Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Candidatos, negros não são massa de manobra para angariar votos e verbas
Não somos invisíveis!
Qual é o real compromisso com uma luta antirracista nessas eleições?
O primeiro debate eleitoral presidencial aconteceu ontem e trouxe com ele uma prova real do Brasil de 2022. A notória ausência de temas tão importantes para nós, negros e negras, foi um marco desse momento. A falta de representatividade foi outra marca do evento.
Não ouvimos uma palavra sequer sobre racismo, genocídio do povo preto, violência política, assassinato de mulheres negras, mulheres trans e travestis, assassinato de uma vereadora negra que choca e desestabiliza uma democracia inteira e o apagamento de pessoas negras em espaços de decisão.
Como não bastasse tudo isso, fica notório também o descompromisso com uma agenda antirracista por parte dos organizadores do evento, visto que não se viu jornalistas negros e negras compondo o quadro de entrevistadores.
Que mensagem é explicitada neste histórico quadro de formulação de debates eleitorais? Salta aos olhos que após séculos de escravidão e escrutínio social do povo negro, líderes políticos não tenham assumido um real e efetivo compromisso com uma agenda de direitos que passe, antes de tudo, pelo sistema de representação como uma forma de combater e, quem sabe, eliminar o racismo.
Estamos legitimamente cansados e cansadas de servir apenas para somar números ou figurar em fotografias eleitoreiras que manipulam nossos sentidos e ignoram nossas necessidades: quando faremos parte do protagonismo político de maneira coletiva?
Se há algum compromisso antirracista, seja por parte de candidatos ou por parte de organizadores de debates compromissados em desnudar e confrontar velhos sistemas e narrativas políticas, este precisa vir a público.
Vale lembrar que negros e negras são 56% da população brasileira. Ao mesmo tempo, são alvos de 75,7% dos homicídios, correspondem a 71,7% dos jovens que abandonam a escola no Brasil e são 70% dos afetados pela fome, apenas para citar alguns exemplos, segundo dados do Cesec, Rede Penssan e Ação Cidadania. Não podemos ser vistos somente como massa de manobra para angariar votos e verbas em determinados espaços e depois sermos esquecidos ou até mesmo aniquilados.
Não somos invisíveis. Somos um povo de luta e ressignificação que merece respeito e espaço!
Somos e exigimos nosso lugar de luta e representatividade. Como afirmamos em campanha da Coalizão Negra Por Direitos no ano passado: com racismo não há democracia. É urgente democratizar, reformular e mudar a política desse país a partir dos nossos corpos. Não queremos que façam por nós. Temos condições, capacidade, direito, autonomia e conhecimento suficientes para fazermos com nossos corpos. Pois nosso corpo é político!
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