Com a bola toda

Ex-jogador de futebol, Pablo Di Si aplica ensinamentos do esporte no dia a dia e prevê ano bom para a VW

Daniel Neves, Fernando Calmon e Vitor Matsubara Do UOL, em São Paulo (SP) Lucas Seixas/UOL

Foi em julho de 2018 que Pablo Di Si trocou seu impecável terno azul por um traje bem mais informal. Devidamente vestido com camiseta, shorts e chuteiras, o presidente da Volkswagen literalmente entrou em campo durante o evento de lançamento dos novos Gol e Voyage com câmbio automático.

Muita gente se espantou com aquela cena e até achou graça, mas a partida foi apenas mais uma no currículo de quem já jogou futebol na Argentina. Pablo atuou nas categorias de base do Huracán e não esconde sua torcida pelo River Plate - até as cores de seu uniforme foram cuidadosamente escolhidas para lembrar o clube de Buenos Aires.

Só mesmo alguém com fôlego de atleta para aguentar o ritmo frenético dos lançamentos da Volkswagen. Desde 2017, a empresa assumiu o compromisso de realizar 20 lançamentos até 2020. Até agora já foram 16 carros em 20 meses, e vem mais por aí. "Continuamos com nosso planejamento, mas pode ser que um deles escape (para 2021)", admite.

O executivo recebeu a reportagem do UOL Carros em um bate-papo de mais de 1h. Falou sobre as lições trazidas dos tempos de jogador, dos próximos projetos da Volkswagen e fez sua análise sobre o futuro da mobilidade.

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Assista à íntegra da entrevista com o presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si, no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler o texto.

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"Eu não nasci presidente"

Pensar em comandar uma das principais montadoras não estava entre os primeiros sonhos de Pablo Di Si, nascido em uma família humilde na Argentina. O pai era estivador no porto de Buenos Aires, enquanto a mãe trabalhava como costureira.

O futebol era uma das válvulas de escape. Dos 14 aos 17 anos, tentou a sorte como volante das categorias de base do Huracán, time da primeira divisão da Argentina. Se a carreira no futebol não decolou, serviu como cartão de visitas ao enviar pedido de bolsa de estudos a 15 universidades americanas.

"Saí de uma família muito humilde na Argentina. Ninguém me deu nada de presente. Fui pegar uma bolsa de estudos de futebol, nos EUA, e tiveram muitas noites em que eu não jantei. Então, ninguém me deu nada. Como tudo na vida, você precisa correr atrás das coisas, ter o compromisso, ter a vontade e a educação é fundamental".

Di Si afirma ter aprendido mais com o futebol que com a vida acadêmica. Dos tempos de jogador, tenta trazer para o dia a dia os ensinamentos sobre trabalho em equipe e as relações interpessoais.

"O mais importante é que as pessoas tenham espírito de time, que trabalhemos de forma transversal, não importa a posição ou número da camisa, camisa número 5, camisa número 10 ou camisa número 9, o que importa é que o time ganhe".

Você pode estar perdendo por 1 a 0, 2 a 0 e criar resiliência e vontade de virar o jogo. O Brasil, ou qualquer outro país, você precisa de muita resiliência, especialmente nos períodos de crise"

Pablo Di Si, sobre os ensinamentos do futebol

No fim do dia, trabalho na Volkswagen como se eu trabalhasse na minha própria empresa. Tomo decisões como se fosse o meu próprio dinheiro e trato as pessoas como quando eu jogava futebol no Huracán"

Pablo Di Si, sobre seu estilo de comando na VW

Acho que hoje, mais do que nunca, é muito importante ser fiel ao estilo de cada um e saber quais são os meus pontos fortes e quais são os pontos que eu preciso melhorar e ser autêntico"

Pablo Di Si,, ainda sobre sua atuação na VW

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Nova relação com o cliente

Após perder espaço no mercado para rivais em anos anteriores, a Volkswagen mostrou recuperação em 2019. Cresceu cerca de 12%, muito por conta do sucesso de seu primeiro SUV lançado no Brasil, o T-Cross, em uma sequência de 14 lançamentos em 18 meses.

Além dos novos produtos, um dos focos da empresa tem sido novas formas de relacionamento com o consumidor. Uma das iniciativas foi o programa de revisões grátis, adotado desde 2018.

Já no ano passado, colocou em prática plano piloto de concessionária digital, em que o vendedor vai até o cliente e apresenta o produto através de realidade aumentada e óculos 3D.

"O consumidor quer reduzir o tempo que ele ou ela passa no processo de compra, seja para adquirir um carro ou um sofá. Então, nosso trabalho é que essa experiência seja agradável, digital e o mais breve possível", explicou Di Si.

