Carros conectados

Muito além do wi-fi: veículos estão se tornando 'inteligentes' e se tornando grandes smartphones

Rafaela Borges Colaboração para o UOL

Acesso à internet via wi-fi, aplicativos com funcionalidades que vão desde monitorar a saúde ou o bem estar do usuário até realizar compras ou assistir a filmes online. Não, não estamos falando dos smartphones. A revolução que atingiu a telefonia nas últimas décadas chega agora aos carros, com modelos cada vez mais inteligentes e conectados.

Desde o entretenimento a bordo até a condução de veículos autônomos, empresas de tecnologia estão cada vez mais envolvidas em projetos de mobilidade e mostram que o caminho do automóvel é se tornar muito mais que um simples meio de transporte.

Neste episódio da série Transporte do Futuro, explicamos o que já é realidade em termos de conectividade e quais os projetos em andamento - que passam pela implementação da tecnologia 5G.

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Carros se transformarão em "smartphones"

É fácil associar carro conectado a Wi-Fi a bordo, solução que já existe há pelo menos uma década na Europa, e que chegou, no Brasil, até ao popular Chevrolet Onix. Mas conectar o carro à rede é um conceito que vai muito além da internet sem fio. Os próximos passos dessa conexão serão fundamentais para revolucionar a mobilidade.

A conectividade vai permitir a comunicação entre carros, e a do automóvel com o entorno, para aprimorar o bem estar a bordo e, principalmente, a segurança tanto no trânsito quanto a bordo.

"Com a evolução da conectividade, o melhor momento não será aquele em que se tira o carro da concessionária, pois ele passará por atualizações constantes, em diversos aspectos, via rede", explica o mentor de tecnologia e inovação para sistemas autônomos da SAE Brasil, Jonathan Marxen. Na prática, o automóvel passará a ser capaz de executar muitas das funções que hoje já estão disponíveis em um smartphone.

"Por meio da conectividade, o carro poderá avisar diretamente à concessionária da rodovia sobre a ocorrência de um acidente", explica Marxen. Já há tecnologias, como as usadas por Volvo e BMW e até por veículos mais populares da Ford que têm conexão direta com concessionárias ou serviços de socorro após acidente.

Porém, nesses casos, o usuário do veículo é obrigado a acionar o socorro. Com a evolução da conectividade embarcada, ele não precisará tomar nenhuma atitude. O carro já identificará a ocorrência de acidente por meio de padrões, que podem ser, por exemplo, a explosão do airbag. Com isso, enviará o alerta.

É a conectividade também promete reduzir congestionamentos e e contribuir para a redução de acidentes nas vias. Por meio da conexão entre veículos (sistema chamado de V2V) e dos carros com as rodovias, será formada uma grande rede de dados em tempo real, com informações instantâneas sobre tráfego, condições da estrada e ocorrência de acidentes.

Veículos e rodovias vão transformar como uma grande rede interligada, capazes de transmitir alta quantidade de dados uns para os outros. Isso poderá ocorrer também de maneira automática, sem necessidade de intervenção do usuário. O carro, por meio de suas câmeras e sensores capazes de avaliar padrões de comportamento de rodagem e até de mecânica, ficará responsável por transmitir os dados.

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Escritório ou sala de estar a bordo

Sem o carro conectado, não existirá veículo autônomo. Uma vez que esse tipo de automóvel chegar, algo previsto para ocorrer em 2021 (em uma primeira etapa, apenas em rodovias), a conexão poderá criar inúmeras possibilidades dentro da cabine.

A transmissão rápida de dados e a realidade aumentada transformarão o para-brisa do veículo em uma grande tela. Por meio dela, o usuário poderá assistir programações de streamings de vídeo, como Netflix e Amazon Prime, e fazer reuniões em vídeo de dentro do veículo.

O carro também se transformará em um escritório, com conexão rápida para permitir que o usuário trabalhe durante uma viagem. Outro ganho que a conectividade trará é a abolição de botões.

Quando o motorista entrar no carro, o sistema fará reconhecimento facial do motorista e aplicará todas as suas configurações e preferências na central de comando. Os comandos passarão a ser feitos por gesto. Já existe alguns modelos com essa tecnologia, como o Série 7, da BMW - mas em fase ainda bastante embrionária e falha.

Já a inteligência artificial será capaz de conversar com o usuário e aplicar ao carro todos os comandos do usuário. Experimentos com essa tecnologia já vêm sendo feitos em automóveis da BMW e Mercedes-Benz, com evoluções notáveis ano a ano.

Na corrida pelo carro conectado, as montadoras contam com aliados que vão além das sistemistas. Marcas especializadas em aparelhos eletrônicos vêm apresentando anualmente, na feira de tecnologia CES, em Las Vegas, protótipos com soluções de conectividade a bordo.

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O que tornará o carro conectado viável

De acordo com Marxen, da SAE, todas as tecnologias que vão possibilitar o cenário acima se tornar realidade estão prontos. Agora, é necessária a aplicação, para evolução e ganho de escala, além de uma forte preparação do entorno.

