Como Fusca 'padrinho' salvou casório de apagão e rendeu prêmio em concurso

Era 10 de janeiro de 1969, o tão esperado dia do casamento de Luiz e Cecília Lacerda. A noiva estava ansiosa: pouco antes da cerimônia, marcada para as 19h no bairro Perdizes, na capital paulista, caiu um temporal.

Já na igreja, ela tinha razão para se preocupar: a chuvarada tinha derrubado árvores, travado o trânsito e interrompido o fornecimento de energia elétrica. Para piorar, o noivo ainda não havia chegado.

Logo Luiz apareceu, mas nada de a luz voltar. Como fazer?

Ronaldo Berg, um dos convidados, teve a ideia: usar seu Volkswagen Fusca 1965 vinho para iluminar o altar e salvar o casório.

"Manobrei o carro até a porta da igreja, mal coube entre as colunas, a folga foi mínima. Meu Fusca tinha bateria de 6 volts e faróis de milha instalados com relê, que iluminaram o altar e permitiram, finalmente, aos noivos dizerem 'sim'", conta Berg.

Berg recorda com carinho do seu Fusca, que acabou apelidado como "padrinho de honra" da união e foi uma das atrações do casório.

Fusca usado para iluminar altar foi comprado com ajuda dos pais de Berg; ele pagou dívida em 12 parcelas
Fusca usado para iluminar altar foi comprado com ajuda dos pais de Berg; ele pagou dívida em 12 parcelas Imagem: Arquivo pessoal

Ele tinha adquirido o veículo em 1968, ano em que iniciou a carreira de 30 anos na Volkswagen do Brasil - onde mais tarde desempenharia funções como gerente de assistência técnica de produto e chefe da VW Motorsport, divisão de competição da marca.

"Comprei esse Fusca com a ajuda dos meus pais, que bancaram a compra, para usá-lo nos deslocamentos até a Volks em São Bernardo do Campo [SP]. Paguei a dívida em 12 parcelas com meu salário. ", relembra.

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'Ghost writer'

Folheto do "Grande Concurso Fusca 25 Anos", lançado em fevereiro de 1984
Folheto do "Grande Concurso Fusca 25 Anos", lançado em fevereiro de 1984 Imagem: Arquivo pessoal

Anos mais tarde, em fevereiro de 1984, Ronaldo Berg já tinha vendido o veículo "casamenteiro" e a empresa onde trabalhava lançou um concurso comemorativo aos 25 anos de produção nacional do Fusca.

Seriam selecionadas as melhores histórias envolvendo o carro e os prêmios eram tentadores: o autor do melhor conto ganharia um Fusca 1600 Especial zero-quilômetro, equipado com rodas e pneus de Brasília e faróis de milha Cibié. O segundo colocado levaria um Fusca 1600 convencional.

"Eu já tinha uma história para contar, emocionante e romântica, mas fiquei receoso de me inscrever por ser funcionário da montadora. O formulário estava bem claro, qualquer pessoa poderia concorrer. Não era preciso comprar nada e muito menos ser dono de VW".

Berg tentou convencer o noivo, Luiz Colet Lacerda, para escrever o conto e participar.

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"Ele disse não ter jeito para aquilo. Combinamos que eu, então, escreveria e Lacerda assinaria como se o texto fosse dele. Se o conto vencesse, o Fusca seria meu", relata.

Dito e feito. A história do "padrinho" que iluminou o altar acabou sendo a escolhida pelo júri, formado por jornalistas.

O "ganhador" foi convidado para um almoço na fábrica da Volkswagen no ABC Paulista, após o qual receberia as chaves.

Ronaldo Berg (à esq.) durante entrega de SP2 ao museu da VW em Wolfsburg (Alemanha) em 1985
Ronaldo Berg (à esq.) durante entrega de SP2 ao museu da VW em Wolfsburg (Alemanha) em 1985 Imagem: Arquivo pessoal

"Fiquei só esperando o almoço terminar. Na saída, apenas estendi a mão ao Luiz, que, a contragosto, cumpriu o combinado e me entregou as chaves, mais uma autorização por escrito para eu retirar o Fusca", recorda.

Berg afirma que o casal até hoje está junto e o paradeiro do Fusca "salvador" é desconhecido. Já o Especial que ele levou no "Grande Concurso Fusca 25 anos" como "ghost writer" do noivo também foi passado adiante.

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"Vendi logo depois para a inteirar a entrada para a comprar de uma casa na capital".

*Com informações de matéria publicada em 14/12/2020

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