Em São Paulo, uma moto sobe a rua em velocidade. O jovem que a conduz diminui a marcha e joga o corpo para trás. Após acelerar, empina o quadro e se equilibra só na roda traseira. Ao chegar a 90 graus de inclinação, raspa a placa no chão. Enquanto pousa a roda dianteira no asfalto, ele acelera até o motor atingir sua capacidade máxima de giro. Esse corte do giro é o que provoca um estrondoso "ran-dan-dan-dan" ou "bololô" - a depender de quem escuta.
Descrita acima, a manobra conhecida como grau é moda entre jovens motociclistas da periferia, que driblam a polícia e enfurecem moradores. Além disso, cometem uma infração gravíssima de trânsito e arriscam a vida. Empinar motos só perde para a ausência de capacete entre a imprudência, segunda maior causa de acidentes sobre duas rodas, mostra uma pesquisa.
Nada disso, porém, afasta do asfalto os grauzeiros. Nem poderia. Alguns deles contaram ao UOL Carros que a moto é lazer só aos domingos. Nos outros dias, é objeto de trabalho, pois trabalham como entregadores. De tão entranhado à rotina de comunidades, o grau ganhou status de cultura e já molda a linguagem desses jovens e permeia a música que faz a cabeça deles, o funk.
Ainda vistas com maus olhos na periferia, as manobras ganham ares de esporte em outros ambientes. E, no Congresso Nacional, já contam com uma defensora, a deputada federal Alessandra Silva (PSL-MG), apelidada de "madrinha do grau".