Dia de piloto

Mostramos como funciona o curso que te ensina a acelerar fundo um esportivo de luxo

Rafaela Borges Colaboração para o UOL Rafaela Borges/UOL

Em quase 20 anos de carreira como jornalista especializada em automóveis, já fiz diversos cursos de direção. Entre eles, um de pilotagem esportiva, para aprender a guiar legal em uma pista. Mas que tal um programa para testar em um circuito todos os esportivos de uma montadora?

Essa é a proposta do Audi Driving Experience, programa que foi retomado pela montadora alemã em 2021 - já houve outras edições no passado.

Será que vale a pena investir em um "dia de piloto" e aprender a utilizar todos os (muitos) recursos de um esportivo de luxo? É o que vamos mostrar a partir de agora.

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Diversão com carros esportivos de 600 cv

Nossa experiência foi realizada no circuito Panamericano, em Elias Fausto, a cerca de 140 km da capital paulista, em dois finais de semana.

Já há mais duas edições programadas, que podem ocorrer ainda em 2021 nas regiões Sul e Nordeste do Brasil. Mais detalhes sobre essas experiências serão divulgados em breve pela montadora.

O Audi Driving Experience tem preço de R$ 6 mil. Para clientes dos modelos RS, o valor é de R$ 4.500 e para donos do R8 e do RS e-tron GT, a R$ 3 mil. Os participantes ganham capacete, camiseta, boné e alguns presentinhos de marcas parceiras, como a Trosseau.

Há duas opções de curso, ambas das 8h às 17h. O Sport Pro é voltado a experiências na pista e feito com o Audi do cliente. Não é obrigatório, mas esse programa é indicado a pessoas que já tenham boa experiência em dirigir em condições de pista.

Já o Dynamic traz exercícios para entender as respostas e o funcionamento dos equipamentos do veículo durante a manhã. À tarde, os participantes vão para a pista. No programa, a experiência é com carros esportivos da frota da Audi do Brasil.

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As máquinas

Os carros mais poderosos dessa experiência são os superesportivos. O R8 é um dos poucos modelos do mercado mundial a manter o motor V10. Trata-se de um 5.2 que entrega 610 cv de potência. Com um som de arrepiar, sem aquela sensação abafada que as turbinas provocam, o carro é feito sobre a mesma base do Lamborghini Huracan e acelera de 0 a 100 km/h em apenas 3,2 segundos.

O RS e-tron GT é igualmente rápido, mas não traz aquela sinfonia linda que tanto agrada os amantes de experiências na pista. 100% elétrico, é na verdade muito silencioso. Por outro lado, mostra no circuito que modelos a eletricidade têm muita esportividade a entregar e um ímpeto brutal de acelerar. Automóvel de série mais potente da Audi, ele tem até 646 cv e crava em 3,3 segundos o 0 a 100 km/h.

A turma dos V8 é representada pela emblemática perua RS6 Avant, o sedã RS7 Sportback e o SUV RS e-tron GT. Todos têm um biturbo de 4 litros e, mesmo com as turbinas, roncam alto. O câmbio, dependendo do modo de condução escolhido, faz aquele barulho que lembra uma pequena explosão nas reduções de marcha. Os modelos aceleram de 0 a 100 km/h em menos de 4 segundos.

Há ainda dois representantes do motor V6, o sedã RS5 Sportback e a perua RS4 Avant. O propulsor de 2,9 litros entrega 450 cv e dá aos carros a impressionante relação peso-potência de 3,8 kg/cv. São modelos leves para toda essa potência, que aceleram muito forte e vão de 0 a 100 km/h em 4,1 segundos.

O TT RS e o RS Q3 são da turma dos motores de cinco cilindros. Mais precisamente, um 2.5 turbo com 400 cv. Só que o SUV faz 0 a 100 km/h em 4,5 segundos e o cupê, em 3,7 segundos.

O levíssimo TT RS é o modelo que mais combina com as condições da pista rápida do circuito Panamericano. Ele é um devorador de curvas, com o curto entre-eixos que reforça ainda mais a estabilidade. E tem mais: este é o último TT que você vai ver. A Audi não vai investir em uma nova geração do modelo. Deixará saudades.

Exercícios de preparação

Rafaela Borges/UOL
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Eu fiz o programa Dynamic e meu dia começou com alguns exercícios: slalom, saída de frente, desvio de obstáculo, launch control e frenagem. Para ser sincera, achei essa etapa um tanto banal e cansativa, mas talvez isso seja pela razão que descrevi na abertura do texto: já fiz inúmeros cursos de direção, inclusive um idêntico ao oferecido pelo Dynamic.

Porém, para quem ainda não tem tanta vivência na pista, esse é um programa muito importante. O slalom permite se familiarizar com as reações do carro, seu tempo de resposta e ajuda a reagir rapidamente a algumas situações do cotidiano.

O exercício consiste em zigue-zague em cones alinhados. O objetivo é cumprir a missão no menor tempo possível e sem derrubar nenhum cone. Eu derrubei vários em minha primeira tentativa, mas depois peguei o jeito. Nesse módulo, são usados os modelos RS4 Avant e RS5 Sportback.

Já a saída de frente é em rotatória, com pista molhada. Em velocidade alta, o carro escapa de dianteira, e os instrutores ensinam como conseguir manter o controle nesses casos. Para esse módulo estão disponíveis a RS6 Avant e o RS7 Sportback.

