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Nada de museu: que fim levaram 1º Corsa e outros carros históricos da GM

Primeiro Chevrolet Corsa fabricado no Brasil hoje pertence a colecionador particular Imagem: Arquivo pessoal

Alessandro Reis

DO UOL, em São Paulo (SP)

22/10/2024 05h30

No fim dos anos 1980, por iniciativa de um funcionário, nasceu na General Motors a ideia de construir um museu da Chevrolet no Brasil.

Luiz Fanfa, que trabalhou durante 33 na montadora, começou nessa época a reunir documentos, fotos, equipamentos e, claro, carros da marca, com a expectativa de um dia exibi-los ao público nesse espaço.

O "Museu da GM" foi anunciado no fim de 1996, em cerimônia realizada em São Caetano do Sul (SP), e seria erguido em uma área cedida pela prefeitura do município.

No entanto, poucos anos depois a empresa cancelou o projeto. Cerca de 80 carros históricos que iriam para o museu foram leiloados em 2010 e hoje pertencem a colecionadores - incluindo o primeiro Chevrolet Corsa fabricado no País.

"Quando apresentei a proposta do museu, a diretoria comprou a ideia. Descobri um acervo muito rico, com algo entre 400 mil e 500 mil imagens. Comecei a guardar a primeira e a última unidade fabricada de diversos modelos desde então. A GM também recebeu doações de veículos para o projeto", conta Fanfa, que foi diretor de comunicação da filial brasileira entre 1991 e 2001, quando saiu da General Motors.

Museu da GM ficou na maquete

Luiz Fanfa lembra que chegou a abrir concorrência para tocar o projeto e buscou a consultoria de arquitetos, historiadores e museólogos.

"Por volta de 2000, talvez poucos anos antes, mostrei o projeto já pronto para a diretoria. Mostramos uma maquete perfeita do prédio, tinha até algumas miniaturas de carros clássicos da Chevrolet. Porém, Fritz Henderson, o presidente da GM do Brasil na época, não quis levar adiante a proposta".

Em 2001, Fanfa saiu da empresa e, pouco depois, foi contratado para montar o Museu da Ulbra, uma universidade localizada no Rio Grande do Sul. Ele acabou levando os cerca de 80 carros para este museu, cedidos em comodato pela General Motors.

Porém, em 2009 o Museu da Ulbra fechou as portas e a GM trouxe de volta os veículos para São Paulo. Eles foram, então, guardados em um galpão na fábrica de São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

Naquele ano, a General Motors passava pela maior crise financeira da sua história e a matriz nos EUA pediu concordata. O governo do presidente Barack Obama socorreu a montadora com um aporte de US$ 30,1 bilhões.

"Por decisão da diretoria da GM do Brasil, devolvemos aos antigos proprietários cerca de 30 carros que haviam sido doados. Os 50 que restaram, aproximadamente, foram leiloados para concessionários em 2010. Eu mesmo fiz a avaliação desses veículos para o pregão. Na época, me chamaram de louco por acreditarem que os preços mínimos estavam altos demais. A maioria foi arrematada por quase o dobro", relembra.

Segundo o ex-executivo, "muita gente não gostou da venda", mas na época "a GM estava começando a fazer água, tinha concorrência muito grande" e graves problemas financeiros.

"Foi triste. Esse leilão aconteceu por falta de filosofia, falta de vontade da empresa, falta de vontade política. Queria ficar com todos os carros, mas acabei não comprando nenhum", afirma Fanfa, que hoje está aposentado e é colecionador.

Colecionador tem Corsa número 1

Alguns desses veículos históricos hoje estão com o empresário Alexandre Badolato, que mantém uma coleção na região de Campinas (SP), formada na sua maioria por modelos clássicos da Chrysler do Brasil. No entanto, também guardou espaço para raridades da Chevrolet.

"Tenho o primeiro Corsa produzido no País, o primeiro Omega, um protótipo do Monza S/R, o último Vectra 'B', de segunda geração, e também um dos primeiros Chevette", conta.

Em 2016, Badolato comprou o Corsa e o Omega de outro colecionador, que por sua vez os adquiriu da concessionária Primarca, de São Caetano, onde fica a sede da GM. Essa concessionária arrematou esses e outros veículos no leilão promovido pela montadora há dez anos.

O empresário tem apreço especial pelo Corsa Wind 1993/1994 que adquiriu com cerca de 12 mil km rodados.

"Comprei muito novo, todo original. Esse Corsa, o primeiro fabricado aqui, tem umas manchas na pintura do teto e do capô, que provavelmente foram causadas pela umidade. Devem ter armazenado com uma capa inadequada. Mas deixei como estava. Não iria cometer a heresia de repintar um carro histórico por causa de um negócio desses".

Badolato destaca que o Chevrolet Corsa, um dos carros mais vendidos da história da GM no País, era um modelo "super revolucionário" para sua época, ainda mais comparando com o veículo que ele veio a substituir: o então obsoleto Chevette Júnior.

O Corsa foi projetado na Europa pela Opel, que então pertencia à General Motors, e aqui era produzido na fábrica de São José dos Campos.

Luiz Fanfa também cita o lançamento do Corsa brasileiro, que ele coordenou e teve até evento em Barcelona, na Espanha, para concessionários e imprensa especializada.

"Logo após a estreia, em 1994, a demanda era tão grande que não dávamos conta de produzir unidades suficientes nos primeiros meses. O Corsa era comercializado com ágio. Chegou a um ponto que houve campanha publicitária para a TV, na qual o então vice-presidente André Beer recomendava aguardar o aumento na produção".

Na propaganda, Beer dizia: "A procura pelo Corsa superou todas as nossas expectativas. Por isso, já estamos aumentando mês a mês a sua produção. Portanto, não se preocupem. Ajudem-nos a manter justo o preço do Corsa".

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