Agenda Marielle Franco: Do discurso à prática
Hoje faz 30 meses desde que Mari e Anderson foram assassinados naquele fatídico dia 14 de março de 2018. São mais de 900 dias buscando respostas e justiça, ainda incompletas, e tentando levantar a cabeça e seguir, mesmo diante de uma perda tão brutal, covarde e desumana para a nossa família. Já tentei de muitas formas, mas não é possível descrever com palavras os sentimentos que tomaram a nossa família no dia 14 de março de 2018.
Dor. Silêncio ensurdecedor. Grito preso na garganta. Os piores pensamentos que podem passar na cabeça de alguém. Não tivemos tempo para chorar em família. Imediatamente me vi empurrada pelo destino a proteger minha mãe, meu pai e Luyara de todo o assédio que a imprensa e pessoas de todos os lugares do planeta produziam. Na sociedade adoecida em que vivemos, a urgência da notícia, a necessidade da foto, a vontade de lacrar e lucrar pareciam mais importantes do que o respeito a uma vida estraçalhada na sua frente. Diga-se de passagem, eu recebi fotos de minha irmã com a cabeça perfurada pelos tiros ainda naquela noite. Podem imaginar o quanto isso dói?
Durante o processo de pensar em seguir em frente, eu sabia que a nossa vida nunca mais voltaria a ser a mesma, porque a Mari não teria como voltar fisicamente. Mesmo diante disso - dos holofotes, da apropriação, da dor -, nós sentimos sua presença o tempo todo. E sentimos o seu chamado. Nada faria mais sentido do que dedicar nossas vidas a ela. Para honrar o nome de uma mulher que virou semente, uma mulher que venceu adversidades, e também para honrar a história de nossa família e nossos valores, nós criamos o Instituto Marielle Franco, um lugar onde nossa ancestralidade possa ser imortalizada legitimamente. Afinal, era o meu sangue ali derramado.
Escrevo aqui hoje tocada pela dor da saudade, da nostalgia que me arremete toda vez que procuro em minha memória e nos porta-retratos espalhados pela casa o sorriso daquela que sempre foi luz em nossa família. Mas escrevo também porque esses 30 meses marcam a véspera da primeira eleição municipal sem ela, por aqui, entre nós. São quatro anos desde sua eleição histórica no município do Rio de Janeiro, que a levou a ser eleita para seu primeiro e único mandato na Câmara de Vereadores com mais de 46 mil votos, mais de 46 mil pessoas que confiaram nela.
Sua entrada na câmara, além de estruturalmente importante para a luta das mulheres negras do país, inaugurou a possibilidade de enxergarmos uma outra forma de fazer política. Baseada em princípios como afeto, transparência, abertura e coletividade. O fazer política e o jeito de atuar da Mari são dos maiores seus maiores legados para todos os corpos que ocupam ou vão ocupar a política institucional nesse país.
Dessa forma, depois de muito ver e ouvir pessoas que se dizem alinhadas com a trajetória de Marielle, mas que na prática não materializam o seu jeito de fazer, agir e construir, decidi que umas das missões de nosso Instituto - dentro de sua atuação nas eleições municipais - seria sistematizar o legado de Mari e transformá-lo em uma agenda de práticas e políticas voltados para candidaturas que desejassem se comprometer e também para eleitoras e eleitores que acreditam numa outra forma de se fazer política, mais coletiva, com cuidado, humildade e respeito.
A proposta principal desta agenda é reforçar que o trabalho legislativo deve ir além da proposição de projetos de lei. O trabalho de uma parlamentar deve acontecer, principalmente, por meio da escuta e troca com quem a cerca. Para trazer isso, em formato de uma agenda, resgatamos aprendizados de quem a cercava, bem como quais as pautas prioritárias de políticas públicas que Marielle defendia, além de práticas cotidianas de sua mandata.
Este esforço é uma forma de não apenas fazer valer o que Marielle acreditava, como também, potencializar as inúmeras sementes que estão vindo disputar esse espaço tão hostil e cruel que pode ser a política institucional. Nosso intuito, é visibilizar candidatos, candidatas e candidates que estejam dispostos a se comprometer com o legado de Marielle, na prática.
Eu tenho um sonho. Esse sonho se projeta quando enxergo a necessidade de transformarmos o discurso em prática. Política, como a Mari gostava de falar, não é uma palavra vazia de significado, mas cheia de subjetividades antirracistas, interseccionais, feministas, faveladas, LGBTQIA+. Estas subjetividades irão moldar um novo mundo, onde nossos corpos se façam presentes e alinhados com a transformação que queremos. Acreditamos que um novo futuro para as nossas favelas, bairros e cidades é possível, mas só se todas, todos e todes nos comprometermos a fazer isso acontecer. Se você é candidata/o ou eleitora queremos que você se comprometa com esta agenda política. Acesse agora a Agenda Marielle Franco e vamos juntas, juntos e juntes construir o futuro que queremos.
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