Como substância proibida que matou turistas pode estar detonando seu carro

Você sabia que uma substância proibida, conhecida por causar danos à saúde e até mortes, pode estar escondida no tanque do seu carro? O metanol, um composto orgânico altamente tóxico, já foi adicionado legalmente ao combustível no passado, mas atualmente é proibido no Brasil devido aos seus efeitos nocivos.

Recentemente, o metanol ganhou destaque após um trágico incidente envolvendo turistas no Laos. Vários turistas morreram após consumirem uma bebida contaminada com metanol, trazendo à tona a periculosidade dessa substância. O metanol pode causar desde problemas respiratórios até cegueira e até mesmo a morte, dependendo da quantidade ingerida.

No Brasil, o metanol já foi utilizado como combustível, especificamente entre 1979 e 1981. Isso ocorreu devido a uma escassez temporária de etanol, que era o combustível alternativo predominante na época. Seu uso foi suspenso devido à natureza corrosiva e tóxica. Mas a adulteração de combustíveis com metanol ainda é um problema recorrente.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) informou em nota ao UOL Carros que "o metanol é classificado como um solvente e seu uso como combustível é proibido no Brasil. As especificações da ANP preveem um máximo de 0,5% de metanol tanto na gasolina quanto no etanol combustível. Caso seja encontrado um percentual acima desse índice, o agente econômico é autuado e o posto de combustíveis pode ser interditado até a remoção do produto contaminado".

No ano passado, a ANP registrou um número recorde de flagrantes de combustíveis contaminados com metanol. Em agosto de 2023, a ANP realizou uma ofensiva contra o uso de metanol por postos de combustível, apreendendo 863 mil litros do produto que seria destinado à adulteração de gasolina e etanol. As ações aconteceram em postos no Sudeste, no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, mas também na Bahia, em Sergipe e no Paraná.

O Instituto Combustível Legal (ICL) alerta que o metanol é proibido no Brasil por ser cancerígeno e perigoso na combustão. A adulteração de gasolina e etanol com metanol pode causar um desgaste enorme no motor, resultando em custos elevados de manutenção e riscos à saúde.

Segundo Emerson Kapaz, presidente do ICL, "os casos de adulteração de combustível por metanol representam um problema grave pelo teor cancerígeno e de elevada periculosidade operacional. O pico de elevados níveis de metanol, encontrados na gasolina e no diesel, ocorreram no primeiro semestre do ano passado". Ele destaca que quase 2 milhões de litros de metanol foram importados no último ano.

Kapaz também explicou que o metanol não pode, por lei, ser utilizado para abastecimento de veículos leves e pesados. "Nós trabalhamos com as autoridades do setor para informar e apoiar com inteligência para evitar que o metanol amplie seus impactos no país", afirmou Kapaz.

O engenheiro Erwin Franieck, presidente do Instituto SAE4Mobility, explicou que o metanol é um sub-produto de processos químicos industriais e é usado em outros processos químicos devido ao seu baixo custo. Ele também destacou que o metanol pode causar danos graves à saúde humana.

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"Metanol, ao entrar na nossa via respiratória ou via ingestão na nossa corrente sanguínea, é uma molécula que com um efeito mais danoso que o monóxido de carbono, gera após 12 horas de exaustão reações bioquímicas que bloqueiam os rins e promovem uma falência progressiva dos órgãos", comentou Franieck.

O litro de metanol é aproximadamente R$ 1 mais barato que o etanol. Desta forma, quadrilhas passaram a usá-lo para adulterar o combustível. Considerando que 121,7 bilhões de litros de combustível são consumidos por ano no Brasil e que, dentro do volume adulterado (3,5 bilhões), 2,7% está contaminado com metanol, temos um volume potencial de mais de 31 milhões de litros de etanol e gasolina misturados com uma substância que oferece alto risco para a saúde e para a mecânica dos veículos.

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