"Obviamente que, quando um cliente procura um carro, ele ou ela já se informou sobre o produto. O diferencial está no design, na conectividade e também no nível de serviço que você oferece ao cliente".

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Apoio às reformas

Pablo Di Si engrossa o coro de executivos favoráveis às reformas estruturais colocadas em prática no País nos últimos anos. Segundo o presidente da VW, o acordo obtido sobre a Previdência foi "histórico".

"Em qualquer país do mundo, é muito difícil que você tenha o Governo Federal, os estados, a mídia, as empresas, todo mundo desejando essa mudança e ela ser aprovada. Para mim, um tempo recorde. Então, isso é muito positivo".

Para o executivo, a Reforma Tributária não será tão simples de ser aprovada, já que envolve diferentes impostos de esferas diferentes. Para Di Si, a mudança precisa ser aplicada com urgência para trazer competitividade aos produtos produzidos no Brasil.

"Dependendo do produto, você pode ter entre US$ 2 mil a US$ 4 mil, US$ 5 mil de impostos exportados. Isso pode funcionar aqui no Brasil, mas por que uma pessoa na Rússia, na Alemanha, nos EUA vai pagar um imposto brasileiro? Ninguém vai pagar".

É fundamental começar a mudar a parte tributária do país porque se o Mercosul e a União Europeia chegarem num acordo em 2028, nós vamos precisar ser eficientes. Hoje em dia, não somos eficientes"

Pablo Di Si, sobre a Reforma Tributária

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Sucesso passa pelos SUVs

A projeção de crescimento da Volkswagen para os próximos anos passa pelo sucesso dos SUVs. A montadora entrou de forma tardia na disputa, mas atingiu 12% de participação no mercado com o sucesso do T-Cross.

A grande aposta do momento é o lançamento do Nivus, previsto para o primeiro semestre de 2020.

"O T-Cross foi lançado com muito sucesso e ainda não chegamos ao nosso teto. Acredito que o Nivus também vai ser um divisor de águas, porque, além do design, toda a parte digital e de interface com a qual o consumidor interage foi desenvolvida aqui", comentou Di Si.

"Acho que o segmento de SUVs vai continuar crescendo de forma robusta aqui, no Brasil, e na América Latina. Vai chegar a 30% das vendas nos próximos anos, de forma tranquila. Hoje está em torno de 24%, 25%".

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Dieselgate mudou a VW

Cinco anos atrás, a Volkswagen se viu envolvida em um escândalo de escala global. Foi descoberto que a montadora alemã utilizou técnicas fraudulentas, entre 2009 e 2015, para burlar testes regulatórios de poluentes de motores a diesel.

O caso, descoberto nos Estados Unidos, afetou cerca de 11 milhões de carros produzidos em todo o mundo, de vários modelos produzidos por marcas ligadas ao grupo. O presidente do grupo, Martin Winterkorn, pediu demissão e vários diretores foram afastados.

No Brasil, 17 mil unidades da Amarok possuíam o software fraudulento, que segundo a montadora não estava ativado. O fato, porém, rendeu multas de Ibama e Procon, que chegaram a R$ 58 milhões somadas - a empresa recorreu contra as punições na Justiça.

"O primeiro passo quando você erra é assumir que você errou. Nós, como empresa, admitimos publicamente que erramos e tivemos uma grande mudança no corpo diretivo, o presidente, quase todo o conselho mudou. De lá pra cá, nós temos, hoje, uma nova Volkswagen", contou Di Si.

"A cultura da empresa mudou de forma positiva. É uma empresa muito mais aberta, muito mais humana. Uma cultura de poder falar que um processo está errado", completou.

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Elétricos, mas de forma gradual

Além das mudanças internas, um dos reflexos mais visíveis do Dieselgate na Volkswagen foi o investimento da montadora em veículos de energia limpa, em especial os veículos elétricos. Até 2028, serão lançados ao todo 70 novos modelos.

No Brasil, porém, a mudança deve ser mais gradual. A montadora tem como estratégia para os próximos anos apostar em veículos híbridos, dado a malha ainda incipiente de postos de recarga para elétricos.

"Se eu trouxesse o carro puramente elétrico, hoje em dia, não teria tantos postos para carregar. Então, nossa face estratégica, nós vamos trazer seis carros elétricos híbridos nos próximos cinco anos. Começaremos pelos híbridos nos primeiros anos, depois iremos para o elétrico"

"Essa mudança, especificamente, no Brasil, não vai ser de um dia para o outro. Acho que todo mundo tem que contribuir com o Brasil. O governo, os estados, os municípios, as empresas. Se todas as empresas começarem a colocar seus esforços e colocar carregadores espalhados pelo Brasil, daqui três, quatro anos vai ficar mais fácil de chegar lá".

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