UOL Carros
 
16/11/2008 - 08h01

Governo socorre montadoras e sustenta financiamento do carro zero

Da Auto Press
Atualizada às 15h47 de 17/11

O sonho não pode acabar. Em resposta a um previsível desaquecimento das vendas de automóveis, por causa da crise econômica internacional, o governo tratou de injetar combustível no mercado brasileiro. E já anunciou a liberação de R$ 8 bilhões -- R$ 4 bilhões via Banco do Brasil e outros R$ 4 bilhões via Nossa Caixa, banco estadual paulista -- para alimentar os financiamentos feitos por bancos de montadoras. A idéia é irrigar o setor de crédito para manter em alta a compra de automóveis zero-quilômetro -- e também a arrecadação de IPI, ICMS, Confis etc. A lógica é simples: a grande oferta de financiamento foi que provocou o "espetáculo do crescimento" do setor nos últimos dois anos -- mais de 70% das vendas foram via prestações, contra a média história de 50%.

"Acredito que o fluxo de crédito já comece a se normalizar só com esse anúncio", confia Jackson Schneider, presidente da Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos), apostando na força psicológica das medidas.

A iniciativa do governo de tentar frear a queda nas vendas de veículos se fez necessária -- porque os bancos privados adotaram posturas bastante conservadoras após a crise de crédito nos Estados Unidos e na Europa e passaram a "filtrar" mais cuidadosamente os financiados -- e é oportuna. Isso porque, apesar de os resultados não terem sido dramáticos, já deixaram a indústria alarmada. Outubro registrou um número de licenciamentos 11,5% menor que setembro. Foram 224.744 contra 254.182 automóveis e comerciais leves. Em relação a outubro de 2007, a queda foi de 3,3%. É pequena, mas emblemática. Foi a primeira queda nas vendas em uma comparação anual desde maio de 2006.

"A liberação do crédito dá um tempo a mais para respirarmos. Os novos recursos já começaram a ser canalizados para o varejo, com ações de vendas agressivas. É isso que as montadoras têm de fazer no momento", completa Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos). Com a chegada dos créditos, a expectativa é de retomar a confiança e pôr fim à incerteza que rondava o mercado e a cabeça dos consumidores. E as montadoras, de fato, já começaram a anunciar taxas de juros bastante convidativas e, mais importante, prazos longos, de até 60 meses.

Foto: Moacyr Lopes Junior/Arquivo Folha Imagem

Montadoras festejam ajuda como forma de desovar as 300 mil unidades que ainda estão nos pátios

Estes financiamentos são menos elásticos quanto os que vinham alimentando as vendas até a crise -- e que chegavam a até 84 meses. Possivelmente, os níveis anteriores de vendas não serão retomados. Mas, ainda assim, a atitude do Governo é vista com bons olhos. "A ajuda veio no momento exato. O crédito vai irrigar o mercado e os bancos, com as montadoras e a rede, anteciparão as campanhas de fim de ano, com taxas subsidiadas", reforça Luiz Montenegro, presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras).

A aposta de retomada do crescimento pelas compras a prazo tem fundamento. O índice de financiamento de carros por pessoa física quase triplicou de 2004 para cá. "Os bancos pegavam dinheiro lá fora, só que agora não têm mais essa opção. Por isso, as financeiras terão de praticar mais as taxas internas. E com os juros em alta, serão mais racionais", aposta Rogério César Souza, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). O volume da carteira de CDC (o Crédito Direto ao Consumidor) passou de R$ 38,1 bilhões, em 2004, para R$ 81,6 bilhões, em 2007. Desse montante, R$ 66,8 bilhões foram liberados para uso por pessoas físicas. E o resultado foram vendas recordes.

Em 2008, o volume da carteira cresceu para R$ 84,3 bilhões. Só que, no primeiro semestre, houve uma queda de 5,4% no total de recursos liberados em relação ao mesmo período de 2007. Em vez dos R$ 30,7 bilhões do primeiro semestre de 2007, foram disponibilizados "apenas" R$ 29,1 bilhões. Com isso, o financiamento, até então o grande fomentador do mercado de carros, perdeu força. "Houve avanço na venda à vista. Até o início do ano, eram aplicados prazos de até 84 meses. Depois, o período caiu para 72 parcelas e, agora, o máximo oferecido são 60 prestações", observa o consultor Arnaldo Pellizzaro, da ABI Consult.

ACELERADAS
- A Anfavea ainda crê que o mercado brasileiro fechará 2008 dentro das previsões, com 24,2% de avanço sobre os 2,46 milhões de licenciamentos em 2007, entre nacionais e importados. O que totalizaria cerca de 3 milhões de unidades.
- Se a parte financiada de cada veículo fosse de R$ 40 mil em média, somente o crédito liberado pela Nossa Caixa e Banco do Brasil viabilizaria a venda de 200 mil automóveis.
- Em um mês, as vendas por financiamento caíram de 65% (setembro) para 59% (outubro) do total. As compras de carros à vista passaram de 35% para 41%.
- Do total de veículos vendidos em 2007, cerca de 72% foram adquiridos por meio de compra a prazo. O financiamento ou CDC respondeu por 38% do volume, enquanto o Leasing ficou com 30% e o consórcio, 4% do mercado. O restante foi de compras à vista.
PIROTECNIA FINANCEIRA
Duas táticas prometem ser exaustivamente utilizadas neste fim de ano pelas montadoras: os feirões de fim de semana e as megapromoções. A liberação de R$ 4 bilhões pelo Banco do Brasil e de outros R$ 4 bilhões pelo banco paulista Nossa Caixa para as financeiras das marcas devem sustentar ofertas a taxas de juros e prazos ainda convidativos ao consumidor. É a última tentativa de manter o ritmo forte das vendas de carros no país em 2008 -- atualmente, calcula-se que há quase 300 mil unidades nos pátios das fábricas. "O objetivo é diminuir o estoque de veículos novos e seminovos", confirma José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da GM.

Além de feirões, com os que a GM promove, há também campanhas explorando taxas de juros menores. A francesa Citroën oferece financiamento com 50% de entrada e o restante em 24, 36 ou 48 prestações a juros de 0,49% ao mês. A compatriota Peugeot repete a taxa, mas apenas para 24 meses. A idéia é aproveitar ao máximo o crédito liberado pelo governo, até porque ninguém sabe o que pode acontecer em 2009. A previsão é de que as vendas caiam e o crescimento seja bem mais brando que nos últimos dois anos. "O mercado não depende só de crédito, mas também das expectativas do consumidor e do próprio bolso. Se a massa salarial regredir, a tendência é que o consumo caia, principalmente entre os bens duráveis", aponta Rogério César Souza, economista do Iedi.
(por Diogo de Oliveira)

Veja também

Carregando...
Fale com UOL Carros

SALOES