Nissan Kicks x VW T-Cross

Renovado, o SUV da marca japonesa traz mais tecnologia para encarar o VW T-Cross Comfortline

José Antonio Leme Do UOL, em São Paulo (SP) Simon Plestenjak/UOL

Depois de cinco anos de mercado, o Nissan Kicks ganha sua primeira reestilização. O modelo que foi criado, projetado e desenvolvido no e para o Brasil, se tornou um produto global que faz sucesso em diversos mercados e virou o carro-chefe (com o perdão do trocadilho) da Nissan por aqui.

Ainda em 2021, mas já como linha 2022, o SUV compacto tem sua primeira alteração de visual, equipamentos e nomenclaturas. Ele chega com itens que outros concorrentes carecem de oferecer, mesmo que eles estejam só versão de topo - como é o caso do Kicks.

Do outro lado do "ringue" está o grande sucesso de 2020 da categoria: O VW T-Cross. O SUV compacto da Volks teve um ganho surpreendente de mercado e conseguiu a liderança no último ano, com mais de 60 mil unidades emplacadas. Com uma ampla gama de versões, aqui se apresenta na versão Comfortline, a mais completa com o motor 1.0 turbo.

Agora, entre japonês ou alemão, motor aspirado ou turbo, quem levou a melhor? É o que vamos evidenciar abaixo!

Simon Plestenjak/UOL
Simon Plestenjak/UOL

Nissan Kicks Exclusive

Preço: R$ 119.890

Motor: 1.6, 16V, 4 cilindros, aspirado, flex

Câmbio: automático, do tipo CVT

Potência: 114 cv a 5.600 rpm

Torque: 15,5 kgfm a 4.000 rpm

Consumo: 7,6 km/l / 9,3 km/l (etanol) - 11,3 km/l / 13,6 km/l (gas.)

0 a 100 km/h: n/d

Velocidade máxima: 175 km/h

Dimensões: comprimento, 4,31 m; largura, 1,76 m; altura, 1,59 m; entre-eixos, 2,61 m

Peso: 1.139 kg

Porta-malas: 432 litros

Tanque: 41 litros

Murilo Góes/UOL

VW T-Cross Comfortline

Preço: R$ 121.090

Motor: 1.0, 12V, 3 cilindros, turbo, flex

Câmbio: automático de seis marchas

Potência: 128 cv / 116 cv a 5.500 rpm

Torque: 20,4 kgfm a 2.000 rpm

Consumo: 7,6 km/l / 9,5 km/l (etanol) - 10,8 km/l / 13,4 km/l (gas.)

0 a 100 km/h: 10,4 s (etanol) / 10,9 (gas.)

Velocidade máxima: 184 km/h (etanol) / 179 km/h (gas.)

Dimensões: comprimento, 4,19 m; largura, 1,76 m; altura, 1,56 m; entre-eixos, 2,65 m

Peso: 1.305 kg

Porta-malas: 373 litros

Tanque: 52 litros

Simon Plestenjak/UOL Simon Plestenjak/UOL

Design

Criativo e moderno, Kicks sobra em visual

O Kicks se sobressai no quesito design e não precisa ser nenhum especialista no assunto para perceber. Se antes ele já chamava a atenção nas ruas por seu visual moderno e inovador, que deu ao modelo um caráter mais jovial, agora, com as mudanças no conjunto, ele está ainda mais atraente.

Os novos faróis, mais afilados e largos em associação com a grade frontal que faz parte da nova linguagem visual da Nissan, deixaram o SUV compacto com um aspecto mais "malvado". Se antes ele era bonitinho, porém com linhas mais delicadas, agora está mais agressivo, com uma maior sensação de esportividade. Na traseira, novo posicionamento das luzes, sem alterar as lanternas e a barra refletiva que as une, como na versão americana, dão um aspecto do Kicks ser mais largo.

Já no caso do T-Cross, apesar de ter um caráter próprio de design que, pouco ou muito, o difere dos demais SUVs da companhia, tem o aspecto de visual plastificado que a última geração do DNA visual da VW aplicou aos carros. Na dianteira, são pequenos detalhes na grade que faz a diferenciação entre as versões, mas ainda assim mantém um aspecto generalista.

Na traseira, uma similaridade entre os pequenos SUVs é a barra refletiva também presente no T-Cross. Esse componente dá um ar de sofisticação ao modelo, mas ainda assim não tira o ar mais sisudo do compacto da Volkswagen, especialmente se comparado ao Kicks.

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Equipamentos

Kicks na versão de topo está mais completo e seguro

O Kicks Exclusive + Pack Tech, que é a versão mais completa possível, dá um banho de equipamentos no rival da VW. Para se equiparar, seria preciso optar pela versão Highline do T-Cross, que só é vendida com a motorização 1.4 turbo de 150 cv e começa em R$ 130 mil.

