A segunda reestilização da atual geração da S10 pode dividir opiniões. As maiores mudanças aconteceram na versão High Country, que traz nova grade frontal e para-choque dianteiro redesenhado.

Nitidamente inspirada na Silverado norte-americana, a frente ganhou mais "cara de mau" com uma peça inteiramente preta. Há uma barra horizontal na cor preta com o nome "Chevrolet" em alto relevo. Logo abaixo está a tradicional gravatinha dourada em posição descentralizada.

A receita caiu bem na S10, que ganhou fôlego novo mesmo com uma atualização tão sutil. Em contrapartida, a traseira permanece exatamente a mesma de antes, sem qualquer tipo de modificação.

A Ranger, por sua vez, preserva o visual da sutil reestlização feita em 2019, que trouxe grade e para-choque dianteiro redesenhados. Embora ainda tenha uma aparência atual, ela parece um pouco defasada - e discreta - perto da concorrente.

É provável que alguns prefiram a elegância da Ranger com seus detalhes cromados, enquanto outros gostem mais da cara de poucos amigos da S10. Colocando essas preferências de lado, a picape da Chevrolet tem um visual mais moderno e chama mais atenção. Assim, o primeiro ponto vai para a S10.

As picapes conseguem um excelente equilíbrio entre a robustez de um utilitário (que vez ou outra beira até a rusticidade) com a sofisticação de um automóvel de passeio.

Sendo assim, Ranger e S10 recebem muito bem os passageiros, que se sentem dentro de um sedã. A cabine da representante da GM é mais bem acabada e traz uma imitação de couro revestindo a parte superior do painel e costuras aparentes de muito bom gosto.

A concorrente não fica atrás. Apesar de exibir maior quantidade de plástico duro no acabamento, a Ranger dá o troco com apliques prateados imitando alumínio.

A exemplo do que acontece em outras picapes, ambas aproveitam várias peças internas de modelos mais baratos. As alavancas de seta e dos comandos dos limpadores de para-brisa da S10, por exemplo, são as mesmas do Onix. No caso da Ranger, vários botões vieram do finado Fiesta, como o comando dos espelhos retrovisores elétricos.

Os botões da S10 são mais fáceis de localizar e operar, algo que não acontece nos controles de ar-condicionado da Ranger, por exemplo.

A picape da Ford contra-ataca com uma ergonomia muito superior, já que a maioria dos comandos fica ao alcance das mãos do motorista, como o seletor da tração 4x4 e outras funções. Além de mais bonito, o volante oferece melhor empunhadura e os comandos de som e piloto automático são mais fáceis de operar.

No geral, a Ranger ganha por fazer os ocupantes se sentirem mais acolhidos e exigir menos tempo de adaptação dos passageiros para sentirem-se à vontade.

Não é exagero dizer que as picapes são iguais em muita coisa. Até a potência delas são de exatos 200 cv.

Porém, a S10 se destaca no torque máximo: são 51 kgfm a 2.000 rpm contra 47,9 kgfm a 1.750 rpm.

Essa diferença se reflete tanto na teoria quanto na prática. Na aceleração de 0 a 100 km/h, a picape da Chevrolet precisa de 10,1 segundos, enquanto a rival faz a mesma tarefa em 11,6 segundos.

Ao volante, a S10 é bem mais ágil em praticamente todas as situações. A transmissão automática de seis marchas funciona de maneira mais suave do que na Ranger, já que o motorista sente menos as trocas.

A direção tem comportamento seguro nas duas picapes, embora a Ranger apresente uma leve tendência de instabilidade acima dos 100 km/h, algo que não acontece na S10. Fora isso, o modelo da Ford é um pouco mais suscetível a ventos laterais com a caçamba vazia.

Os números de consumo também são ligeiramente melhores na picape da Chevrolet: 8,7 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada contra 8,6 km/l e 9,9 km/l da concorrente.

Aqui não é difícil concluir que a vitória fica com a S10.

Não foi só o design que melhorou com a linha 2021 da S10. A picape ganhou mais itens de série: 6 airbags agora vêm de fábrica em todas as versões (antes eram exclusividade da High Country).

Ainda na segurança, ela ganhou frenagem autônoma de emergência e sistema de detecção de pedestres, que se somam aos já existentes alerta de colisão frontal, controles de estabilidade e de tração e alerta de saída de faixa de rolagem.

Mesmo assim, ela não consegue ser páreo para a Ranger, que não só oferecia estes itens como já trazia a mais o airbag para joelhos do motorista, piloto automático adaptativo, leitura de placas de trânsito e alerta de permanência em faixa com correção de trajetória.

A superioridade da picape da Ford fica ainda maior ao analisarmos a lista completa de equipamentos. Só ela traz faróis com luzes baixas de xênon, farol alto com facho automático, sensor de fadiga, destravamento das portas sem chave, sistema anticapotamento e partida do motor por botão.

Quanto à S10, suas exclusividades estão na oferta de internet 4G nativa com Wi-Fi e do sistema de telemática e concièrge OnStar, ambos com funcionamento mediante pagamento de mensalidades.

No final das contas, a superioridade é evidente a favor da Ranger.

Apesar de serem rivais diretas, existe uma diferença de respeitáveis R$ 6.600 separando S10 e Ranger.

Enquanto o modelo da Ford sai por R$ 219.890 na versão Limited, a picape da Chevrolet custa R$ 213.290.

Fora isso, o custo total das seis primeiras revisões da S10 é de R$ 6.060, pouco a menos do que os R$ 6.284 pedidos pela rede autorizada Ford para realizar as mesmas manutenções.

Assim, a diferença de preço sugerido entre elas é suficiente para pagar as revisões de 10 mil a 60 mil quilômetros da S10 e encher o tanque duas vezes, levando em consideração o valor médio do óleo diesel em São Paulo (SP) no fechamento desta reportagem.

A superioridade da S10 também está presente no preço médio do seguro (R$ 5.600 contra R$ 5.800) e até no valor do IPVA.

S10 e Ranger sempre travam duelos equilibrados - e claro que não seria diferente desta vez.

As mudanças vieram em boa hora para a picape da GM, que ganhou fôlego para se manter competitiva no segmento de picapes médias. A oferta de internet 4G com Wi-Fi é um diferencial na categoria, embora dificilmente seja um fator decisivo de compra.

Quem escolher a S10 deverá fazê-lo pelo design mais agressivo, melhor desempenho ou pelo menor custo de manutenção, quesitos nos quais a picape também se saiu melhor no nosso duelo.

É claro que a Ranger vendeu (muito) caro a vitória para a S10. Bem equipada e mais requintada, a picape da Ford tem uma condução mais parecida com a de um automóvel, algo que agrada alguns e nem tanto a outros. Seja como for, o modelo permanece como uma das melhores opções do segmento ao lado de sua rival.