Fizeram História

Bruno e Dom compartilhavam amor pela Amazônia e defesa de povos indígenas

Com a confissão do pescador Amarildo da Costa Oliveira de ter participado do assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, a investigação sobre o paradeiro da dupla se aproxima do desfecho. Bruno e Dom estavam desaparecidos na Amazônia desde 5 de junho.
Eles realizavam de barco o trajeto entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM) quando se tornaram vítimas da violência que se intensificou nos últimos anos na terra indígena Vale do Javari. Pereira e outros membros da ONG Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) haviam sido ameaçados por pescadores durante a viagem.
Joao Laet/AFP

Bruno e Dom são vítimas do projeto de Bolsonaro para a Amazônia. O que restou deles só foi encontrado porque os indígenas os procuraram desde o primeiro minuto. Todos os não indígenas têm uma dívida profunda com eles. Sempre tivemos, porque se ainda existe natureza aqui é pela resistência deles. Essa dívida se tornou ainda maior agora

Eliane Brum, jornalista e escritora,
Em entrevista a Ecoa
@crisvector/Reprodução
Bruno e Dom iam ao encontro de uma equipe de Vigilância Indígena para realizar entrevistas. Dom Philips preparava, desde 2021, um livro sobre soluções para manter a Floresta Amazônica em pé. A viagem, em que era acompanhado pelo indigenista, fazia parte das pesquisas para a obra.
João Laet/AFP
Bruno Pereira era servidor de carreira da Funai (Fundação Nacional do Índio) desde 2010. Pediu licença do órgão após ser exonerado da coordenação geral de indígenas isolados e recém-contatados em 2019, sem justificativa técnica. Defensor dos direitos dos povos indígenas, vinha trabalhando mais recentemente para a Univaja no monitoramento da terra indígena.
Bruno Jorge/Funai

[Bruno] era um escudo dos povos indígenas, porque fazia o enfrentamento aos invasores. Ele deu a vida para que houvesse a continuidade da proteção do nosso território. A morte dele é um símbolo para que a gente continue a nossa luta

Manoel Chorimpa,
líder indígena
REUTERS/Bruno Kelly
O jornalista inglês Dom Phillips vivia no Brasil desde 2007, colaborando com o jornal The Guardian e outros veículos estrangeiros. Interessado na Amazônia desde que chegou ao país, passou a ter o meio ambiente e a floresta como foco principal do seu trabalho nos últimos anos.
Joao LAET/AFP
Dom fez várias viagens à Amazônia para relatar a crise ambiental em curso na floresta e os impactos dela para os povos indígenas. Em 2019, ganhou projeção nacional ao questionar o presidente Jair Bolsonaro sobre a preservação do bioma em uma coletiva.
João Laet/AFP
No tempo livre, o jornalista também atuou como professor de inglês voluntário em projetos sociais nas favelas do Rio de Janeiro e na periferia de Salvador.
Reprodução

Se a execução de Dom e Bruno ficar impune, todos nós que lutamos pela floresta estaremos com um alvo na cabeça. Os executores são peões num jogo muito maior, é preciso encontrar, julgar e punir os mandantes. A mobilização por Dom e Bruno precisa seguir e se multiplicar pela vida de cada ameaçado de morte por defender a Amazônia

Eliane Brum, jornalista e escritora,
Para Ecoa
Publicado em 18 de junho de 2022.
Reportagem: Juliana Domingos de Lima
Edição: Paula Rodrigues

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