Fizeram História

Gloria de Souza transformou escolas na Índia e inspirou educadores no Brasil

Por Juliana Domingos de Lima

Professora e empreendedora social indiana, Gloria de Souza provocou grandes transformações no sistema educacional da Índia a partir dos anos 1970: introduziu uma nova metodologia de ensino nas escolas, calcada na experiência, no protagonismo dos alunos e na educação ambiental.
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Souza nasceu em 1937 em Goa, estado do oeste da Índia colonizado por Portugal. Ela atuou por décadas como professora primária em Mumbai (atual Bombaim), uma das maiores cidades do país. O modelo passivo de aprendizagem, então vigente, a incomodava: baseado na memorização, era um resquício colonial que amortecia a mente dos alunos.
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Seu incômodo começou a se converter em ação em 1971, quando participou de uma oficina sobre aprendizagem experiencial e educação ambiental. A professora foi apresentada a metodologias mais ativas e interessantes que passou a utilizar com seus alunos.
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Em vez de ficar na sala de aula decorando o que estava nos livros, os alunos de Souza foram levados para excursões nas quais observavam os monumentos e a natureza e discutiam questões relacionadas à história, à sociedade e ao meio ambiente.
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A essa abordagem ela deu o nome de estudos ambientais, e, de início, enfrentou a desaprovação de colegas e da administração escolar. Esta barreira foi vencida com a persistência de Souza e a resposta positiva dos estudantes. Em alguns anos, os métodos da professora passaram a ser usados na escola.
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Mas a ambição da professora foi além de transformar apenas uma escola. Vendo que a metodologia tinha ensinado as crianças a pensar por si mesmas, questionar e resolver problemas, seu desejo era expandi-la para outras escolas, incorporando essas práticas ao currículo escolar nacional.
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Souza decidiu, então, dedicar-se em tempo integral a concretizar essa visão. Em 1982, fundou a ONG Parisar Asha, dedicada a disseminar a abordagem dos estudos ambientais e levar ensino de qualidade especialmente para crianças pobres.
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No mesmo ano, ela havia se tornado a primeira "fellow" da Ashoka, organização fundada em 1980 na Índia pelo norte-americano Bill Drayton. Desde então, a ONG que apoia empreendedores sociais e seus projetos se espalhou para mais de 95 países, incluindo o Brasil.
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Souza passou a trabalhar para demonstrar empiricamente o impacto positivo dessa nova abordagem sobre os alunos. Em 1985, a administração municipal de Mumbai concordou em adotá-la em caráter experimental em 1.700 escolas. O programa foi um sucesso e nos anos seguintes os estudos ambientais passaram a integrar o currículo nacional da 1ª à 3ª série.
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A educação deve mostrar às nossas crianças a dádiva da aprendizagem exploratória, a confiança que vem da construção da descoberta de pontos fortes, a esperança que vem de ver os problemas -- quando enfrentados, em vez de temidos --, tornarem-se desafios que requerem soluções criativas

Gloria de Souza,
professora e empreendedora social indiana
Por meio da rede formada pela Ashoka, Souza transmitiu seus conhecimentos e experiências a empreendedores sociais do mundo todo. Ela esteve no Brasil nos anos 1990 e, segundo Valdemar de Oliveira Neto -- membro da Ashoka que teve contato com a professora nessa visita -- ajudou a inspirar mudanças para tornar a capacitação de professores mais horizontal e colaborativa no país.
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A professora morreu em 2013 aos 75 anos, mas sua ONG segue atuante. Milhões de crianças e dezenas de milhares de professores já foram alcançados por suas ações, que transformam escolas por meio dos estudos ambientais e capacitam professores para aplicar a metodologia.
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Publicado em 05 de março de 2022.
Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Edição: Fernanda Schimidt

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