Nessa opção bem recheada, o Kicks traz ar-condicionado automático e digital, retrovisor eletrocrômico, painel semivirtual de 7" com velocímetro analógico, chave presencial com partida por botão, acabamento de couro sintético nos bancos, faróis e lanternas de LEDs e o sistema de câmera 360º, formado por quatro câmeras foram uma visão aérea do carro e há sensores de estacionamento traseiros.

A central multimídia com tela de 8 polegadas tem entradas USB do tipo A (convencional) e C (menor, mas mais veloz para carregar ou transferir dados) e integração a Android Auto e Apple CarPlay. O sistema de som é Bose e oferece um diferencial que é um alto-falante no apoio de cabeça do motorista e permite alterar como o som é distribuído dentro da cabine.

Apesar disso tudo, é nos itens de segurança ativa e passiva que o Kicks se destaca. Ele traz itens que o T-Cross também oferece, como seis airbags, controles de tração e estabilidade, e assistente de partida em rampa. Mas também conta com alertas de ponto cego, de tráfego traseiro cruzado, de saída da faixa de rodagem, farol alto automático e, por fim, o alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência.

A favor do T-Cross há o painel de instrumentos 100% virtual que permite alterar a configuração como os itens são projetados e a central multimídia VW Play, mais completa e interativa. Ela permite usar uma série de aplicativos, como Waze e Spotify diretamente dela. Além disso, dá acesso a vários componentes do veículo, como abertura do porta-malas.

O T-Cross tem apenas câmera de ré, contra as quatro do Kicks, mas por outro lado traz sensor de estacionamento dianteiro e traseiro. Por dentro, outra vantagem é a opção de troca de marchas por meio de aletas atrás do volante, enquanto o Kicks não permite trocas manuais.

No T-Cross, para ter acesso a itens como sistema de som premium da Beats ou faróis de LEDs, é preciso optar pela versão Highline, além de um pacote que traz outros itens e custa R$ 6.750.

Sendo assim, vitória para o Kicks nesse quesito, com um pacote de itens mais completo.

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Vida a bordo

Com medidas semelhantes, T-Cross tem mais conforto

Se os dois modelos têm medidas de comprimentos e entre-eixos parecidas, ainda assim há uma série de diferenças entre Kicks e T-Cross.

Em termos de acabamento, o Kicks tenta passar a impressão de ter mais cuidado nesse sentido ao usar uma faixa de couro por cima do acabamento com espuma (soft touch) em todo o painel, mas as portas lembram que o plástico utilizado é de baixa qualidade. No caso do T-Cross, a tentativa de melhorar a imagem é por meio de uma faixa colorida em plástico brilhante, mas que destoa de todo o restante da cabine em termos de acabamento.

O espaço para os ocupantes é ligeiramente menor no Kicks, especialmente para quem vai atrás. Na frente é confortável e a posição de guiar é fácil de encontrar. Pessoas com mais 1,90 metro sentirão uma certa dificuldade de encontrar a posição adequada de condução. Isso porque, mesmo na posição mais baixa, o banco do motorista continua elevado.

Apesar de firmes demais, os bancos são confortáveis, mas poderiam se ajustar melhor nas laterais para segurar os ocupantes da frente. Se falta espaço para três adultos viajarem com conforto no Kicks, devido ao túnel central, o porta-malas é uma grata surpresa. Ele oferece bons 432 litros de para as bagagens - uma das maiores capacidades do segmento.

No T-Cross, a construção sobre a moderna plataforma MQB traz suas vantagens. A posição de condução é mais ampla e permite ajustar o banco em um ponto mais próximo do assoalho do que o Kicks. Com isso, quem optar pelo SUV, mas gosta da posição de guiar mais ao estilo de um hatch ou sedã tem essa opção com ele.

Os bancos são mais macios para quem terá que passar muito tempo atrás do volante e os porta-objetos estão são mais amplos e melhores dispostos que do Kicks.

Com o mesmo entre-eixos do sedã Virtus, o T-Cross aposta em um espaço mais amplo no banco traseiro para os ocupantes e melhora a vida a bordo para três ocupantes, mesmo com o túnel central presente ali. Por outro lado, ele peca em termos de porta-malas, onde oferece 373 litros.

Sendo assim, vitória para o Volkswagen T-Cross.

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Custo-benefício

Kicks de topo custa menos e oferece mais

O Kicks Exclusive Pack Tech custa R$ 119.890 e é o mesmo preço que era exigido pela versão de topo pré-reestilização. A Nissan apostou na estratégia ousada de alterar o visual e a lista de equipamentos, mas sem mexer nos preços de todas as versões. No caso do VW T-Cross Comfortline, o preço parte de R$ 121.090 na linha 2021.

