Carro 'movido a água': o que falta para nova tecnologia vingar nas garagens

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O hidrogênio tem sido apontado como uma das grandes promessas para a mobilidade sustentável. As montadoras continuam investindo em tecnologias de células de combustível, que funcionam como pequenas usinas dentro dos veículos, convertendo o elemento em eletricidade. Mas será que este é realmente o futuro?

Camilo Adas, conselheiro de Tecnologia e Transição Energética da SAE Brasil, acredita que sim. "Vai vingar, só não sei a qual velocidade será esse futuro. Há um debate sobre isso, qual seja esse futuro. Quando pensamos uma nova tecnologia, há vários itens de complexidade grande, normalmente olhamos um item sem olhar para toda a complexidade".

"Para alcançar a maturidade de tecnologia, pode ser que seja o hidrogênio como célula de combustível que gera eletricidade ou diretamente como combustível, cada uma delas tem um grau de complexidade em diferentes estágios, mas ambos permitem que substitua o carbono", completou.

As complexidades, segundo ele, incluem infraestrutura, legislação e mercado. "Mercado consumidor é o principal, porque há tecnologias que chegaram, mas fizeram voo de galinha, como o Blu-Ray para substituir o DVD e ambas foram substituídas pela Internet rapidamente".

Sua convicção de que o hidrogênio será o combustível do futuro tem o seguinte argumento: as células de combustível de hidrogênio operam de maneira semelhante a uma bateria, mas em vez de armazenar energia, elas a produzem continuamente. O hidrogênio é armazenado em tanques no veículo e, ao reagir com o oxigênio do ar, gera eletricidade para alimentar o motor elétrico. O único subproduto desse processo é a água, o que torna essa tecnologia extremamente limpa.

"Ainda que conviva com outras formas de abastecimento como a combustão, híbrido e híbrido flex, o hidrogênio pode substituir as baterias de carros 100% elétricos, porque é uma tecnologia mais inteligente, porque gera apenas água. Eu entendo que essa probabilidade não é muito longa, é bastante promissora", opina o especialista.

Apesar das vantagens, a produção de hidrogênio ainda enfrenta desafios significativos. A extração do gás requer grande quantidade de energia elétrica, geralmente obtida de fontes não renováveis, o que pode comprometer os benefícios ambientais.

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Além dos desafios técnicos, a infraestrutura para abastecimento ainda é limitada. Nos Estados Unidos, alguns proprietários de carros a hidrogênio enfrentam problemas de abastecimento nos dias mais frios, porque as bombas congelam e precisam esperar até 30 minutos para descongelar e abastecer. Os postos de abastecimento ainda são raros e concentrados em regiões específicas, o que dificulta a adoção em larga escala.

No entanto, com investimentos contínuos e avanços tecnológicos, é possível que essa situação melhore nos próximos anos. Iniciativas como a produção de hidrogênio verde, utilizando energia solar ou eólica, estão ganhando força e podem mudar esse cenário.

Para que essa perspectiva vire realidade aqui no Brasil foi criado um comitê no MDIC (Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio) envolvendo uma integração de 40 pessoas e cerca de 30 empresas. Adas afirma que é uma rede colaborativa, chamada "Made in Brasil - MIB", com grande apetite para garantir que o mercado consumidor se desenvolva aqui no Brasil, na indústria de componentes e sistemas para hidrogênio.

Essas iniciativas, segundo ele, mostram que a indústria automotiva está seriamente comprometida em encontrar alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis.

"Estados Unidos, Alemanha e Coreia do Sul estão mais desenvolvidos, pensemos no que está dando certo e não no que ainda está dando errado. Há problemas, mas numa ótica técnica, a engenharia encontra solução para tudo. Eu vejo que muitas montadoras já venderam muitas unidades, o mercado já nasceu, eu não me assusto que vá se desenvolver, assim como ocorreu com a jornada do etanol aqui no Brasil", disse Adas.

Um dos modelos mais conhecidos que utiliza essa tecnologia é o Toyota Mirai. Este sedã japonês é equipado com três tanques de hidrogênio comprimido, que permitem uma autonomia de cerca de 650 km. O Mirai combina hidrogênio com oxigênio do ar para gerar eletricidade, sem emitir poluentes. Além disso, o veículo oferece uma experiência de condução silenciosa e suave, características típicas dos carros elétricos.

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O Brasil já teve o privilégio de conhecer o Mirai, movido a hidrogênio. Com seus quase cinco metros de comprimento, está construído sobre a plataforma GA-L, compartilhada com o Lexus LS. O design do Mirai permite integrar uma bateria elétrica de 1,2 kW junto a um conjunto de 330 células de hidrogênio.

Estas células têm a função de produzir energia para o motor elétrico. O resultado é uma performance de motor entregando aproximadamente 184 cavalos de potência e um torque de 30,6 kgfm.

O abastecimento do Mirai é rápido e semelhante ao processo de um veículo convencional com gasolina ou diesel. Em postos de hidrogênio, ele pode ser concluído em aproximadamente cinco minutos.

A Hyundai já vende na Coreia do Sul o SUV Nexo e tem um centro de estudos para pesquisas avançadas sobre hidrogênio. O Hyundai Initium movido, a células de hidrogênio, será lançado como protótipo ainda esse mês de novembro nos Estados Unidos e deve começar a ser produzido em escala a partir do primeiro semestre de 2025.

Outras montadoras também estão apostando no hidrogênio. A Stellantis, por exemplo, anunciou planos para lançar veículos com essa tecnologia nos próximos anos. A Nissan também já realiza testes, explorando suas possibilidades e limitações.

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