No ritmo da destruição: rolling stones e a exploração de petróleo
Os rolling stones estão no Brasil. Poderia ser só mais uma atração do Rock in Rio, mas os astros aqui são um pouco diferentes: pedrinhas, nódulos calcários que literalmente rolam no fundo do mar (o que gerou o trocadilho com a banda) e são chamados de rodolitos em português. Você pode se perguntar por que se importar com pedras centenas de metros abaixo da superfície do mar. Bom, porque é o rolar delas que decide nosso futuro.
Os rodolitos são feitos de algas calcárias acumuladas ao longo de séculos em forma de nódulos e podem ser de uma ou várias espécies de algas. Quando muitas dessas bolinhas estão juntas num mesmo local, temos um banco de rodolitos.
No Brasil, esses ambientes atuam como sumidouros de carbono e têm papel fundamental no ciclo biogeoquímico do carbono no Atlântico Sul, por capturarem e armazenarem carbono em estruturas estáveis. Dessa forma, além de contribuírem para a regulação do clima, sustentam uma biodiversidade marinha única e servem como habitats cruciais para várias espécies.
Ainda assim, todos os anos presenciamos uma desenfreada tentativa de expansão da indústria de combustíveis fósseis nos bancos de rodolitos dispostos em várias bacias sedimentares brasileiras, como se nada fossem.
Em 2021, por exemplo, a ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás) realizou a 17ª Rodada de Licitação de Petróleo e Gás Natural, ofertando 92 blocos de exploração em 4 Bacias: Potiguar (Nordeste), Campos, Santos (Sudeste) e Pelotas (Litoral de Santa Catarina). Em Santa Catarina, os blocos estavam localizados em cima de alguns dos principais bancos de rodolitos do país. Na ocasião, o Instituto Internacional Arayara mobilizou uma ação civil pública e conseguiu com que a 6ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis suspendesse a oferta dos blocos e exigisse a realização de estudos ambientais sobre os ecossistemas.
A vitória, no entanto, não garante a proteção a longo prazo - e áreas com bancos de rodolitos continuam sendo incluídas em novos processos licitatórios. No edital liberado recentemente para revisão pública temos diversas áreas sensíveis em jogo: a Cadeia Vitória-Trindade, bancos isolados próximos a Abrolhos e o Grande Sistema Recifal Amazônico (GARS) são alguns deles.
No contexto global de transição energética, a exploração de recursos fósseis enfrenta o desafio de conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental. É um velho dilema que cada vez fica mais atual: a crise climática está aí, mas talvez nem as enchentes, nem a seca e nem a fumaça que cobre 60% do país seja suficiente para convencer alguns grandes investidores do petróleo.
Os ambientes submersos são tão valiosos para o clima quanto qualquer floresta em terra firme, afinal as algas produzem grande parte do oxigênio que respiramos e explorar petróleo neles é quase como colocar fogo na Amazônia - e a gente já viu e sentiu onde isso vai dar né?! Cof, cof.
* Vinícius Nora e Kerlem Carvalho e são representantes do Instituto Internacional Arayara
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