Com intervalo de 10 mil km entre as revisões para os dois modelos, a Volks joga com as três primeiras manutenções gratuitas, como ocorre também para os demais produtos da plataforma MQB (Polo, Virtus, Tiguan e Nivus). É uma tentativa de mitigar o preço maior.

Somadas, as três primeiras revisões do Kicks custam R$ 1.430, enquanto a diferença na tabela entre os carros é de exatos R$ 1.200. Então, você pode até não pagar as revisões no caso do T-Cross, mas elas acabam embutidas no valor final do veículo.

Levando em conta que a lista de equipamentos do Kicks é amplamente maior, aposta em itens de segurança e um porta-malas superior, não tem como proporcionar um custo-benefício melhor que o dele em termos gerais.

Murilo Góes/UOL Murilo Góes/UOL

Desempenho

Motor turbo do T-Cross faz a diferença

Como dito no início desse comparativo, uma das diferenças entre Nissan Kicks e VW T-Cross é o motor. A marca japonesa manteve a receita de motor aspirado, enquanto a alemã aposta em motorização turbo para toda a linha do T-Cross.

No caso do Kicks é o 1.6, quatro cilindros, aspirado, que rende 114 cv e 15,5 mkgf com gasolina ou etanol. O câmbio é o automático do tipo CVT (relações continuamente variáveis) com função Sport. Esse é o mesmo motor que já equipava o SUV antes das mudanças e também está presente no "irmão" Versa.

Se você é daqueles que se empolga ao dirigir ou busca emoção atrás do volante, o Kicks não é o mais indicado. O modelo tem respostas lentas, especialmente em retomadas e ultrapassagens, culpa, em muito, da combinação do motor aspirado que entrega o ápice do torque em rotações elevadas - 4.000 rpm - com o CVT.

Em termos de suspensão, o Kicks vai muito bem e já está adaptado ao Brasil. Mas, se pegar buracos ou um piso mais irregular, será inevitável ouvir ou sentir o solavanco dado na suspensão. A direção elétrica poderia ser mais bem calibrada, com maior resistência a velocidades de rodovia. A 120 km/h o carro parece bobo.

Já o T-Cross traz o 1.0, três cilindros, turbo, que desenvolve até 128 cv e 20,4 mkgf com etanol. Com gasolina os números são de 116 cv e 20,4 mkgf. O câmbio é sempre o automático de seis marchas com opção de trocas pela alavanca e também por aletas atrás do volante.

O fato de oferecer trocas manuais já reforça um caráter mais esportivo do T-Cross em termos de desempenho. O torque de 5 mkgf extras em relação ao Kicks e que chega mais cedo - a partir de 2.000 rpm, deixa o carro mais esperto e pronto para retomadas e ultrapassagens. O câmbio automático com conversor de torque também ajuda ter reações mais rápidas.

A suspensão do T-Cross proporciona um bom equilíbrio entre esportividade e conforto para o uso familiar. Mesmo em piso irregular, o comportamento é exemplar, tanto em filtrar as imperfeições quanto em manter o conforto e o silêncio da cabine. O sistema de direção elétrica tem um melhor ajuste que do Kicks. Ele é capaz de passar uma resposta mais precisa ao motorista do que acontece entre no contato dos pneus com o piso e proporciona mudanças de direção mais ágeis.

Em termos de consumo, Nissan Kicks e Volkswagen T-Cross estão parelhos. O Kicks faz 7,6 km/l na cidade e 9,3 km/l na estrada com etanol. Com gasolina os números vão a 11,3 km/l e 13,6 km/l. Já o T-Cross entrega 7,6 km/l na cidade e 9,5 km/l na estrada. Quando abastecido com combustível fóssil, os dados vão a 10,8 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada.

Com melhor desempenho em todos os aspectos e consumo equivalente, vitória para o T-Cross nesse quesito.

Simon Plestenjak/UOL Simon Plestenjak/UOL

Vencedor: Kicks

Pacote completo, visual arrebatador e preço melhor

O Nissan Kicks 2022 pode não ser o mais potente, com o melhor desempenho, mas mesmo quem gosta de dirigir se rende ao completo pacote oferecido pelo modelo na versão de topo. O T-Cross tem sim suas particularidades e também suas qualidades.

Se o Kicks veio com uma artilharia pesada em itens que se tornam cada vez mais relevantes aos compradores dispostos a gastar mais de R$ 100 mil em termos de tecnologia, conectividade e segurança, o T-Cross aposta suas fichas em quem gosta de dirigir e em um desempenho mais convincente.

Faltou ao T-Cross oferecer mais tecnologia que vá além da moderníssima central multimídia, desenvolvida para atender o público brasileiro e seus desejos, e do motor turbo - uma tendência que não vai parar e que, em breve, o Kicks também será obrigado a fazer a mudança.

Apesar de seus bons predicados, o T-Cross não foi páreo dessa vez ao Kicks, que venceu pelo conjunto.

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