Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Que nenhuma mãe perca seu filho e que nenhuma filha enterre sua mãe
Na semana passada batemos o marco de 400 mil vidas perdidas no Brasil por covid-19. Não tem sido um ano fácil pra nenhuma pessoa nesse país, mas principalmente para os mais vulneráveis. Ver esses números e não pensar em quantas mães, filhos, pais, tios, irmãos, perderam algum ente querido, é impossível. Nossas dores têm sido muitas. Nossas perdas são irreparáveis. Pensar em quantas famílias foram destruídas pela pandemia e o quanto as datas comemorativas, que, na minha família, sempre fazemos questão de lembrar, serão diferentes esse ano com uma sensação de vazio e tristeza.
No próximo domingo será dia das mães, esse será meu primeiro dia das mães com minhas duas filhas e o quarto sem a Marielle passando junto com nossa mãe. Para minha sobrinha, Luyara, será também mais um momento de dor. Por isso, hoje, decidi ceder o espaço da coluna para uma carta que Luyara escreveu para Marielle em um dos dias das mães desses mais de três anos de ausência.
A semana começa e a saudade aperta.
Maio foi quando ela anunciou e conversou conosco que seria candidata.
A campanha foi linda, cheia de afeto e limpa. Maio chega.
Mais um mês e um dia na selva de pedras.
Tenho medo de chegar a noite.
Hoje me deparei com mais uma foto nossa que me deu uma saudade enorme.
Tenho crises de choro. Tenho medo do futuro. Tenho lembranças que me aquecem.
Mas é isso. Mais um dia.
O medo às vezes me paralisa. Esse medo danado que continua a me invadir.
Queria poder voltar no tempo, mas a cada dia que passa eu perco as esperanças.
As pessoas são desumanas.
Acho que nunca entenderei o motivo pelo qual tiraram minha mãe.
Há pouco mais de três anos eu perdi minha mãe, e hoje tenho que lutar diariamente para que essa dor não me paralise.
Mãe, de onde quer que você esteja, olhe por mim.
Mais um dia das mães chegando e eu só queria você aqui.
Que nenhuma mãe perca mais seu filho e que nenhuma filha tenha que enterrar sua mãe. A ordem da vida não pode se inverter de forma tão abrupta, ao ponto do segundo domingo de maio passar a ser motivo de choro e não mais de celebrações. O que eu desejo hoje, para Luyara, e para todas as pessoas do mundo, são dias mais amenos, vacina, saúde, amor, paz, datas comemorativas felizes com mesa farta e certeza de dias melhores.
Mães são seres que deveriam ser eternizados. Um feliz dia das mães para todas aquelas mulheres que lutam para sobreviver e darem o melhor aos seus filhos sempre.
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