O desvio de obstáculo é feito com o cupê TT RS, que deve atingir até 70 km/ antes de desviar de um cone central e em um espaço reduzido. É o exercício mais difícil da manhã. Em quatro tentativas, só consegui manter todos os obstáculos de pé em uma, a primeira. Depois, fui aumentando a velocidade e "perdi a mão".

Aqui, o objetivo é aprender a lidar com situações de emergência no trânsito, quando há pouco espaço e tempo para reagir. Já o launch control é o ponto alto da parte de exercícios da manhã e usa os dois superesportivos da Audi: o V10 aspirado R8 e o elétrico RS e-tron GT.

Os dois carros são equipados com o launch control, ou controle de largada. É preciso segurar o freio e, ao mesmo tempo, pressionar com força o pedal do acelerador, até a arrancada, para cumprir no menor tempo possível o 0 a 100 km/h. Com o RS e-tron GT, minha marca foi de 3,3 segundos.

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Na pista

Toda essa preparação culmina no momento mais esperado do programa: as voltas na pista mais rápida do circuito Panamericano. É uma pena que o R8 e RS e-tron GT fiquem de fora dessa sessão. Mas carros incríveis não faltam. Todos são RS, a gasolina, com potências entre 400 cv e 600 cv - nesse caso, além da RS6 Avant e do RS7 Sportback, há o SUV RS Q8.

Os outros modelos que são levados para a pista são o TT RS, RS5 Sportback, RS4 Avant e RS Q3. Antes da experiência, há um briefing, ministrado por pilotos profissionais, sobre a dinâmica da sessão e as medidas de segurança.

Os participantes, então, recebem balaclava e capacete e escolhem uma das três filas, cada uma com quatro carros. Na minha, estavam disponíveis o TT RS, o RS Q8, o RS7 e a RS4. Cada participante dirige todos os modelos da fila - são cinco voltas para cada automóvel -, e a velocidade vai aumentando no decorrer da sessão, que dura a tarde toda.

Em cada um dos carros, eu fui sozinha, mas a fila é comandada por um veículo conduzido por piloto profissional - no meu caso, o sedã A4. O carro não tem o ímpeto e a preparação esportiva dos usados pelos participantes. E isso pode ser um problema: na reta principal, em nenhuma passagem consegui atingir o máximo potencial de aceleração.

Era sempre preciso tirar o pé após alguns metros. No programa Dynamic, dá para explorar o potencial dos veículos, fazer curvas e frenagens fortes e se divertir bastante. Dependendo do carro, há derrapagens, saídas de dianteira que exigem bom controle e saídas de curvas avassaladoras.

Mas não dá para levar o carro ao limite. Esse não é o objetivo do módulo. Para quem tem mais experiência e quer mais adrenalina na pista, o ideal é o Sport Pro. Já para aqueles que não são figurinhas carimbadas nos track days da vida, o Dynamic é uma fonte de muita diversão.

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Vale a pena?

Se você quer aprender a dominar um carro na pista e se tornar um adepto dos track days, talvez seu melhor investimento seja um curso de direção esportiva, que bate na casa dos R$ 10 mil. Ali, é treinamento puro, aprendendo a controlar o carro e dominar um circuito. Provavelmente, você vai sair dessa experiência pronto para fazer bonito nos dias de pista com os amigos.

O Audi Driving Experience tem uma proposta diferente. Ele dá a todos que possam pagar a possibilidade de guiar na pista uma variedade de carros esportivos, um depois do outro. Há tanta tecnologia para conhecer que mesmo eu, que já cansei de guiar todos a maioria desses carros, me surpreendi.

Há algumas coisas que a gente só descobre para que realmente servem na pista, levando um veículo ao extremo. Mas sabe o que foi mais legal? Guiar uma RS4, um RS7 e um TT RS um após o outro. As diferenças de comportamento entre os carros ficam totalmente evidentes.

Sou uma fã de carteirinha da perua RS6 mas, na pista, acabei preferindo a RS4, que tem entre-eixos menor, menos auxílios à pilotagem e permite um maior controle do motorista, algo crucial em uma experiência de pista.

Mas fiquei ainda mais chocada comigo mesma ao eleger o meu preferido na sessão de pista: TT RS. Antes, eu, que não dirigia o cupê há muito tempo, estava até com um certo preconceito em relação a ele. Depois, não queria mais sair do volante dessa máquina.

Montadoras costumam oferecer constantemente experiências na pista para clientes e convidados, algo que acabou não ocorrendo mais com frequência no período de pandemia. O diferencial do Driving Experience da Audi é que o programa não precisa de convite. Basta pagar e ir.

Meu veredito é: o programa vale a pena demais. E o Dynamic pode ser até mais interessante que o Sport Pro, pois neste você não terá a variedade de carros incríveis para alcançar as mesmas sensações que descrevi. No módulo mais esportivo, é um carro só: o seu.

Até para quem já tem carros RS a experiência é legal. Talvez, até mais legal. Os clientes, que participaram do Audi Driving Experience no mesmo dia que eu, saíram maravilhados com o programa. Às 17h de uma quinta-feira, todos no circuito Panamericano tinham um sorriso de felicidade no rosto.

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