Beatriz Mattiuzzo

Beatriz Mattiuzzo

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Qual a relação entre o mar e as enchentes?

O calor atípico no Sudeste e no Centro-Oeste, as chuvas que não param no Sul do país e as altas temperaturas do mar no Nordeste estão todos conectados: são resultado do aquecimento do oceano e do bloqueio atmosférico.

No Brasil, as principais frentes frias vêm do sul, trazendo ventos gelados desde a Antártida. Mas, desde o final de abril, esses ventos não conseguem passar de Santa Catarina, promovendo um verão fora de época do Paraná ao Mato Grosso do Sul. É como se os sistemas meteorológicos ficassem paralisados, com uma massa de ar quente e de alta pressão estacionada no Sudeste, e cada frente-fria (zonas de baixa pressão) que tenta avançar bate nessa massa, não consegue perfurá-la e acaba despejando toda a chuva que carrega no próprio Sul.

Além dos ventos enfraquecidos em diferentes níveis da atmosfera, o aquecimento do oceano potencializa esse bloqueio. Mês após mês, temos registrado temperaturas recordes no oceano, e águas mais quentes são um fator a mais para impedir que as frentes frias avancem - além de também contribuírem para o branqueamento em massa dos corais no Nordeste.

Até então, boa parte do país estava se deixando levar pelo calor fora de época ou curtindo as águas quentinhas, mas fomos lembrados de maneira trágica que a situação não está nada boa. As imagens das enchentes históricas no Rio Grande do Sul trazem sobretudo a sensação de impotência em um planeta que está mudando.

Com uma situação que deve demorar a normalizar no Sul, é preciso solidariedade para lidar com os problemas urgentes (e os canais de doação estão aí), mas sem esquecer do problema importante: a necessidade de uma mudança estrutural de como lidamos com um planeta em emergência climática.

Os eventos climáticos extremos são uma realidade e diversos estudos e relatórios, como o relatório Brasil 2040, já indicavam isso, bem como apontavam soluções. Mas as esferas de poder, em seus vários níveis, continuam a ignorar isso - vide o "Pacote da Destruição" tramitando no Congresso.

Que a gente doe, que a conta das instituições na linha de frente suba mais rápido que o nível da água - e que saibamos aproveitar a onda de empatia para lutar pelos próximos anos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.