"O primeiro passo é a chegada da tecnologia 5G ao Brasil (na Europa, já está disponível)." No mês passado, a Claro promoveu evento no Allianz Parque, em São Paulo, para anunciar a implementação do 5G em território nacional. Na ocasião, demonstrou alguns de seus benefícios, entre eles a possibilidade de guiar um carro "no escuro", se guiando apenas por câmeras que projetam imagens em telas internas.

"O 5G vai possibilitar a velocidade necessária para a transmissão de dados entre carros e entre veículos e via, porque ela precisa ser muito grande", diz Marxen. "A latência (tempo entre a transmissão do dado e a chegada à antena) é muito baixa no 5G", explica. "Além disso, a velocidade é 100 vezes mais rápida que a do 4G."

Mas de nada adianta o 5G aplicado a bordo se o entorno não estiver conectado. É necessária a instalação de antenas de Wi-Fi por toda a extensão de rodovias e, em um segundo momento, em toda a área de cidades. As cidades inteligentes, que estão planejadas por montadoras e sistemistas, já vão nascer com esse tipo de conectividade.

Aqui no Brasil, a Arteris já tem um projeto experimental, com cobertura Wi-Fi em trechos de algumas rodovias. Outro desafio, segundo Marxen, é especificar um único padrão do sistema de conexão adotado pelas montadoras, para que todos os veículos possam conversar entre si e com a rede externa.

Quem define essa padrão é o governo. O Brasil costuma seguir diretrizes já homologadas em outras regiões do mundo - seja Europa, Estados Unidos ou Japão, como ocorreu no caso da TV digital.

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Conectividade de vanguarda

Já há alguns carros no mercado brasileiro com soluções inovadoras de conectividade. A inteligência artificial é usada no comando de voz dos BMW Série 3 e M 235i e dos Mercedes-Benz das famílias Classe A e GLE.

Por meio do comando de voz, os carros são capazes de cumprir pequenas funções, como selecionar músicas e estações de rádio, abrir e fechar o teto solar e mudar a temperatura da cabine. Os sistemas vão aprendendo com o usuário a medida que o escutam falar, para irem se tornando mais aptos a entender os comandos.

O sistema "Hey, Mercedes" evoluiu bastante em um ano. Lançado no Classe A, foi atualizado no recém-lançado GLE, e se tornou mais inteligente. Antes, era capaz de abrir as persianas do carro. Agora, efetua a abertura do teto solar.

Além disso, está totalmente conectado ao sistema GPS, o que tira do usuário a missão de ter de digitar endereços. Os mapas do navegador, aliás, já usam realidade aumentada. "Para que esses sistemas se tornem mais inteligentes, precisam ganhar escala, para irem aprendendo com quem usa. Só assim serão capazes de entender qualquer comando, sem precisar de frases prontas", diz Jonathan Marxen, da SAE.

Segundo os especialistas, já há centrais de inteligência artificial capazes de receber feedback sobre seus erros, para aprenderem a fazer melhor. Porém, elas ainda não foram lançadas comercialmente.

Outro que se destaca em conectividade é o BMW Série 7, cuja central multimídia tem comandos por gestos. Marxen destaca algumas soluções inovadoras de conectividade pelo mundo, já disponíveis ou em fase de implementação.

Na Europa, alguns shoppings estão se preparando para, em alguns anos, estacionar o carro sem intervenção humana. O motorista chega ao local, deixa o veículo (como se o estivesse entregando a um manobrista) e automóvel vai sozinho até a vaga.

Para viabilizar esse sistema, é necessária conexão entre o veículo e o estabelecimento. Além disso, o carro precisa ter algumas tecnologias autônomas de condução.

Iniciativas de conectividade

Ricardo Ribeiro/Colaboração para o UOL

Audi AI: ME

Na vanguarda da inteligência artificial, esse protótipo permite ao usuário utilizar movimentos dos olhos para comandar algumas funções. Durante a última edição da feira de tecnologia CES, em janeiro de 2020, em Las Vegas, visitantes puderam usar esse comando para encomendar comida.

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Panasonic

A empresa de aparelhos eletrônicos foi uma das primeiras a apresentar telas com realidade aumentada no para-brisa dos carros, para reprodução de imagens e vídeos. A marca também anunciou planos de contribuir para a instalação de rodovias totalmente conectadas nos EUA.

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LG

O protótipo que a LG apresentou no CES 2020 traz tudo o que a conectividade a bordo poderá oferecer ao usuário nos próximos anos. O modelo, com sistema de direção autônoma, tem reconhecimento fácil na porta, para aplicar as configurações do usuário. É conectado à casa de seu proprietário.

Por isso, com inteligência artificial, pode mostrar a ele, por exemplo, os melhores momentos de um jogo de futebol que era assistido em sua sala de TV, antes de entrar no carro, sem que o usuário nem mesmo precise dizer o que quer ver.

Toda a projeção de imagens é feita na tela de realidade aumentada que substitui o para-brisa, que também mostra informações sobre a situação do trânsito. O protótipo traz ainda um sensor capaz de ler as emoções de seus passageiros.

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