Macio, escuro e adocicado, alho negro é o ingrediente da vez
AILIN ALEIXO
Colaboração para o UOL
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Divulgação
O alho negro combina com peixes e massas como o Spaghetti Triplo Aglio.
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Ele não é tingido com shoyu, não está impróprio para o uso e nem se trata de uma espécie geneticamente modificada. O alho negro é um alho normal, que passou por um processo de fermentação e envelhecimento de cerca de 25 dias (tempo no qual os açúcares e aminoácidos se unem, produzindo uma substância chamada melanoidina, responsável pela coloração) e tornou-se macio, adocicado e escuro.
Há muitas décadas o alho negro é consumido na Coréia, Tailândia e Japão por ser um alimento riquíssimo em antioxidantes, ajudar no combate ao colesterol e possuir propriedades anticancerígenas. Mas seu uso culinário é recente -- alguns afirmam que os japoneses foram os primeiros a utilizá-lo, em 2000 -- e popularizou-se rapidamente pelos EUA a partir de 2008, quando Scott Kim trouxe da Coréia um experiente produtor da iguaria. Com base nos ensinamentos do coreano, Kim criou e patenteou um tipo de estufa ideal para a produção e fundou a Black Garlic Inc. (www.blackgarlic.com), hoje a maior fabricante do produto no mundo.
Tanto fuzuê em torno do ingrediente tem razão de ser. Além de ser supersaudável, ele tem sabor suave, com toques doces de tâmara e ameixa, fundo defumado e consistência deliciosamente pastosa. Tudo isso chamou a atenção de um dos papas da gastronomia mundial, o chef espanhol Ferran Adriá. Em 2007, durante uma viagem ao Japão, Adriá conheceu o alho negro, adorou, levou para seu restaurante, El Bulli, e começou a criar pratos. Um ano depois, a famosa casa novaiorquina Le Bernardin também inclui o alho negro em algumas de suas receitas. Foi, aliás, um prato de Peixe-Sapo com Alho Negro provado lá que fez o chef José Barattino, do Emiliano, interessar-se pelo ingrediente e tornar-se o primeiro cozinheiro no Brasil a fazer, em outubro de 2009, uma receita com o alho: bacalhau com lascas de alho negro. Na época, ele precisava importar da Black Garlic Inc., pois não havia nenhum produtor brasileiro.
Mas isso mudou graças ao vício de outro chef, Carlos Bertolazzi, e a curiosidade da administradora Marisa Ono. Os dois se conheceram em 2007 através de uma comunidade de gastronomia no Twitter - Carlos havia trabalhado na cozinha do El Bulli e, entre outras coisas, selecionava as melhores cabeças de alho negro. Aquelas que não serviam, ele comia. Quando voltou ao Brasil, comentou sobre o ingrediente com Marisa, que, curiosa, foi pesquisar a maneira correta de produzi-lo. O tempo se passou, nunca mais falaram no assunto.
Em janeiro de 2009, Carlos recebeu pelo correio um envelope contendo seis cabeças de alho negro: Marisa havia construído uma estufa em seu sítio, em Ibiúna, e obtido um produto da mesma qualidade do americano. Hoje, Marisa tem capacidade para produzir 50 quilos de alho por mês e vende para pessoas físicas e restaurantes a R$ 100 o quilo. Ela também aceita encomendas, que podem ser feitas através do email marisaono@gmail.com.