Neste carnaval, siga a tradição e experimente uma canja depois da folia

RAFAEL MOSNA

Colaboração para o UOL

  • Rogério Cassimiro/Folha Imagem

Um alimento reconfortante, nutritivo e que ajuda a repor energias. Que tal uma canja depois da folia dos bailes de carnaval? A ideia nada tem de atual. Ela, na verdade, é uma tradição que remete aos tempos do Império brasileiro, segundo o historiador e professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi Ricardo Maranhão. "Nos bailes do segundo Império, como o imperador gostava muito de canja, criou-se a tradição de servir a sopa depois do baile, o que posteriormente migrou para outros tipos de festas", conta Maranhão.

A relação entre d. Pedro 2o (1825-1891) e a canja é famosa. No livro "A canja do imperador", o autor J. A. Dias Lopes relata que seria impossível calcular quantas vezes o soberano teria saboreado o prato em seus 66 anos de vida. No mesmo texto, explica a origem da sopa, que, oriunda da Ásia, chegou ao Brasil depois de ter feito uma escala em Portugal.

Hoje em dia, a canja é um alimento brasileiríssimo. A receita mais conhecida leva basicamente arroz, legumes e carne de galinha. Quem nunca ficou doente e foi aconselhado a tomar um prato substancioso de canja de galinha? Suas características revigorantes também podem explicar porque ainda encontramos o caldo depois dos bailes do carnaval em certas regiões brasileiras. "No interior, nas cidades do sul, sudeste e também nordeste, este costume ainda persiste", garante o jornalista Dias Lopes.

"No Rio de Janeiro, o carioca tem o costume de tomar a canja e outros tipos de caldos depois da bebedeira. A ideia é rebater os efeitos do álcool antes de ir para a cama", explica Celso Coelho Tavares Jr., sócio do Restaurante Café Lamas, tradicional local frequentado principalmente por boêmios no bairro do Flamengo. "A canja está em nosso cardápio desde que abrimos a casa, há 135 anos", conta.

No Clube Centro Avareense, na cidade de Avaré (SP), a canja nos bailes de carnaval começou a ser servida no restaurante, localizado no subsolo do salão principal, na década de 70. "A festa era muito grande e terminava com o amanhecer. A canja chegava como café da manhã e era uma verdadeira mania, todos queriam e havia até fila", lembra Elias Almeida Ward, 80, então diretor social do clube naquela época, cargo que ocupou por 20 anos.

Para a nutricionista Michelle Ferreira De Simone, da Clínica Perfetta, tomar um prato de canja depois de uma atividade física, como um baile de carnaval, é muito recomendável. "É um excelente alimento que ajuda na hidratação, rico em vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos para repor as energias perdidas durante a folia", explica. "Descobriu-se que além de nutritiva, a canja possui propriedades antiinflamatórias e pode ser uma ótima aliada na recuperação de doenças como gripes e resfriados, na recuperação do cansaço e também da ressaca".

Bruno Salles, integrante do grupo Partideiros do Cacique, nova geração do bloco carnavalesco carioca Cacique de Ramos, lembra do prato quando era criança e ia com seus avôs, Oscar e Olinda Zacarias, aos ensaios do GRES (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Em Cima da Hora. "Minha avó era responsável pelo departamento feminino, que sempre preparava, entre demais pratos, a canja para ser servida após os ensaios", conta. "A canja é um tipo de comida que, no samba, a pessoa come para melhorar seu estado, quando já bebeu e pulou a noite toda", considera Bruno.
 

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