Brincadeira, 'rolê' de carros detonados fugiu do controle, diz organizador

O evento que reuniu centenas de carros parcialmente detonados em São Paulo, circulando por conhecidas vias como a Marginal Tietê e a rodovia dos Bandeirantes na semana passada, fugiu do controle e foi maior do que o esperado. É o que conta o organizador do evento, o influenciador Leo Pest - nome artístico de Leonardo Ferreira dos Santos.

"Nunca foi ideia minha afrontar a autoridade. Era só por diversão, mas apareceu muito carro do nada. Gerou essa bagunça, esse tumulto, e o pessoal quis descer para a rodovia", afirma Leo.

O "rolê dos sem topete", explica, era para ser mais uma brincadeira, limitada à região do Jardim Imperador, na Zona Leste de São Paulo. Mas, com uma ajuda "desconhecida", o rolê cresceu, e houve confiança suficiente para desfilar 150 carros em péssimo estado de conservação em uma das rodovias mais importantes e movimentadas do Brasil.

Ideia que viralizou

Na bio do Instagram, Leo Pest se define como um "digital má influência". Seu conteúdo mistura postagens à beira-mar com gracinhas junto a amigos e vizinhos. Uma presença constante nos vídeos é seu Gol de primeira geração, com teto e colunas cortados e carroceria colorida, cujos seguidores podem escrever os arrobas de seus perfis nas redes sociais.

O "rolê dos sem topete" não passaria de algo parecido, imaginava. Mas passou e muito: ao fim do dia, o comboio estava a 50 km dali, em Caieiras. Pega de surpresa, a Polícia Rodoviária Estadual havia detido cinco carros, sendo que um tinha registros de roubo ou furto, e, ao invés de ser levado ao pátio, foi encaminhado para a delegacia.

Volkswagen Gol foi cortado de maneira artesanal e não oferece segurança exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro
Volkswagen Gol foi cortado de maneira artesanal e não oferece segurança exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro Imagem: Instagram

O UOL Carros apurou que, com um efetivo planejado para um domingo comum, a PM sequer conseguiria deter o desfile. O objetivo foi reduzir danos e realizar as apreensões possíveis.

Continua após a publicidade

Também teriam ocorrido falhas de comunicação entre os agentes de trânsito: "Passamos por várias viaturas na cidade e só quando já estávamos na estrada apareceu um carro. Mas ele não conseguiu fazer nada contra tanta gente", disse um participante.

Comboio dos "sem topete" na entrada da rodovia dos Bandeirantes
Comboio dos "sem topete" na entrada da rodovia dos Bandeirantes Imagem: Reprodução

Ao longo de aproximadamente 20 km, os policiais tentaram uma abordagem pacífica, mas só conseguiram parar alguns veículos ao ameaçarem atirar. Mesmo assim, vários participantes publicaram vídeos em que desmoralizavam os policiais nas suas redes.

Longe das coisas erradas

Para reforçar sua palavra, Leo explica que está em uma nova fase da vida, longe de problemas. "Desde cedo eu estive no crime. Fui para a cadeia e perdi meu pai e minha mãe. Isso me fez pensar nas coisas e decidi largar a vida errada".

Com 60 mil seguidores, ele é considerado um microinfluenciador. De um lado, é um público menor. Do outro, a maioria dos seguidores tem realidade socioeconômica e contexto cultural muito parecidos.

Continua após a publicidade

Em escala local, microinfluenciadores são muito mais persuasivos do que grandes celebridades. É o que explica um documento do Influencer Marketing Hub, agência que aprimora técnicas de marketing e monetização no mundo inteiro.

Mas há um detalhe nessa história: uma ajuda misteriosa, que Leo não quis revelar. Há indícios de que seja um influenciador com cerca de 10 milhões de seguidores no Instagram, que teria repostado os stories originais de Leo convocando o passeio.

Ele não respondeu ao contato da reportagem, mas a teoria é reforçada pelos relatos de que a maioria dos carros veio da Zona Leste, e a republicação fez com que gente de fora engrossasse o comboio.

Diante da proporção do caso, Leo comemora o engajamento e conta que o dinheiro das redes vem transformando sua vida profundamente. Segundo ele, boa parte do que ganha é destinada a ações de caridade no seu bairro, até como contrapartida à participação dos vizinhos em suas ideias.

Um próximo "rolê dos sem topete" em vias públicas está descartado. O agitador, entretanto, diz que já foi contatado por pessoas interessadas em levar essa subcultura a ambientes fechados, onde futuras edições ocorreriam sem riscos graves à vida e sem um extenso rol de infrações ao Código de Trânsito Brasileiro.

38 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Rodrigo Soares de Mello

Tremenda falta de respeito com quem mantém IPVA em dia e automóvel em plenas condições de uso, incluindo segurança. 

Denunciar

Eduardo Diniz

Isso que eu chamo de desmoralizar legal a polícia rodoviária. Os caras não têm condição de evitar um bando de lata velha circular numa estrada importantíssima. Que humilhação.

Denunciar

Walter André Marques

Querem fazer um evento desses, façam num local fechado, autódromo, sambódromo, qq coisa assim. Agora colocar em risco os demais que estão nas rodovias, sendo famílias e muitas vezes com pessoas idosas ou crianças, é muita irresponsabilidade. Por mim teriam que mandar todos para o pátio e processarem esses meliantes. É muita irresponsabilidade de chamado "Influencer"

Denunciar