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Anielle Franco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falar Marielle, fazer como Marielle: Não seremos interrompidas!

Instituto Marielle Franco - Divulgação
Instituto Marielle Franco Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

22/08/2022 06h00

O primeiro dia da campanha eleitoral (16/08/2022), terça-feira da semana passada, foi um dia histórico por ter tantas mulheres negras sentadas à mesa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Brasília. Eu e a equipe do Instituto Marielle Franco, junto às organizações Terra de Direito e Raça e Igualdade, entregamos ao ministro Edson Fachin e à Ministra Maria Claudia Bucchianeri, coordenadora do TSE Mulheres, uma carta com 5 mil assinaturas de organizações e de pessoas que querem proteção para que as mulheres negras candidatas estejam seguras nestas eleições.

A carta, que faz parte da campanha "Não Seremos Interrompidas", liderada pelo Instituto que leva o nome da minha irmã, reivindica principalmente a articulação dos canais de denúncia existentes e o cumprimento da Lei de Violência Política pelos partidos. O TSE, enquanto a instância jurídica máxima da Justiça Eleitoral brasileira, tem um papel fundamental na urgência do enfrentamento à violência política de gênero e raça no Brasil.

Diante disso, dentre outros pontos, conseguimos iniciar uma parceria para a aplicação do protocolo de encaminhamento de denúncias do Ministério Público Eleitoral pelas organizações presentes, a fim de efetivar um atendimento unificado às mulheres vítimas de violência política e contribuindo para um diagnóstico nacional que sirva para a melhoria das políticas públicas atualmente existentes. O ministro Fachin também elogiou as presentes na reunião por não terem se calado e terem continuado na luta por Marielle, por isso acrescentou que estaria orgulhosa de nós.

Foi um dia emocionante e importante para demarcar a construção de uma agenda da Justiça Eleitoral com participação ativa da sociedade civil a longo prazo. Sabemos também que o período de campanha eleitoral está apenas começando e já estamos imersas num cenário grave de ataques antidemocráticos, fake news e discurso de ódio contra candidaturas de mulheres negras defensoras de direitos humanos.

A violência política procura precisamente impedir e retirar as mulheres negras dos espaços de poder e decisão, espaços que historicamente nos foram negados. Sem a nossa presença e sem a construção de políticas para nosso povo não podemos falar em democracia, porque democracia não é apenas ter o direito de votar, mas é também não sermos mais sub-representadas, é também sobre alternância de poder. E é por isso que a nossa campanha Não Seremos Interrompidas é constante e continuamos nossa luta para inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, LBTQIA+ e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade por um mundo mais justo e igualitário.

Mas este não é nosso único sonho: lutamos para multiplicar o legado deixado por Mari, para que o trabalho construído por ela e pela sua equipe seja espalhado e concretizado em todos os cantos do país. A gente sabe que essas eleições são decisivas para o futuro do Brasil: queremos trabalho, comida na mesa, saúde, educação, cultura, preservação da terra e do meio ambiente, justiça racial e de gênero. Por isso, vamos lançar a Agenda Marielle 2022, que é uma sistematização realizada com a participação de diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil a partir das propostas e modo de fazer política de Marielle, que foram transformados em uma agenda sólida que poderá ser aderida por inúmeras candidaturas estaduais e nacionais de todo o Brasil.

Em 2020, já tínhamos sistematizado o legado de Marielle em pautas e práticas a partir da sua atuação no âmbito municipal. Neste ano, ampliamos a Agenda Marielle Franco para os cargos do legislativo e executivo estaduais e federais. Então, esta semana vocês precisam conferir este conjunto de compromissos políticos antirracistas, feministas, populares e LGBTQIA+ pautado nos horizontes políticos de Mari, cujo legado é a saída prática e ferramenta política para reconstruir o país do futuro. Mais que falar sobre Marielle, precisamos fazer como Marielle! Fiquem ligadas nas nossas redes e vamos juntas alcançar o Brasil que queremos.