Beatriz Mattiuzzo

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Opinião

Com o aquecimento global, vivemos um cenário de imprevisibilidade prevista

Eu entendo o choque dos meteorologistas falando do último furacão que chegou à Flórida, o Milton.

Como uma pessoa ansiosa, minha cabeça costuma trabalhar com o pior cenário - e ter planos imaginários de como lidar com as piores situações ajuda a trazer uma estranha calma, de estar preparada. Isso não tem sido muito possível ultimamente.

Vivemos um estranho cenário de imprevisibilidade prevista, causada pelo aquecimento do planeta.

Quem acompanha minimamente os modelos de aquecimento do oceano sabe que teremos furacões e tempestades cada vez mais fortes. Convenhamos, não é a primeira vez que ouvimos isso.

Também sabíamos que esse seria um ano de secas e de queimadas no Norte e Nordeste do país, mas a dimensão dos problemas ultrapassou nossa capacidade de nos preparar.

Para quem se dedica aos tópicos da mudança do clima, é sempre uma mistura de "eu avisei" e "a ciência já mostrava" com "isso ainda está muito diferente do que imaginamos". A gente sabia que ia ser ruim, mas quão ruim?!

Por isso, o Milton assusta pela sua imprevisibilidade - mesmo que tenha sido identificado, o processo todo foi um pouco fora do comum, tanto no modo como o furacão ganhou força quanto como perdeu.

E pasmem: quando os estragos não foram tão grandes, apareceram teorias de conspiração para dizer que o furacão foi fabricado, um produto da mídia e do governo. Já vi coisas parecidas acontecerem na comunidade onde eu moro: em março de 2022, tivemos deslizamentos de terra e enchentes que duraram dias e todo mundo reclamou da falta de ação pública. Em março deste ano, quando chuvas tão fortes como as de 2022 estavam na previsão, o governo emitiu muitos alertas, colocou equipes a postos e decretou ponto facultativo - mas quando a chuva não caiu como previsto "era só porque queriam um feriado".

Temos décadas de dados e bases enormes que nos permitem fazer previsões em modelos confiáveis e que indicam um planeta no mínimo 1,5°C mais quente; mas não podemos esperar previsões exatas, pois nunca operamos de fato num planeta mais quente. Às vezes a vida real será melhor que o previsto, às vezes pior. De qualquer forma, não há dúvida de que a prevenção é o melhor remédio.

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E não se engane: como disse um amigo, Milton é o nome de um homem branco e negacionista que defende continuar a queima de combustíveis fósseis a qualquer custo, sem se importar por onde vai passar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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