se limitava à instalação de uma plaqueta. Aqui, o código alfanumérico deve ser gravado diretamente na chapa do automóvel, em uma parte estrutural.
"A General Motors precisou marcar manualmente o chassi dos carros já finalizados no lado direito do fundo do porta-malas. Mesmo assim, por não se tratar da marcação tradicional, houve problema para emplacar e até contratar o seguro desses carros", conta Alexandre.
Quando acontecia algum impasse legal por conta do motivo acima exposto, diz o colecionador, a GM fornecia uma carta que deveria permanecer junto com os demais documentos do veículo, esclarecendo a situação.
"Informamos que o veículo Monza Venezuela trata-se de uma unidade Exportação desmontada (CKD) para a Venezuela e que, após montada naquele país, foi devolvida à GMB, sendo aqui comercializada", diz parte do texto.
Quanto ao valor de mercado desse Monza diferente, ele não é muito cobiçado, apesar da relativa raridade.
"O Monza S/R era muito mais caro do que os rivais VW Gol GT e GTS. Hoje, no entanto, não vale uma fração do preço que tinha quando era vendido zero-quilômetro, enquanto os preços da dupla da Volks dispararam. O venezuelano é visto mais como algo pitoresco e inusitado, nem mais, nem menos. Não é um carro desejado por colecionadores".
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