Falar do legado do Senna para os carro de passeio é falar de sua obsessão pela perfeição -- algo emocionanante para os apaixonados por carros, e claro, apaixonados por Senna. Basta olhar para os dois carros que Ayrton mantinha aqui no Brasil, em ótimo estado de conservação até hoje.
Deixa para falarmos de novo do Honda NSX 1991, modelo 1992, a lendária "Ferrari japonesa" que Ayrton ajudou a desenvolver. Melhor: ajudou a salvar de um possível fracasso. Foi Senna quem fez os ajustes finais do NSX. Mas a primeira parte do desenvolvimento teve participação ativa de Satoru Nakajima, piloto japonês de Fórmula 1, companheiro de Senna nos tempos de Lotus, e que em cinco anos de competição a categoria máxima ficou conhecido por não somar pontos e colecionar trapalhadas.
Não tinha como dar assim tão certo para quem conhece a história.
Com protótipo pronto, Senna pegou o carro para acelerar alguns dias na lendária pista de Nürburgring (Alemanha), área preferencial para testes de supercarros, e deu as dicas para o sucesso. Deu tão certo, que a marca japonesa guardou as indicações passadas pelo brasileiro e as utilizou, acredite você ou não, na segunda geração do NSX, que só ganhou vida 22 anos após a morte do piloto.
Foi o primeiro esportivo de verdade da marca, com motor central traseiro e tração traseira, por coincidência a mesma concepção do McLaren Senna hoje. O motor V6 de 3 litros gerava 270 cv e 30 kgfm de torque só em 5.500 rpm, rotações bem altas e dignas de carros feitos para a pista.
Com isso, era mais rápido que a Ferrari 328, custando a metade do preço. Ia de 0 a 100 em 5,9 segundos e chegava aos 272 km/h de máxima, um absurdo para um carro japonês da época.
Esse carro tinha uma posição de guiar espetacular, controle de tração que era algo bem raro na época, faróis escamoteáveis, um câmbio manual magnífico e algumas coisas especiais que nos anos 1990, só gente com a grana e a importância do Ayrton Senna poderiam exigir.
Caso do sistema de som Bose, com equalizador Kenwood e som tridimensional padrão Dolby (em dobradinha nipo-americana), bem como do... telefone celular onboard. Sim, um telefone móvel no carro, que tinha sinal via antena colocada no alto do cockpit.
Carro pronto, Senna recebeu uma unidade para uso em São Paulo em 1991, ano de seu terceiro e último título com a imbatível dupla McLaren-Honda na F-1, e na placa tratou de homenagear sua mais importante conquista, a do primeiro mundial, em 1988.
Na placa cinza do carro estão as letras BSS. Elas significam "Beco", apelido de família, "Senna" e "Silva". O numeral 8888 faz referência à primeira conquista e também ao apreço de Senna pelo número 8. Só isso já tornaria o exemplar único e especial, na raridade sem preço que é. Aliás, Senna também usou padrão parecido em outro modelo, este com a placa BSS-8855.