Estamos prontas para ocupar as assembleias legislativas de Norte a Sul

Começa nesta semana a primeira fase do projeto Estamos Prontas, iniciativa de fortalecimento de mulheres negras pré-candidatas a deputada estadual realizada pelo Instituto Marielle Franco e o movimento Mulheres Negras Decidem. Com mais de 200 inscritas de todo o país e com mais de 50 entrevistadas, enfim chegamos aos nomes de todas as apoiadas nas cinco regiões do Brasil e nossa jornada já tem data para começar. Nesta quarta-feira (27), o ciclo formativo Estamos Prontas terá sua aula de abertura.

Com o tema "A trajetória e consolidação do Movimento Negro e do Movimento de Mulheres Negras na cena pública brasileira" e ministrada por Wania Sant'anna, historiadora e pesquisadora de relações raciais e de gênero, e ex-secretária de Direitos Humanos do Rio de Janeiro na gestão Benedita da Silva. O encontro fará a apresentação da trajetória e consolidação do Movimento Negro e do Movimento de Mulheres Negras na cena pública brasileira ao longo dos últimos trinta anos, com exposição dos principais conceitos e perspectivas do feminismo afrolatino-americano com base nas formulações de Lélia Gonzalez.

Ao todo, foram selecionadas pré-candidatas negras à deputada estadual das 27 unidades federativas do Brasil. Nosso projeto visa fortalecer habilidades para construção de campanhas eleitorais de nível estadual na perspectiva de uma agenda política antirracista, feminista, antilgbtfóbica e popular. Com o objetivo de estimular e fortalecer a maior participação de mulheres negras na política institucional e influenciar a opinião pública sobre a contribuição fundamental das mulheres negras e o seu legado para o processo democrático do país, o projeto Estamos Prontas irá oferecer apoio para desenvolvimento de habilidades por meio de encontros virtuais realizados entre os meses de abril e julho, que irão abordar temáticas essenciais ao processo eleitoral brasileiro e ao legado histórico da participação de mulheres negras na política institucional, como: História do Movimento Negro e do Movimento Negro Feminista, Direito Eleitoral, Captação de Recursos, Comunicação, Gestão de Recursos, Segurança Digital e Física, Saúde Mental e Autocuidado, Formação de Rede e Articulação Territorial.

Atualmente, as mulheres negras ocupam apenas 2% de cadeiras no Congresso Nacional, ao mesmo tempo em que representam o maior grupo demográfico do país, representando mais de 28% da população brasileira. Nosso projeto apresentará opções a deputadas estaduais em todos os estados brasileiros. Para dar uma pequena prévia de quem são essas mulheres, falarei hoje de cinco dessas pré-candidaturas presentes em cada uma das regiões do Brasil. Nossas lideranças dão conta da complexidade do que é ser uma mulher negra que luta pelos seus direitos na política institucional.

Esse é o caso, por exemplo, de uma de nossas representantes da região Norte, Suane Brazão, liderança do Amapá. Suane é quilombola, defensora de direitos humanos que teve sua trajetória marcada por um episódio de feminicídio, quando sua irmã foi assassinada em 2016. Suane atuou em iniciativas de mulheres negras amazônidas quilombolas e ribeirinhas, sempre tendo como referência o território do Amapá. Tornou-se referência sobre o tema "Amazônia Negra", chegando a receber o título de utilidade pública. Débora Marcolino, liderança do Alagoas, da região Nordeste, hoje também é liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e vive no município de Flexeiras. É uma mulher negra de 45 anos e ingressou no MST no final de 1997 e no Partido dos Trabalhadores (PT) pelo qual irá concorrer em 1998.

Lucilene Kalunga é a representante do estado de Goiás, na região Centro-Oeste. Lucilene também é quilombola e se divide entre a capital Goiânia e seu território no município de Cavalcante, o Quilombo Kalunga. Considerado o maior quilombo em extensão territorial do Brasil, Kaluga reúne três comunidades quilombolas com cerca de 600 famílias. Lucilene foi Secretária Municipal de Igualdade Racial em Cavalcante - Goiás (2009 - 2010), e em 2010 realizou o 1º Encontro de Cultura Negra Kalunga no município de Cavalcante. Foi também coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Goiânia e coordenou o projeto Parlamento Jovem.

As representantes de Minas Gerais, região Sudeste, do Estamos Prontas não poderiam ser diferentes, a pré-candidatura coletiva Mulheres Negras Sim é formada por Juhlia Santos, Lauana Nara e Tainá Rosa. Juhlia foi candidata a deputada estadual nas eleições de 2018 pelo PSOL — mulher negra trans, é ativista pelos direitos da população transexual e travesti no estado de Minas Gerais com forte atuação na cena cultural. Já Lauana é ativista pelos direitos humanos, mãe e assistente social, assim como Tainá, também mãe, professora de história e ativista pelo enfrentamento ao racismo. Juntas, as três pretendem levar temas como direitos da população LGBTQIA+, direitos humanos e direitos das mulheres para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

No Rio Grande do Sul, na região Sul do país, Laura Sito é o nome do projeto Estamos Prontas. Laura é jornalista, servidora municipal de Porto Alegre, mãe e atualmente é vereadora na cidade de Porto Alegre, onde é vice-presidenta do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Aos 29 anos, Laura foi a vereadora mais jovem e primeira mulher negra a compor a mesa diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, faz parte da primeira bancada negra da história da cidade.

O Brasil precisa dar uma resposta ao tanto de ódio e retrocesso que avançou em nosso país nos últimos quatro anos. Desde o assassinato de Marielle, que segue, após mais de 1500 dias, sem resposta. Nós não temos um dia de paz, e isso só piorou desde que Bolsonaro e todos seus políticos apoiadores foram eleitos. A sociedade brasileira terá a chance de dar uma resposta a essa onda de ódio e essa resposta deve vir a partir da eleição de mulheres negras, como Marielle, como tantas de nós, em cada canto desse país.

Conheça todas as pré-candidatas selecionadas por região a partir do dia 27 de abril, acessando o site estamosprontas.org e ficando ligada nas redes sociais do Instituto Marielle Franco, do movimento Mulheres Negras Decidem e do projeto Estamos Prontas.