Como orientar meninos e meninas a dividirem igualmente as tarefas domésticas?
Por Julia Guglielmetti
"Não só os filhos e as filhas devem dividir as tarefas em casa, mas todos os que coabitam uma casa devem compartilhá-las de acordo com as suas limitações de faixa etária, condições físicas e de saúde", explica Michele Bravos, diretora-executiva do Instituto Aurora, organização que trabalha com educação em direitos humanos.
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Por que todos devem dividir as tarefas?
Incentivar a divisão de tarefas entre todos os membros da família contribui para transmitir uma mensagem de que o cuidado não é uma tarefa exclusiva da mãe.
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Importância social
"Quando entendemos o que a nossa responsabilidade, como cidadãos e cidadãs, é cuidar um dos outros, a gente estimula uma sociedade pautada em valores direcionados à reconstrução de vínculos. As tarefas domésticas podem ser um bom exercício para a prática disso", diz Michele
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Criando relações de respeito
Quando existe uma educação igualitária para meninas e meninos, contribuimos para uma relação de maior respeito e menor discriminação.
"O bullying, por exemplo, é uma forma de discriminação. O exercício das tarefas domésticas de maneira igualitária pode se refletir no espaço da escola, com uma redução dessas discriminações", comenta Michele.
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Redução de violência contra a mulher
A diretora-executiva do Instituto Aurora explica que a família tem um papel fundamental para educar meninos para uma masculinidade afetiva, menos tóxica e que não seja pautada na violência e na dominação. Ao estimular tarefas de cuidado aos meninos, existe uma grande possibilidade de transmitirmos esses valores.
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Empoderar meninas
Quando as meninas vêem suas tarefas compartilhadas com os meninos, é apresentado para elas as possibilidades que elas têm de viver suas múltiplas potencialidades e que cuidar da casa não é uma tarefa exclusiva das meninas.
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A estudante Annie Libert é mãe de um menino de 7 anos e de uma menina de 6. Ela faz questão que os filhos participem das atividades domésticas.
"Considero importante que a gente dê conta da nossa própria sujeira e que as crianças cresçam percebendo e incorporando a manutenção da casa no seu cotidiano. Eles têm construído consciência e senso de responsabilidade pelo coletivo do lar."
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Mas como orientar as crianças para cuidar da casa sem a divisão do que é "de menina" e do que é "de menino"?
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Criar uma rotina de manutenção
Respeitando as limitações em relação à idade das crianças, a família de Annie realiza uma rotina de manutenção em casa, em que a limpeza é feita aos poucos e constantemente. Todos são responsáveis pelo espaço de convívio comum.
"Abrir espaço para que os filhos percebam as demandas e se incluam nelas é um aprendizado bonito", comenta Annie.
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Estimular tarefas conjuntas
Pensar em tarefas que possam ser feitas em duplas ou grupos estimula a cooperação. Por exemplo, um pode lavar a louça enquanto o outro seca e guarda.
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Fazer listas de tarefas
Em casa, Annie faz uma lista de tarefas individuais junto com toda a família: "escrevemos o que cada um deve fazer dentro de seu próprio espaço ou com suas próprias coisas, como dobrar e guardar as roupas, arrumar a cama e guardar os brinquedos."
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Dar espaço para conversa
Ao ouvir uma reclamação, é importante gerar espaço para a conversa e um momento de aprendizado.
"Quando o menino reclama que 'lavar a louça é coisa de menina', é importante ouvir, questionar e explicar porque, na verdade, aquilo é coisa de quem vive em uma casa, que suja a louça porque fez comida", fala Michele.
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Atribuir significado às tarefas
Michele explica que é importante não delegar as divisões de tarefas sem uma explicação e sem atribuir um sentido. "É preciso explicar que o exercício de cuidado precisa ser praticado por todas as pessoas e que é importante o cuidado com os outros e com o meio ambiente. É legal mostrar que a nossa casa é uma representação pequenininha do que é a sociedade."
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Exercitar a paciência
Annie faz questão de dizer que está longe de fazer parte de uma família perfeita e que precisa constantemente exercitar a paciência para não fazer tudo sozinha em vez de ensinar.
"Precisamos nos policiar para não refazer as tarefas das crianças. É um exercício para nós, adultos", explica Annie.
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Ter persistência
"É uma luta diária educar crianças participativas", diz Annie, ao explicar ser comum que muitas atividades acabem sobrando para a mãe. "Na sociedade patriarcal em que vivemos, isso é uma escola diária e cansativa, tanto para nós quanto para eles. Mas os resultados valem o esforço, por isso seguimos tentando."
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Publicado em 08 de setembro de 2021.
Reportagem: Julia Guglielmetti Edição: Fernanda Schimidt