Jamie Oliver diz que só falta 'sócio perfeito' para abrir restaurante no Brasil

Marina Izidro

De Londres para a BBC Brasil

  • Arquivo pessoal

    O chef inglês Jamie Oliver

O chef britânico Jamie Oliver gosta de samba, feijoada e caipirinha e diz que para abrir um restaurante no Brasil, só falta achar um "sócio perfeito". "Definitivamente quero abrir um restaurante no Brasil, mas somente depois que eu achar o sócio ideal", disse Oliver à BBC Brasil.

"Já que eu não vou morar em outro país nem trabalhar na cozinha diariamente, o sucesso não vai depender de mim e é mais importante fazer coisas inusitadas e surpreender, ser audacioso na maneira de servir ou em como o restaurante vai ser." "E, claro, sobretudo é preciso focar na relação custo-benefício e em fazer as pessoas felizes. Encontre-me um sócio ideal –alguém que ame comida genuinamente como eu amo– e, quem sabe, teremos um restaurante no Brasil nos próximos anos", completou.

Ponte Brasil-Londres
Oliver nunca foi ao Brasil, mas sabe fazer feijão, moqueca e bolinho de bacalhau. E a ligação com o país não é por acaso. Há 15 anos, ele tem como amigo e braço direito o paulista Almir Santos.

Os dois se conheceram no fim dos anos 90, no restaurante londrino The River Café. Santos havia deixado a profissão de eletricista no Brasil para estudar inglês e Oliver era um chef iniciante de 19 anos, brincalhão e extrovertido. "Eu começava a batucar nos fundos da cozinha onde trabalhávamos, Santos se juntava e logo havia uns 15 brasileiros, cada um usando uma panela ou um copo e fazendo barulho", disse Oliver à BBC Brasil.

 

  • Arquivo pessoal

    Jamie Oliver e seu amigo paulista Almir Santos (à esq.)

 

"Os ingleses se juntavam também e de repente havia de 30 a 40 pessoas fazendo um som incrível. Era legal." Pouco tempo depois, Oliver se tornou uma celebridade; Santos permaneceu no The River Café e os dois continuaram próximos.

De amigo a patrão
O brasileiro passou de lavador de pratos a supervisor de cozinha, usando a experiência adquirida ajudando o pai, açougueiro e encanador, a matar cabritos, no quintal de casa, em São Paulo.

O amigo inglês virou patrão em 2001, quando Santos aceitou o convite para treinar a primeira turma de aprendizes do Fifteen, restaurante que se tornaria um dos mais badalados da cidade.

Hoje, com 49 anos, o brasileiro é coordenador do Food Team, responsável por desenvolver receitas para os programas de TV, livros e para a Jamie Magazine, entre outras funções.

"Ambos amamos comida, música e nos divertir, e sempre fomos muitos leais um ao outro. Ao longo dos anos, Santos me ajudou em praticamente tudo que eu fiz", disse Oliver.

O Food Team é apenas um dos braços da marca Jamie Oliver, que inclui os restaurantes Fifteen, Barbecoa, Union Jacks e a cadeia Jamie's Italian, além de programas de TV, livros e venda de produtos que vão desde macarrão e azeite a utensílios domésticos.

Midas
O "Midas" do mundo culinário tem um patrimônio estimado em cerca de R$ 290 milhões, de acordo com a lista das pessoas mais ricas da Grã-Bretanha feita pelo jornal britânico The Sunday Times.

Mas Santos garante que Oliver continua o mesmo garoto que conheceu no The River Café, e se derrete ao falar do patrão. "Ninguém consegue explicar a amizade que eu tenho com ele, porque eu não trato ele como uma celebridade que tem milhões no banco, eu o trato como um amigo", disse.

"É ótimo trabalhar pra ele." E os elogios não param por aí. "Ele é um cozinheiro fantástico"; "ele é aberto para conversar de tudo"; "ele tem um coração enorme". Santos diz ainda que Oliver "é um cara simples" e ajuda pessoas que nem sequer conhece. "Ah, e podem se passar 50 anos, ele nunca vai se esquecer de quem começou com ele."

Festas
Além do trabalho com o Food Team, Santos ajuda a cozinhar nas festas na casa de Oliver. De vez em quando, ensina um prato brasileiro. O bolinho de bacalhau é receita da mãe; a moqueca, da esposa baiana.

"Ele gosta do jeito como eu tempero as carnes, ele admira a 'mão' brasileira", brincou Santos. Para a festa de aniversário da sogra, no início do mês, Oliver escolheu um grupo de percussionistas brasileiros.

Pela janela, os convidados viam a primeira nevasca do inverno londrino, enquanto o samba pegava fogo do lado de dentro. A neve começava a bloquear as ruas, mas ninguém queria ir embora.

'Cercado de brasileiros'
Santos não é o único brasileiro nas cozinhas de Oliver. Seja nos restaurantes ou nos programas de aprendizes, sempre tem gente falando português.

"Os brasileiros trabalham duro e quase sempre são amáveis, genuínos e muito humildes", disse Oliver.

"Eu não gosto de pessoas reclamonas e os brasileiros nunca fizeram isso comigo – eles são pessoas positivas e felizes e, quando você trabalha por muitas horas seguidas, é isso que você precisa em uma equipe e em uma cozinha. É provavelmente por isso que vocês são tão bons no futebol", brincou.

"O interessante é que, nos últimos anos, os primeiros restaurantes brasileiros abriram aqui e as pessoas estão ficando empolgadas com isso – tenho certeza de que a comida brasileira vai se tornar a bola da vez em Londres", acrescentou.

Uma viagem ao Brasil está nos planos de Oliver para o ano que vem. Santos vai junto, claro.

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