Estamos viciados no fim do mundo
Se olhamos para o céu em busca de inspiração, não é surpresa que a camada de fumaça que cobre as estrelas tenha transformado em fumaça nossa capacidade de sonhar. Vivemos uma crise de esperança, ao mesmo tempo em que a ideia de fim do mundo é um produto lucrativo, como evidenciam os inúmeros filmes hollywoodianos sobre o tema.
Nós compramos a ideia de apocalipse enquanto o sistema de produção atual fez o que faz de melhor e conseguiu monetizá-la. Afinal, "you only live once" e "bora viver como se não houvesse amanhã", não é mesmo?
E esse é o tipo de negacionismo mais perigoso. O negacionismo de quem não vai contra o óbvio, não questiona fatos científicos, mas segue a vida esperando as ameaças desaparecerem magicamente. O nosso negacionismo de quem só respira fundo e segue a vida - como se respirar fundo não fosse, de repente, dolorido.
Para alguns, o negacionismo pode ser uma estratégia de ganhar dinheiro. Eles escolhem só lucrar sem pensar em quantos ou quem será impactado amanhã. Mas para gente como a gente, o colapso ambiental deveria ser o primeiro pensamento ao olhar pela janela durante a manhã.
E, sim, isso passa por fazer mudanças individuais de comportamento e consumo, porque é por dentro que se começa. É começar por parar de negar que negamos, como diria Eliane Brum. Eu sei que é chato ter que lembrar de usar uma ecobag ou deixar de comer carne - mas não respirar é MUITO mais chato.
É aceitar que estamos ajudando a financiar o desmatamento e queimadas quando deixamos nosso dinheiro nos grandes bancos - e passar a colocar em investimentos de impacto como o Grupo Gaia ou a Trê Investimentos. É deixar de comprar na Shein para consumir local - mesmo que isso seja um pouco mais caro. É buscar coletivos para lutar pelo mundo que a gente quer, e cobrar os candidatos dos municípios por políticas ligadas ao clima. Até porque, já deu pra perceber que um dia as cidades alagam e, no outro, queimam. O Vote pelo Clima apresenta as candidaturas que estão se alinhando com essa causa.
Do mesmo jeito que a ciência hoje tem dificuldades em entender como as queimadas se espalharam tão rápido, em velocidades não previstas antes; a ciência ocidental também não entendia como alguns povos ancestrais tinham tanto sucesso na regeneração de florestas e áreas costeiras - até começar a ouvi-los e incorporar seus saberes.
Que a gente não passe mais tempo viciado em falar do fim do mundo do que apoiando e criando soluções para adiá-lo.
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