Japão merece medalha de ouro em hipocrisia ambiental
Se você está acompanhando os jogos olímpicos e torcendo para o Brasil, é bem provável que o Japão tenha te tirado do sério nos últimos dias. O mesmo aconteceu comigo, mas por motivos bem diferentes.
Enquanto comemoramos o aumento de baleias na nossa costa, o maior defensor de baleias do mundo está detido na Groenlândia por um pedido internacional de prisão feito pelas autoridades japonesas.
Paul Watson, um dos pioneiros do Greenpeace, sempre buscou resolver os problemas na prática, sem se importar com quem incomodaria. Por diversas vezes, isso significou se atirar na frente de barcos de caça às baleias para impedi-los. Na década de 1970, suas táticas combativas o levaram a sair do Greenpeace e fundar a Sea Shepherd, uma organização mundial que até hoje usa ações diretas e táticas de guerrilha para parar a matança de baleias.
A proibição internacional da caça às baleias só ocorreu em 1986, por meio da Comissão Baleeira Internacional (IWC, na sigla em inglês) e depois que algumas espécies foram quase extintas. Algumas nações, contudo, nunca pararam de fato com a prática em seus próprios territórios, alegando tratar-se de um costume cultural ou criando outros meios de se justificar.
O Japão, por exemplo, criou um programa científico autorizado pela Comissão Baleeira e seguiu capturando algo entre 200 e 1.200 baleias por ano com a justificativa de que precisava matar os animais para coletar dados e verificar se estão ameaçados ou não - no mínimo, paradoxal. A carne das baleias mortas para os estudos podia então ser comercializada.
A justificativa científica nunca foi aceita por organizações ambientais como a Sea Shepherd, que continuou a seguir e monitorar os navios 'científicos' da frota japonesa. Ao longo dos anos, conflitos foram se somando, com acusações crescentes.
De um lado, ambientalistas denunciando as falsas pretensões do Japão; e, de outro, os navios japoneses alegando terem suas atividades atrapalhadas pelas ações da Sea Shepherd. Em um dos episódios mais complicados, em 2010, um então ativista da organização de Paul Watson embarcou ilegalmente em um barco japonês e acabou preso. Paul foi considerado cúmplice do ocorrido e, em 2012, a Interpol emitiu um Alerta Vermelho, pedindo a detenção do famoso ativista.
Segundo a organização ativista, o alerta não estava mais ativo no site da Interpol há alguns meses - seria um novo mundo, onde vemos mais valor nas baleias vivas?! Não foi bem assim: o alerta foi omitido mas ainda era válido, criando uma falsa sensação de segurança para Paul Watson, que acabou detido quando parou para reabastecer em um navio na Groenlândia.
A Dinamarca recebeu no dia 31 de julho o pedido oficial de extradição de Paul Watson para o Japão. Agora está nas mãos do Ministério da Justiça da Dinamarca a decisão, que agora pode ser tomada a qualquer dia.
A Sea Shepherd começou uma petição online para pressionar pela soltura do líder e diversos famosos já manifestaram sua indignação pela prisão. Tamara Klink, velejadora que recentemente se tornou a primeira mulher a passar o inverno no ártico sozinha, fez uma manifestação no local.
Nas Olimpíadas de 2021, Tóquio quis mostrar ao mundo o Japão como sendo um exemplo de sustentabilidade. No país, a maior parte da população já não consome e não apoia a fortemente subsidiada indústria de carne de baleia. Será que o Japão dará um exemplo de reconhecimento das diferenças dignas dos esportes ou está apenas buscando uma medalha de ouro em hipocrisia ambiental?
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