Enquanto diversos países da Europa já lançaram cronogramas para a proibição do carro a combustão e várias montadoras anunciaram a extinção desses modelos em suas linhas a curto prazo (veja quadro), o Brasil está fora da corrida tecnológica pelo modelo elétrico. Por aqui, a eletrificação é abraçada por importadoras, principalmente pelas marcas de veículos de luxo, que vendem automóveis de nicho.
A Audi se destaca nesse contexto, com quatro modelos a eletricidade em sua gama (e promessa de novos lançamentos em breve) e investimento em rede de recarga (parte dela em parceria com as duas outras marcas do Grupo Volkswagen que atuam no Brasil, VW e Porsche). A partir de 2033, a empresa não lançará mais novos carros 100% a combustão.
De 2031 em diante, modelos sem eletrificação já não farão parte da linha Audi. Embora, no Brasil, a Mercedes-Benz esteja menos engajada no causa do carro elétrico do que a rival, a empresa não terá, em breve, alternativa que não seja comprar essa ideia.
Recentemente, a Mercedes-Benz anunciou que, a partir de 2025, vai priorizar arquiteturas para modelos elétricos, embora não tenha descartado completamente o carro a combustão. Marcas como Volvo, BMW e Mini também vão seguir esses cronogramas.
Como no Brasil nenhuma dessas empresas tem centro de desenvolvimento, a eletrificação é inevitável para as gamas oferecidas em território nacional. Já as principais montadoras do País, que vendem modelos em alto volume, não estão abraçando a ideia do veículo elétrico como carro-chefe.
Para elas, o Brasil já tem uma fonte sustentável e com baixo índice de poluição: o etanol. A principal entusiasta dessa ideia é a Volkswagen. Enquanto a matriz anuncia planos de eletrificação ambiciosos no mundo, a subsidiária brasileira vai implementar um centro de estudos e desenvolvimento para o biocombustível, em parceria com universidades e com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol (atrás dos Estados Unidos) e domina a tecnologia. No centro de estudos, o principal objetivo é desenvolver novas tecnologias que aumentem a produtividade do bicombustível.
Com isso, a Volkswagen quer se tornar um centro de desenvolvimento de tecnologias de etanol para mercados emergentes que não estejam no caminho da eletrificação total. "Entre os exemplos, há a Índia e a África do Sul, diz o presidente da VW do Brasil, Pablo di Si.
De acordo com o executivo, o desenvolvimento do carro a etanol tornará a Volkswagen em um centro de exportação de tecnologia e fortalecerá a relevância da subsidiária na estratégia global do conglomerado automotivo. "Poderíamos abraçar a ideia da eletrificação total, mas isso significaria fechar todas as nossas fábricas no Brasil e ter apenas veículos importados", diz Di Si.
"Nossa aposta para o futuro do Brasil tem três pilares e o carro elétrico é um deles. Os demais são o veículo a etanol e o híbrido a etanol", afirma. A VW quer desenvolver essa última tecnologia e exportá-la a diversos países.
Em breve, a linha nacional da marca terá um carro com motor elétrico combinado a um propulsor a etanol. A Toyota saiu na frente nessa corrida, com o Corolla, há dois anos, e o Corolla Cross, lançado no início deste ano.
De acordo com Di Si, a Volkswagen do Brasil tem condições de manter o desenvolvimento para novas tecnologias de motores a combustão independente da matriz, que vai parar de investir em inovações para a tecnologia.
Maior montadora do Brasil, a Stellantis (reúne marcas como Fiat, Jeep, Ram, Peugeot e Citroën) anunciou em meados de julho um ambicioso plano de eletrificação global, com investimento de 30 bilhões de euros. A expectativa é de que, até 2030, 70% dos veículos vendidos na Europa e 40% dos entregues nos EUA sejam eletrificados.
A subsidiária brasileira ainda está estudando a realidade do Brasil no contexto da eletrificação. "Considerando a importância do etanol, estamos desenvolvendo o planejamento estratégico para uma propulsão de baixo carbono no Brasil e na América Latina", informa em nota.
De acordo com uma fonte da Stellantis, o grupo, no Brasil, não vai virar uma Tesla (marca que só vende carros elétricos) em tão curto prazo. O processo de transição será longo e o etanol, uma peça fundamental.