Fizeram história

Valery Legasov, o homem por trás do protagonista de Chernobyl, minissérie da HBO

Catástrofe continental

Em 1986, a explosão do reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, teve um impacto catastrófico. Matou 31 pessoas no momento imediato do acidente e outras milhares que acabaram expostas à radiação.
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Os efeitos foram percebidos em toda a Europa. O drama poderia ter sido ainda pior não fosse o químico russo Valery Legasov, líder da comissão de investigação sobre as causas do acidente e o principal responsável pela contenção dos danos.
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Obcecado por diminuir o número de vítimas, o cientista, que à época era vice-diretor do prestigiado Instituto Kurchatov de Energia Atômica e tinha 41 anos, foi quem permaneceu por mais tempo em Chernobyl. Embora tenha sido autorizado a passar apenas duas semanas na região, prolongou a estadia para quatro meses.
A exposição à radiação deflagrou sérios danos à sua saúde: debilitou o sistema imunológico, causou perda de peso, enjoos, cansaço entre outros problemas.
IAEA Imagebank Photo Credit: USFCRFC

A população acima de tudo

Antes mesmo de começar o trabalho, o cientista pediu ao governo soviético a imediata evacuação da população de Pripyat, cidade mais próxima à usina. O governo, no entanto, demorou dois dias para atender ao pedido.
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O cientista também pediu o cancelamento da celebração de 1º de maio, Dia dos Trabalhadores, em Kiev. Acreditava que o vento poderia levar quantidades perigosas de radiação para a cidade.
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Para esconder a dimensão do desastre dos olhos do mundo, no entanto, a União Soviética decidiu manter a celebração. As milhares de pessoas que compareceram ao desfile não faziam ideia do que havia acontecido.
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Novo risco

Depois do 4, outros três reatores corriam o risco de explodir. Legasov elaborou um plano para impedir novos acidentes: helicópteros despejaram uma mistura de areia, chumbo, argila e boro sobre a usina. Assim, o vazamento radioativo foi neutralizado
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Falha humana

Quatro meses após a explosão, Legasov apresentou um relatório à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e revelou a principal causa do acidente: falha humana. Os trabalhadores da usina não tinham treinamento necessário para operar o reator.
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Na noite do desastre, sob a supervisão do engenheiro-chefe Anatoly Dyatlov, eles realizaram um teste de segurança não autorizado, o que acabou resultando na explosão.
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O modelo do reator (RBMK) também colaborou para a explosão, pois não cumpria os requisitos para operar em segurança. Em toda a União Soviética, outros 16 reatores como aquele ainda estavam em operação, denunciou Legasov.
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Golpe à reputação

Legasov foi reconhecido internacionalmente por sua honestidade ao detalhar as causas do acidente. O destaque, porém, enfureceu a União Soviética, que tentava a todo custo encobrir a dimensão da catástrofe.
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Ele acabou sendo boicotado pelo governo soviético e seus planos para evitar outros desastres como o de Chernobyl foram ignorados. A saúde de Legasov piorou drasticamente. Ele parou de comer e não conseguia mais dormir

"Tudo dentro de mim está queimado"

Valery Legasov,
em suas memórias
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Suicídio

Em 27 de abril de 1988, dois anos e um dia depois do desastre, Legasov se enforcou no escritório que mantinha em sua casa. O químico deixou fitas gravadas em que denunciava a pressão que sofreu do governo soviético para não revelar ao mundo as principais causas do acidente.

Herói póstumo

Demorou dez anos para que Valery Legasov fosse condecorado por suas ações em Chernobyl. O cientista foi premiado postumamente como herói da Rússia pelo então presidente Boris Yeltsin.
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Cidade fantasma

Na época do acidente, a evacuação de Pripyat foi anunciada como temporária, mas os moradores nunca mais voltaram para suas casas. Só em 2011 a cidade foi reaberta apenas para visitação. O fluxo de visitantes tem aumentado desde o lançamento da série da HBO.
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Eu sabia que a cidade tinha sido evacuada para sempre, mas não encontrei forças para contar isso ao povo. Além disso, se disséssemos que eles não voltariam, levaria muito tempo para fazer as malas.

Valery Legasov,
em suas memórias
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Diana Carvalho

Reportagem

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