Fizeram História

Darcy Ribeiro quis arrumar o povo brasileiro

Por Marcos Candido

Darcy Ribeiro foi um dos maiores antropólogos brasileiros. Mas não só. É um imortal da Academia Brasileira de Letras. Foi romancista, educador, indigenista. Criou o Museu do Índio em 1953 e foi Ministro da Educação no governo João Goulart (1961 - 1964). É autor do "O povo brasileiro", obra de 1995 em que teoriza sobre a complexa formação étnica do Brasil. Por toda a vida, Darcy tentou decodificar e oferecer soluções para reverter o atraso do nosso país.
Nascido em 1922 em Montes Claros, Minas Gerais, Darcy foi filho de um farmacêutico e uma professora. Em 1942, abandonou Medicina para estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Em 1946, se formou em Antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
No ano seguinte, começou a trabalhar no SPI (Serviço de Proteção ao Índio) com indígenas no Pantanal e Amazônia. Em 1961, inaugurou e tornou-se primeiro reitor da Universidade de Brasília (Unb). Após 1964, fugiu para o exílio pela Ditadura Militar.
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro

Ideais

O antropólogo foi um dos maiores defensores do ensino universal e criticava a ausência de planos a longo prazo para a educação. Era crítico, por exemplo, do analfabetismo e da demora para criar grandes universidades no país. Para ele, a falta de um projeto nacional para educar os brasileiros era uma forma de perpetuar nossa extrema desigualdade social.
Darcy também foi Senador e um dos principais idealizadores do LDB, ou Lei de Diretrizes Básicas para a educação. A lei criou mecanismos de avaliação para o ensino, como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e fez novas divisões de etapas do ensino, como pré-escolar, ao ensino fundamental e médio, e ampliou a autonomia das universidades.
Senado Federal

A crise da Educação no Brasil não é crise, é projeto

Darcy Ribeiro,
em fala de 1977, na PUC-SP
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
Em 1995, lançou o "O povo brasileiro", obra em que encerra a coleção de seus "Estudos de Antropologia da Civilização". Na obra lançada pouco antes de morrer, Darcy se pergunta "por que o Brasil não deu certo?". Para isso, analisa o choque entre os colonizadores e os saberes dos povos originários e dos escravizados da África.
Tarsila do Amaral

Quem é o povo brasileiro para Darcy?

O antropólogo divide o Brasil entre crioulo (do litoral de São Luís ao Rio de Janeiro e era muito influenciado pela África), o Brasil caboclo (região Norte com a Amazônia e os indígenas), o sertanejo (como o sertão nordestino e a caatinga), o caipira (centro-oeste, sudeste, com influência da cidade de São Paulo) e sulino (mamelucos vivendo em uma área muito rica e fértil, os pampas gaúchos, e com forte interferência europeia).
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
Os indígenas são um pilar fundamental na obra de Darcy. Como indigenista, batalhou pela proteção dos povos originários em nossa terra. É um dos idealizadores do então Parque do Xingu, que mais tarde foi chamado de Território Indígena (TI) do Xingu. A criação serviu como modelo para modelo de proteção territorial e respeito à cultura indígena em nosso país.
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
A mistura de culturas gerou o que Darcy chamava de "ninguendade": um povo diverso entre si, com raízes e antepassados pouco claros ou colonizados que precisam criar uma identidade brasileira, ao mesmo tempo estranha e unificada em uma identidade.
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro

Temos aqui duas instâncias. A do ser formado dentro de uma etnia, sempre irredutível por sua própria natureza, que amarga o destino do exilado, do desterrado, forçado a sobreviver no que sabia ser uma comunidade de estranhos, estrangeiro ele a ela, sozinho ele mesmo. A outra, do ser igualmente desgarrado, como cria da terra, que não cabia, porém, nas entidades étnicas aqui constituídas, repelido por elas como um estranho, vivendo à procura de sua identidade

Darcy Ribeiro,
Antropologo, em "O povo brasileiro"
Na década de 90, formatou uma fundação que leva seu nome. Dezenas de escolas no Brasil carregam seu nome. No dia 19 de fevereiro de 1997, morreu em Brasília devido a um câncer. Boa parte de suas frases e ideiais continuam atuais.

Minha luta como político é contra a desigualdade social em meu país, a enfermidade principal dos ricos brasileiros, que é a sua indiferença diante do sofrimento do povo. Tenho tão nítido o que o Brasil pode ser, e há de ser, que me dói demais o Brasil que é

Darcy Ribeiro
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
Publicado em 12 de dezembro de 2020.
Reportagem: Marcos Candido
Edição: Fernanda Schimidt

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