Eles são trambolhos barulhentos. Por vezes, assustadores. Rodam por São Paulo com suas carrocerias cheias de pontas afiadas e manchas de ferrugem. Raramente dão seta. A fumaça que expelem não está exatamente de acordo com parâmetros ambientais. O peso que carregam parece inviável para um veículo daquele tamanho e naquelas condições.
Eles são os malvadões do trânsito. Ao menos, na aparência. Chamam a atenção por onde passam. São transformers adaptados à penúria social brasileira. Sua única arma em potencial é a capacidade de transmitir tétano.
Mas precisamos deles. Sem esses megazords de baixo orçamento, nosso já deficiente sistema de coleta de material reciclado seria ainda mais deficitário. São eles que saem dos mais variados cantos da cidade para catar a caixa de papelão da sua TV nova na lixeira. Fazem o rolê por você. Ou por quem deveria estar fazendo.
Os catadores que usam carros antigos e "cortados" são a minoria da minoria em São Paulo. Eles compram modelos de 30 anos atrás, ou mais, e arrancam a parte traseira de suas carrocerias. No lugar delas, adaptam uma espécie de gaiola. Assim, carregam centenas de toneladas de papelão e outros materiais.
São trabalhadores que competem com carroceiros, empresas privadas de coleta e catadores que usam veículos (bem) mais modernos. Reciclam carros que a grande maioria de nós veria como uma carcaça sob rodas. E rodam dezenas de quilômetros todos os dias a bordo desses zumbis do mundo automotivo.
A reportagem do UOL Carros passou meses em busca de um "cortado" que aceitasse contar sobre sua rotina. Não foi fácil. Eles sabem que rodam à margem, quando não fora, da legalidade do código de trânsito. Mas conseguimos conhecer pelo menos uma parte desse universo. Contaremos como foi nesta reportagem.