Ferdinand Piëch transformou VW em gigante, mas acionistas temem pelo futuro
Poucos legados são totalmente bons ou ruins. A atual administração da Volkswagen pode ser perdoada por se sentir particularmente ambivalente em relação à herança de Ferdinand Piëch, ex-presidente-executivo e ex-presidente do grupo automotivo, que morreu aos 82 anos no domingo.
Quando Piëch assumiu o cargo de CEO da VW em 1993, 250 mil funcionários produziram naquele ano cerca de 3 milhões de veículos e a empresa reportou perda de 2 bilhões de marcos alemães (US$ 1 bilhão ou cerca de R$ 4,13 bilhões na conversão direta).
No momento em que Piëch foi promovido a presidente, em 2002, cargo que ocupou até 2015, cerca de 30% a mais de trabalhadores produziram cerca de 70% a mais de carros e geraram um lucro líquido de 2,6 bilhões de euros (US$ 1,5 bilhão ou R$ 6,2 bilhões). Em outras palavras, uma montadora alemã falida tinha se tornado um gigante global lucrativo.
Piëch herdou o espírito de seu avô Ferdinand Porsche, que desenvolveu o Fusca, um produto barato para produzir. O neto, por sua vez, foi pioneiro na produção "modular", em que vários modelos diferentes usam peças iguais ou semelhantes. Também dentro do espírito do avô Porsche, que fundou a fabricante de carros esportivos de mesmo nome, Ferdinand Piëch fez com que a VW comprasse as marcas de luxo Bentley, Lamborghini e Bugatti, além de transformar a Audi em um produto premium muito procurado.
As muitas aquisições de Piëch funcionaram principalmente em uma indústria que tende a recompensar a escala. Mas tamanho nem sempre foi amigo da VW.
Do lado potencialmente positivo, Herbert Diess, o atual CEO, acha que o peso da VW vai lhe dar uma vantagem nos carros elétricos. Mais negativamente, a margem de lucro bruto da empresa em 2019 será menor do que a de concorrentes europeias como Peugeot e Renault, segundo dados do "Refinitiv".
Acionistas céticos sobre futuro
Os acionistas estão céticos sobre o futuro da VW. Seu lucro futuro estimado por ação é 23% abaixo da média das montadoras globais, de acordo com o "Refinitiv". Os analistas da "Evercore" acreditam que o negócio da Porsche, por si só, poderia obter uma capitalização de mercado superior aos 72 bilhões de euros (cerca de R$ 297 bilhões) da VW, supondo que ela fosse desmembrada da dívida.
"Dieselgate"
Menos tangível, mas talvez mais prejudicial, é o legado da governança autocrática de Piëch. O medo que ele inspirou não apenas silenciou a dissidência, mas, combinado com as altas expectativas que ele estabeleceu, contribuiu para a dispendiosa crise de emissões de diesel da VW.
Ele renunciou ao cargo de presidente da Volkswagen em abril de 2015, depois de se desentender com o seu diretor executivo Martin Winterkorn. O escândalo de fraude de emissões, o "dieselgate", surgiria apenas alguns meses depois.
A família Porsche-Piëch, que ainda controla a empresa com mais de 50% do capital votante, há muito parece se importar mais com a glória e o império. Como o reinado de Piëch mostrou, isso vem com um custo.
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